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Endividados, Botafogo e Vasco podem seguir os passos do Cruzeiro?

A pandemia causada pelo novo coronavírus escancarou a má gestão da grande maioria dos clubes brasileiros. Até a Covid-19 ajudar a asfixiar as agremiações esportivas nacionais, não era raro ver clubes endividados saírem gastando o que não tinham para contratar jogadores, apostando que com taças de campeão as despesas seriam fáceis de pagar. O Cruzeiro, talvez o maior expoente desta prática nos últimos anos, ganhou por duas vezes seguidas a Copa do Brasil e ainda vendeu o uruguaio Giorgian de Arrascaeta para o Flamengo na maior transferência da história do futebol brasileiro no início do ano passado. Mas isso não impediu o clube de se afundar em dívidas, o que acabou culminando com a queda para a Série B no ano passado.

Dois clubes cariocas parecem querer seguir os passos do Cruzeiro. Com R$ 639 milhões em dívidas, o Vasco viu seu poder de investimento no futebol cair em 6% de 2018 para 2019. O Botafogo, com dívida de R$ 822 milhões, também passa por enxugamento no departamento de futebol. Mas não é só dentro de campo que os clubes correm riscos.

Na semana passada, o Cruzeiro divulgou seu balanço de 2019 com déficit de R$ 394 milhões, e com a dívida total ultrapassando os R$ 803 milhões. E um dos efeitos colaterais de dever tanto bateu na porta do clube mineiro no dia 19 deste mês, quando a CBF avisou o Cruzeiro da sanção imposta pela Fifa por causa de uma dívida com o Al-Wahda, dos Emirados Árabes Unidos. Assim, o clube começará a Série B do Brasileirão deste ano com seis pontos a menos.

“Lembrando que não é necessariamente um clube ficar devendo para outro clube. [A sanção] é quando um clube descumpre uma decisão da Fifa. Ou seja, é quando algum tribunal da Fifa manda um clube pagar a outro clube e esse clube não paga. Então não é uma dívida por dívida. A norma da Fifa fala em descumprimento”, esclarece o advogado especializado em direito esportivo Gustavo Souza.

Segundo o Regulamento da Fifa, “ao instruir uma parte (clube ou jogador) a pagar outra parte (um clube ou jogador) uma quantia em dinheiro, o Comitê de Status dos Jogadores, decidirá também sobre as consequências da falta de pagamento do valores relevantes no devido tempo”.

Ainda de acordo com o RSTP da Fifa, tais consequências serão incluídas nas conclusões da decisão e serão os seguintes: contra um clube, a proibição de registrar novos jogadores, nacional ou internacionalmente, até o pagamento dos valores devidos. O máximo geral da duração da proibição de registro, incluindo possíveis sanções esportivas, por três períodos de registro completos e consecutivos. A proibição ou restrição será aplicável se os valores devidos não forem pagos no prazo de 45 dias a contar da data em que o credor tenha fornecido ao devedor os dados bancários necessários para o pagamento enquanto a decisão relevante tornar-se final e vinculativo”.

Na instância nacional, o Vasco já foi punido e teve de correr para resolver a situação. O Vasco não cumpriu o acordo de pagar uma dívida de aproximadamente R$ 1 milhão com o atacante Jorge Henrique, que deixou o clube em 2017. Por conta da pendência, a Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) decidiu que o Cruz-Maltino ficaria impedido de registrar atletas na CBF por seis meses. O Cruz-Maltino teve de fazer um novo acordo e só assim conseguiu registrar jogadores em 2020.

A Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) foi criada pela CBF em 2015 para apreciar disputas de natureza comercial e contratual envolvendo os filiados, direta ou indiretamente, a? CBF.

O Sport também já foi punido pela CNRD e o Cruzeiro corre sérios riscos de levar sanções do órgão se não pagar seus credores. Dentre as penas que podem ser impostas pela CNRD estão o bloqueio e repasse de receita ou premiação econômica que tenha direito de receber da CBF ou de federação; devolução de premiação ou título conquistado em competição organizada pela CBF; proibição de registrar novos atletas, por período determinado entre seis meses e dois anos; proibição de registrar novos atletas por um ou dois períodos completos e, se for o caso, consecutivos de registro internacional; suspensão dos efeitos ou cancelamento do Certificado de Clube Formador; desfiliação ou desvinculação, respeitada a legislação federal.

Além dos problemas com relação às entidades que regem o futebol, tanto Botafogo quanto Vasco podem sofrer prejuízos financeiros relacionados aos constantes atrasos salariais. Com três meses de atraso nos vencimentos qualquer jogador pode pedir sua liberação na justiça do trabalho.

Para o consultor especializado em marketing esportivo Amir Somoggi, com esse histórico, Botafogo e Vasco “estão mortos se forem rebaixados. O Vasco pelo menos triplicou as receitas com sócio-torcedor no ano passado”.

Ter aumentado de R$ 12 milhões para R$ 36 milhões a receita com o sócio-torcedor deu um alívio para o Vasco e pode servir de caminho para outros clubes. Segundo Amir Somoggi, a reversão de quadros como esses só é possível “com muita austeridade e crescimento em receitas. Muito parecido com o tripé aplicado pelo Flamengo com maximização de receitas, austeridade orçamentária e pagamento de dívidas. Caminho amargo e difícil”, resumiu o consultor.

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