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Elitização do futebol: cada vez mais distante das camadas populares

Bruno Martins[1]

Pamela Romana Lacerda[2]

O esporte movimenta bilhões de dólares por ano e, a partir do seu carro-chefe, o futebol masculino profissional – vislumbrado como um verdadeiro negócio -, opera os mais diversos interesses dos integrantes de sua cadeia de funcionamento.[3]

A partir do aumento do custo dos equipamentos, das taxas de participação, gastos das equipes profissionais, patrocínios, altas taxas de transferência e salários milionários, tem-se uma majoração dos ônus envoltos ao futebol.[4]

Como um desdobramento natural decorrente deste grande fluxo de caixa envolvidos em todas as suas vertentes, nota-se que o futebol cada vez mais cria distância das camadas populares. Em síntese, as entidades do desporto passam a ser norteadas pela busca de maiores cifras[5] para sustentar um sistema baseado nas riquezas e na maximização de lucro. Entre as consequências do aumento do custo do lado da oferta, há também a prática de assinaturas de streaming mais caras, produtos menos acessíveis e até os ingressos a preços mais elevados.

Como um marco para análise de elitização do desporto, tem-se a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Mundo de 2014, realizadas, ambas, em solo brasileiro. Com esses eventos internacionais sendo sediados no Brasil, tem-se investimentos que foram realizados para manutenção e melhorias para a adequação nos padrões da FIFA e, para tal, ocorreu um aumento substancial nos preços e no acesso ao torcedor a esses eventos. Ainda, em específico, é tido que a adequação do Maracanã aos padrões da FIFA para a Copa do Mundo de 2014 gerou uma descaracterização de sua ‘monumentalidade de massa’[6], ou seja, afastou as camadas populares que frequentavam os eventos desportivos de um dos estádios mais famosos do mundo.

Mais adiante, tem-se a Copa América de 2019, também sediada em território brasileiro, que à época, era conhecido como país do futebol. Como um evento intercontinental e “extraordinário”, tem-se a expectativa aumentada em relação ao evento em si e, ainda, em relação a presença de público, com fins de completude com espetáculo.

Contudo, não foi o que ocorreu, incidindo, assim, em diversas críticas e reflexões. Nas palavras do jornal ‘El país’, “ingressos caros e arquibancadas em silêncio refletem a cruzada da Conmebol para higienizar o futebol sul-americano com público elitizado[7]. Em outras palavras, o evento acabou não sendo abraçado pelo povo justamente pelos preços encarecidos dos ingressos, ocorrendo, assim, o distanciamento do futebol com as classes mais populares, que são justamente a sua base. De um lado, o contribuinte que custeou os investimentos é predominantemente humilde, mas só a aristocracia fruiu de tal forma de entretenimento.

Partindo para análise da conjuntura atual, a situação acerca da elitização do futebol se tornou quase insustentável. A título exemplificativo e extremamente recente, temos a final da Copa do Brasil de 2023, disputada entre Flamengo e São Paulo. No final do jogo da ida no Maracanã, no qual o São Paulo logrou-se vencedor pelo placar de 1 x 0, o telão do Maracanã noticiou a enorme renda com o jogo de R$ 26.343.300 milhões, tendo em vista o preço dos ingressos variando entre R$ 400,00 e R$ 4.500,00 para o público em geral[8]. Essa foi considerada, inclusive, a maior renda com bilheteria do futebol brasileiro[9].

Deste modo, permanece um desafio sobre como elaborar um balanceamento entre (i) os interesses das entidades desportivas em maximizar lucros e os (ii) altos valores que circulam o mercado de futebol, seja com gastos, salários, taxas de transferências, patrocínios, equipamentos, entre outros.

Portanto, o ponto principal é que o atual cenário de exclusão das classes populares no futebol acaba por se tratar, inclusive, de uma contradição história, pois a origem do futebol é justamente formada majoritariamente pelas camadas mais populares da sociedade e que, por isso, necessita de imediato saneamento.

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[1] Graduado em Direito pelo IBMEC-RJ e membro pesquisador do GEDD-IBMEC.

[2] Graduada em Direito pelo IBMEC-RJ e membra coordenadora e pesquisadora do GEDD-IBMEC.

[3] RAMOS, Carlos Henrique. Direito Processual Desportivo: O uso da Arbitragem para resolução de conflitos no futebol. Curitiba: Editora CRV, 2019, pag.19

[4] RANZANI, Lucca. A ELITIZAÇÃO NO FUTEBOL. Disponível em: < https://contrapontodigital.pucsp.br/noticias/elitizacao-no-futebol>. Acesso em 16.09.2024

[5] A título de curiosidade, os ingressos passaram de um preço médio de 9,50 reais em 2003, quando o salário mínimo era de 240,00 reais, para 38,00 reais em 2013 (OLIVON, Beatriz. Em 10 anos, ingresso de futebol sobe mais que salário mínimo. Disponível em:< https://exame.com/economia/ingresso-de-futebol-sobe-mais-que-salario-minimo/>. Acesso em 16.09.2024.

[6] CASTRO, Demian Garcia. “O Maraca é nosso!”: da “monumentalidade das massas” ao “padrão-FIFA” : neoliberalização da cidade, elitização do futebol e lutas sociais em torno do Maracanã. 2016. 259 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: < https://www.bdtd.uerj.br:8443/bitstream/1/16396/2/Tese%20-%20Demian%20Garcia%20Castro%20-%202016%20-%20Completa.pdf>. Acesso em 16.09.2024

[7] PIRES, Breiller. A gentrificação do futebol explica os estádios vazios. Disponível em: < https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/17/deportes/1560787922_770992.html>. Acesso em 16.09.2024

[8] MANIAUDET, Guilherme; SILVA, Leandro. Flamengo x São Paulo quebra recorde de renda da história entre clubes no futebol brasileiro. Disponível em: <https://ge.globo.com/espiao-estatistico/noticia/2023/09/17/flamengo-x-sao-paulo-quebra-recorde-de-renda-da-historia-entre-clubes-no-futebol-brasileiro.ghtml>. Acesso em 16.09.2024.

[9] MANIAUDET, Guilherme; SILVA, Leandro. Flamengo x São Paulo quebra recorde de renda da história entre clubes no futebol brasileiro. Disponível em: <https://ge.globo.com/espiao-estatistico/noticia/2023/09/17/flamengo-x-sao-paulo-quebra-recorde-de-renda-da-historia-entre-clubes-no-futebol-brasileiro.ghtml>. Acesso em 16.09.2024.

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