Em entrevista, Ana Paula de Oliveira, presidente da Comissão de Árbitros da Federação Paulista de Futebol, conta como foi o trabalho desenvolvido com os árbitros durante o período de isolamento em função da pandemia, o que está sendo feito desde o dia 15 de julho em Águas de Lindoia onde estão concentrados e permanecerão até o final do Paulistão, o protocolo para os jogos e ainda o VAR centralizado para as fases finais do campeonato paulista.
Renata Ruel: Ana, como foi o trabalho realizado com a arbitragem durante o período de isolamento social em função da pandemia?
Ana Paula: Nós começamos este momento no dia 16 de março, ali a primeira atitude nossa foi reunir os instrutores, os membros da comissão pois, o nosso desafio era manter esse grupo unido, bem informado e ativo. Então, a partir daí, a gente começou de uma maneira muito simples que foi análises de vídeos por questionários: os árbitros analisavam os vídeos como se fosse um vídeo teste, mas no quesito mesmo de análise, além disso era necessária a justificativa, porque era para estimulá-los a se manterem estudando e, os vídeos eram os deles no campeonato paulista.
Passado um período, nós entendemos que só isso não era o suficiente e precisava de contato direto. Foi então que surgiu a ideia da live “De cara com a Ana”, onde a comissão entendeu que deveria abrir para que os árbitros fizessem perguntas. No primeiro momento a conversa aconteceu com os quadros da A1, A2 e A3. Depois nós abrimos para o quadro básico e fizemos também com os analistas.
Daí surgiram as lives técnicas, físicas e psicológicas. Por exemplo, na parte física fizemos ciclos monitorados, a cada semana iam informações do que eles deveriam fazer, tanto num espaço pequeno como num espaço maior. Trabalhos na parte cognitiva também, foram feitos exercícios para manter concentração, foco, atenção dividida. A nossa comissão teve também uma iniciativa de ligar para todos os árbitros, foram mais de 600 ligações para saber como estava cada um neste momento novo, nós nos preocupamos com o humano, além do trabalho como árbitro.
Nas lives técnicas emplacamos um questionário, onde o departamento de Ciência e Estatística que hoje trabalha com a gente, detectou que o ideal era propor uma atividade por semana para cada grupo, junto com um bate-papo. Foi um momento de nos reinventarmos como professores, utilizando o ensino à distância. Com a série A1 eu consegui trabalhar em cima de uma possível breve retomada, na A2 e A3 problemas específicos das categorias e na base até um trabalho voltado na escola, esmiuçando a regra para essa categoria que era mais carente.
Nos reinventamos como gestão, como produto de ensino, nos reinventamos como olhar para esse árbitro então foi um crescimento mútuo.
Renata Ruel: Com a notícia da retomada do Paulistão, o que passou a ser feito?
Ana Paula: Com a notícia da retomada do Paulistão, nós já tínhamos um trabalho bem alicerçado tanto na parte física como na técnica, estávamos semiprontos, mas precisávamos de uma concentração. Porque concentração é você tirar esse profissional que estava 100 dias isolado, trazer para o ambiente deles. Agora estamos com três campos aqui na concentração em atividade full time. Criamos uma divisão de seis grupos: foram selecionados 36 profissionais (árbitros e árbitros assistentes). As atividades são feitas em dois turnos. Fica um grupo por campo, ou seja, não tem aglomeração. Um campo só para tratar de questões técnicas, então estou trabalhando o físico com o técnico e dois campos só para trabalhar a parte física, um voltado mais para força, velocidade e intensidade, o outro mais voltado para o CORE respeitando a particularidade de cada árbitro. Estamos tendo o cuidado de controle de carga. Nas primeiras noites as aulas foram on-line, seguindo à risca o protocolo, com os árbitros isolados nos seus quartos. Na segunda semana entramos na segunda fase do protocolo, que é trabalhar com o pessoal mais próximo, porém respeitando o distanciamento de 2 a 3 metros, sem ser cada um no seu quarto.
Renata Ruel: Qual é o protocolo que está sendo utilizado para essa retomada?
