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Egoísmo é a palavra da moda

Por Igor Serrano

Na primeira semana de julho de 2020, mesmo com o pico da pandemia no Brasil e o número de mortes diárias frequentemente atingindo quatro dígitos, os noticiários das TVs e sites da internet reportaram em looping imagens dos bairros cariocas do Leblon e da Barra da Tijuca, onde pessoas sedentas por confraternizar e tomar um chopp se aglomeravam como se não houvesse amanhã, desrespeitando todos os protocolos médicos previstos para o momento e até ironizavam a fiscalização que tentava dispersá-los.

No futebol, a mesma semana também trouxe profundos acontecimentos. Após a edição da polêmica Medida Provisória, inconstitucional sob alguns aspectos, as transmissões não inéditas via streaming (um Atletiba recente já havia sido feito desta forma) pautaram a discussão sobre o esvaziamento e até a extinção dos campeonatos estaduais, algo que vinha sendo tratado de forma tímida e parece ter ganho o apoio que faltava. Ecos nesta natureza se instauraram por vários “clubes grandes”. E aqui vale parênteses: o dirigente ou diretoria de um clube de futebol é livre para buscar aquilo que julga melhor para as finanças e a melhor  administração da sua instituição, da mesma forma que o jovem do Leblon e da Barra é livre para ir e vir, em tempos democráticos, para onde quiser, se respeitado o direito alheio e a segurança de todos. A decisão tomada em ambos os casos tem respaldo, o problema é a forma como se executa e como afeta os demais envolvidos.

A não ser que seja um eremita no alto de uma montanha, não se vive sozinho. É impossível não viver em sociedade. Por mais individualista que alguém seja, em algum momento vai ter e precisar do contato de outrem. Logo, se o jovem não tem apreço pela sua vida e de sua família, que faça algo a respeito sem pôr em risco aqueles que, ao contrário dele, não têm a opção de não estar na rua em tempos da maior crise médico-sanitária das últimas gerações. Da mesma forma os clubes que, por motivos que só eles podem justificar, decidem não ter mais interesse em disputar competições hoje tratadas como sem apelo (mas até bem pouco tempo atrás como grandes conquistas), podem buscar a melhor alternativa para si, mas sem esquecer que existem muitos outros que só possuem aquela competição para disputar, os “clubes pequenos”. Estes alimentam todo um ecossistema, entre atletas profissionais de futebol, comissões técnicas, funcionários, que contam com os campeonatos para seu sustento. Além de serem responsáveis por revelar frequentemente jogadores que atuarão nos chamados “clubes grandes”.

Assim como a juventude dos bares não consegue fazer tudo, absolutamente tudo, em suas vidas apenas com quem pense igual a si, os clubes que não querem mais estaduais “atrapalhando” seu planejamento, não conseguem jogar o ano inteiro apenas entre eles ou administrar toda a estrutura de suas categorias de base até o time profissional sem precisar de outros.

Não há como escolher viver em sociedade apenas quando convém.

Igor Serrano é advogado, pós-graduado em Direito Desportivo e autor do livro “O racismo no futebol brasileiro”.

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(“Um conto de natal” – Walt Disney Pictures; todos os direitos reservados)

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