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Ensaios sobre as Olimpíadas

Começo a escrever esta coluna semanal durante a pandemia que assola o Brasil e o mundo e o livro “Ensaio sobre a Cegueira” não me sai da cabeça.

Em tempos de coronavírus, quarentenas e isolamento social, o livro do escritor português José Saramago ganhou uma curiosa semelhança com a vida real.

Adaptado para o cinema, o livro narra uma história ocorrida durante uma epidemia de cegueira que se espalha por uma cidade, causando uma grande crise na vida cotidiana e fazendo repensar as estruturas sociais.

Nada mais semelhante ao momento atual, o que inspirou esta coluna que, assim como o livro, nasce da reflexão de que, enquanto vemos, não enxergamos, perdemos a capacidade de ter novas perspectivas quando muito próximos aos fatos. De tanto vermos, cegamos. Só agora, distante dos temas olímpicos que foram minha realidade nos últimos 13 anos, foi possível pensar o Movimento Olímpico através desta coluna semanal. “Necessário sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós mesmos”, nos ensina ainda José Saramago em “O conto da ilha desconhecida”.

Como gênero literário, o ensaio é uma obra de reflexão sobre determinado tema, sem que se pretenda esgotá-lo. O ensaio tem viés argumentativo e expositivo, podendo ser impressionista ou opinativo. São textos breves, contendo ideias, críticas e reflexões. A narrativa de um ensaio descarta a necessidade de achar um início absoluto por onde começar e não termina quando esgota tudo o que poderia ser dito a respeito do seu objeto. Por isso cada ensaio nasce da consciência de que a verdade jamais será completamente definida por ele. É que sempre restará algo a narrar, não importa o quanto tenhamos escrito.

Um ensaísta, se esperar a cobertura completa de seu objeto, deverá esperar, não sentado, mas até mesmo deitado. Ele nunca chegará lá. E tudo bem. E segue adiante. O texto nem mesmo deve conter essa expectativa. O leitor, em resposta, nem deve aguardar tal consumação absoluta do assunto, mas termina com a vontade de saber mais a partir do que recebeu.

Assim se pretende esta coluna. Apresentar, semanalmente, temas que fomentem o desejo de entender muito além do publicado.

O título já traz a provocação de que se perceba que Olimpíada não é sinônimo de Jogos Olímpicos. Via de regra, cada Olimpíada comporta apenas uma edição de Jogos Olímpicos de Verão – ainda que com os Jogos de Tóquio 2020, que possivelmente ocorrerão em 2021, a conversa passe a ser outra. Mas isso, deixaremos para o próximo ensaio. Para todos os efeitos, a Olimpíada é o nome dado a todo intervalo de 4 anos entre duas edições dos Jogos Olímpicos. Para facilitar o entendimento, a Olimpíada está para o treinamento e é representada por um numeral romano, assim como os Jogos Olímpicos estão para os eventos competitivos em si e são representados pelo nome da Cidade-sede e pelo o ano do calendário civil em que se realizarão os Jogos. Assim, os Jogos Olímpicos Rio2016 ocorreram na XXXI Olimpíada e os Jogos Tóquio2020 deveriam ocorrer na XXXII Olimpíada, mas foram postergados para o primeiro ano da XXXIII Olimpíada.

Nesta coluna – fica o compromisso! – trataremos para além dos Jogos Olímpicos de Verão e de Inverno. Fatos históricos, princípios, conceitos e objetivos que se relacionem e contribuam para o entendimento do fenômeno olímpico vão nos guiar nesse salto lógico para entender as diversas realidades, à luz do tempo e do espaço, onde foram concebidas.

Vamos usar as lentes do movimento olímpico, combinando experiências e perspectiva históricas para pensar os fatos, com ênfase em seus aspectos jurídicos.

Assim como ocorre no livro “Ensaios sobre a Cegueira”, todo aquele que busca conhecer o movimento olímpico se verá imerso em um mundo de glórias, conquistas, uma saga de heroínas e heróis. Espero que as semelhanças cessem por aí. Sem as angústias causadas pelo livro de Saramago, mais do que fazer ver a quem já tem olhos, que possamos, através desta coluna semanal, questionar o que é olhar.

Fica o convite para manter mente e olhos sempre abertos em uma experiência que nos ajude a exercitar – sem esgotar – o que significa pensar o esporte olímpico e o mundo.

Este é só o começo!

……….

Referências:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ensaio_sobre_a_Cegueira

https://www.olympic.org/faq/history-and-origin-of-the-games

https://tokyo2020.org/en/games/olympic-games-about/

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