Ana Paula: Primeiro quero agradecer ao presidente Reinaldo por toda essa estrutura, onde foram feitos dois testes da Covid-19 com os árbitros, o primeiro de PCR – tipo de exame de diagnóstico da doença – dez dias antes da concentração, o outro dois dias antes (13 de julho), porque poderia ocorrer de alguém ficar contaminado nesse intervalo, o que ocorreu. Nós tivemos no primeiro teste um caso positivo, de 44 árbitros. Fomos para o reteste, por medida de segurança e, um profissional que no primeiro não tinha acusado, testou positivo e este profissional já estava conosco para a seleção pois, a gente selecionou 36 dos 44 pautados em excelência técnica, comprometimento com as atividades durante o período de isolamento, conhecimento e curso VAR, porque teremos o VAR na segunda fase do Paulistão. Não tinha como ter os 44 árbitros até por questão de segurança, mas o Daniel Luis Marques que estava entre os 36 acabou testando positivo, uma perda para nós! Mas o grupo está muito unido. O sentimento aqui é de que nós estamos trabalhando pelos 44 e pelos 600 árbitros paulistas. Então, o mínimo que podemos fazer pelo Daniel é um bom trabalho, não só por ele, mas por todos os profissionais que não puderam estar aqui.
A gente fez um trabalho de segurança, prévio, forte. Fizemos um monitoramento a cada 3 dias com preenchimento do questionário epidemiológico, que foi proposto pelo comitê de médicos da Federação Paulista para verificar se teve coriza, tosse, febre ou não. Estamos com uma médica do esporte aqui 24h, não só para questões físicas, como para controle da Covid-19 e os árbitros foram testados duas vezes antes de chegarem aqui.
Teremos uma zona azul de acesso nos estádios, onde só entrarão atletas e árbitros. Então, neste primeiro momento, não haverá um teste atrás do outro. Vamos monitorar. Os árbitros receberam kits com máscara e álcool gel, os copos são individuais, tem álcool gel em todo lugar, o cuidado preventivo está sendo feito. Fizemos a locação de oito veículos, cada equipe vai usar um carro para ir aos jogos e quando esse carro retornar passará pelo processo de higienização.
Se alguém apresentar algum sintoma, vamos encaminhar imediatamente para fazer o teste, até porque não podemos pensar só no profissional, mas também em toda equipe que está aqui concentrada.
Outro ponto positivo é que estamos trabalhando com um formato torneio, então a gente começa dia 22 (retomada das partidas), onde esses profissionais vão para os jogos e no dia 27 teremos um primeiro corte de árbitros, de 36 ficarão 26. Vamos para as quartas de final, terminado essa fase dos 26 árbitros passarão a ser 16 e estes ficarão conosco até o dia 08 de agosto (término do Paulistão).
Os assessores de arbitragem serão online, tendo todo um trabalho de jogo prévio e uma devolutiva individual online. Na concentração faremos uma devolução geral com todo o grupo, com os pontos positivos e a melhorar para a próxima rodada.
Os árbitros vão sair da concentração com todos os cuidados, de agasalho, com máscaras. O aquecimento e o jogo sem máscaras, mas em todos os outros momentos os árbitros as usarão.
Renata Ruel: O VAR (árbitro de vídeo) será centralizado a partir das quartas de final?
Ana Paula: Tudo indica que o VAR será centralizado (na sede da Federação Paulista), a sala do VAR já está pronta, montada. Nós estamos discutindo agora as questões voltadas para a tecnologia. Vamos testar o VAR centralizado já no dia 22 e 23 de julho, na 11° rodada, para verificar quais são os pontos que ainda podem ser aprimorados para as quartas de final no dia 29. Estamos trabalhando duro para o VAR centralizado ocorrer no dia 29. Estamos treinando os árbitros, testando tecnologia e vamos fazer tudo com muita segurança para melhor atender aos clubes, ao telespectador, ao público. Então, estamos trabalhando para um Paulistão com o VAR centralizado sim.
Renata Ruel: Tem mais alguma coisa que gostaria de compartilhar?
Ana Paula: Tivemos a notícia da retomada da A2, então já estou pensando nessa retomada, esperando que seja um cenário mais flexível. Que seja um processo mais tranquilo para todos, jogadores, comissão técnica, arbitragem, mas sempre com muita segurança. A palavra de ordem da Federação Paulista é segurança.
Estou muito confiante que faremos uma boa competição e, principalmente, com segurança.