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Espionagem corporativa nos esportes

Antes que a nova temporada da NBA comece, as discussões sobre o load management e a nova Política de Participação de Jogadores, tema da nossa última coluna, continuam povoando as manchetes esportivas nos Estados Unidos, dividindo espaço com o “efeito Taylor Swift” na NFL e com previsões para a sequência dos playoffs da MLB.

Há, porém, um assunto que vem sendo tratado de forma mais discreta na mídia que também é digno de nota por aqui: uma ação judicial movida pelo New York Knicks contra o Toronto Raptors.

No final de agosto de 2023, foi revelado que a famosa franquia de Nova Iorque havia ingressado com um processo no sistema judiciário norte-americano alegando que um ex-empregado, Ikechukwu Azotam, teria compartilhado com seus novos empregadores em Toronto milhares de arquivos com informações confidenciais sobre o Knicks.

A tese dos advogados do Knicks é de que Azotam agia a mando de Darko Rajaković, treinador sérvio que comandará o Toronto Raptors na temporada 2023-24.

Teriam sido violados, supostamente, 3.358 arquivos de vídeo de propriedade do Knicks, os quais, conforme as alegações, “foram acessados ​​mais de 2.000 vezes pelo Raptors”.

Haveria ainda, no material ilegalmente compartilhado, relatórios técnicos de jogos, livros de jogadas e até um link para um software licenciado exclusivamente para a equipe nova-iorquina.

Ikechukwu Azotam trabalhava como coordenador assistente de vídeo para o New York Knicks desde novembro de 2020 e teria recebido, em junho de 2023, a proposta para se juntar a Darko Rajakovic em Toronto. A partir daí, Rajakovic teria “conspirado para usar a posição de Azotam (…) a fim de canalizar informações confidenciais do Knicks no intuito de ajudar o Raptors a organizar, planejar e estruturar a nova equipe de treinamento e operações de vídeo”.

Depois do convite para prestar seus serviços no Canadá, Azotam teria começado a “encaminhar secretamente informações (…) de sua conta de e-mail do Knicks para sua conta pessoal do Gmail, que ele então compartilhou com (…) o Raptors”.

Somente em julho de 2023 é que Azotam teria comunicado a seus chefes em Nova Iorque sobre a oferta de emprego feita pelo Raptors.

Pelo teor do processo, as informações coletadas por Ikechukwu Azotam seriam “críticas para os esforços do Knicks em manter uma vantagem competitiva sobre seus rivais, incluindo o Raptors” e teriam sido coletadas a partir de agosto de 2021, quando o principal acusado assumiu “o planejamento, organização e distribuição de todas as responsabilidades de olheiros de vídeo para a comissão técnica” do time de Nova Iorque.

Além de Azotam, de Darko Rajakovic e da própria franquia canadense, também estão sendo processados a pessoa jurídica que administra o Toronto Raptors (Maple Leaf Sports & Entertainment Limited), o técnico de desenvolvimento de jogadores (Noah Lewis) e outros 10 funcionários não identificados.

Por razões de confidencialidade, a tendência é que não tenhamos muitos comentários sobre o caso até que uma sentença seja proferida ou até que um acordo seja “costurado”.

Há cerca de um mês, o comissário Adam Silver, questionado a respeito, declarou: “Sobre essa disputa, não sei nada além do que li na demanda apresentada ao tribunal federal e (…) não tive a oportunidade de ver qual é a resposta do Raptors. (…) Então, acho que é apropriado evitar qualquer julgamento neste momento.

O presente relato vem para nos lembrar que existe espionagem corporativa também nos esportes profissionais. Assim como em qualquer indústria, há, no mercado esportivo, “segredos” e gente disposta a descobri-los para obter algum diferencial competitivo.

A Fórmula 1 presenciou, há alguns anos, o escândalo envolvendo engenheiros da McLaren.

A literatura sobre a NFL nos presenteou, recentemente, com o ótimo Spies on the Sidelines: The High-Stakes World of NFL Espionage, escrito por Kevin Bryant, agente especial aposentado com décadas de experiência na coleta e proteção de informações para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Um dos casos mais emblemáticos abordados na obra é o chamado Spygate, que levou o New England Patriots a sofrer severas punições da NFL entre 2007 e 2008.

A MLB teve de lidar com graves acusações de espionagem de sinais envolvendo o Houston Astros, que, durante a temporada regular e playoffs de 2017 (quando foi campeão) e também parte da temporada de 2018, usou câmeras e monitores de vídeo para roubar sinais dos catchers adversários. O Boston Red Sox também foi acusado dessa conduta ilegal nos últimos anos.

Pode ser que a situação entre New York Knicks e Toronto Raptors não resulte em condenações e punições. Ou pode ser que entre para os livros de história como mais um exemplo de que, por vezes, o mundo dos esportes e o mundo da espionagem se cruzam de maneira não ficcional.

Crédito imagem: Thinstock

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