O jornalismo esportivo vive uma semana difícil. Vários colegas da ESPN foram demitidos. O que aconteceu na emissora da Disney já havia acontecido há pouco tempo na Globo, no Esporte Interativo, na Band. Nessa hora, gente que se admira, de um talento fantástico, acaba sendo preterida por diferentes motivos, a maioria deles subjetivos.
O fato é que acabou o monopólio da entrega de conteúdo. A produção saiu das mãos de poucos, e está muito mais capilarizada. Com isso, empresas tradicionais se veem no meio de um furacão, tendo que se reorganizar. E por trás desse movimento, uma palavra nova que já se tornou conhecida de todos: streaming
O streaming está provocando uma revolução na forma de se consumir conteúdo. Uma mudança muito mais avassaladora do que até os especialistas projetavam. Escrevi sobre isso já por aqui.
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E o que isso tem a ver com o Direito Esportivo? TUDO!
Essa transformação na entrega de conteúdo implica numa reorganização jurídica.
O streaming já foi questionado juridicamente no exterior, sob a alegação de ser caminho fácil para a pirataria. O Judiciário não entrou nessa história. Ele reforçou que a plataforma é constitucional e ajuda no indispensável acesso à informação. No Brasil, a chegada do streaming acelerou a discussão sobre o Direito de Arena (direito de transmissão), hoje tipificado pela lei do esporte, a Lei Pelé, no artigo 42.
Empresas globais estão de olho em eventos esportivos brasileiros.
Com isso, claro que o evento se cacifa, os clubes e entidades esportivas passam a negociar com mais gente. Os direitos de transmissão serão liberados por muito mais dinheiro. Isso é Direito de Arena, e está diretamente relacionado à produção de conteúdo. Mas também o direito de imagem, contratos de publicidade, exposição dos patrocinadores, negociação clubes/entidades esportivas. Tudo isso também envolve Direito Esportivo. E tem a ver com streaming.
Portanto, é fundamental entender essa revolução na comunicação.
A TV aberta deixou de nadar soberana como a detentora do monopólio da informação coletiva. E esse é um caminho sem volta.
A TV tradicional não é mais onipotente na construção do imaginário coletivo. Ela, que nos últimos tempos via as redes sociais repercutirem os assuntos “espelhados” nas grades dos telejornais, hoje se vê tendo que olhar para a internet e o que está repercutindo por lá para definir uma estratégia e “paginar” seus programas.
O streaming (tecnologia de transmissão instantânea de dados), as redes sociais e o compartilhamento tomaram conta da produção de conteúdo. Nas ligas americanas, muitas já preferem negociar com plataformas de streaming. Por mais diferente que seja a realidade americana da brasileira, o Brasil também começou a se dar conta dessa e de outras vantagens.
A Liga Nacional de Basquete neste ano passou a apostar no conceito de multiplataforma para os jogos do NBB, a principal competição do basquete brasileiro. Ou seja, a Liga decidiu deixar o parceiro de dez anos, Globo/Sportv, para ter seu produto transmitido por ESPN, Fox, Band, Facebook e Twitter. E mais: segundo levantamento da Folha de S.Paulo, esse movimento está cada dia maior nos esportes brasileiros. Atualmente já possível acompanhar pela internet, regularmente e ao vivo, competições nacionais e internacionais de mais de vinte esportes olímpicos, incluindo o futebol.
A Liga dos Campeões da Europa, o principal campeonato de futebol entre clubes do planeta, já tem transmissão pelo Facebook no Brasil. A Libertadores da América, também. A Copa Sul-americana tem transmissão exclusiva do DAZN.
É fato. A Globo não tem mais como principal concorrente a Record, SBT, Rede TV.
Agora, a Globo passa a concorrer pela audiência com o DAZN, a Netflix, a Amazon, com o Disney Play (o streaming do grupo Disney, que comprou a FOX em um negócio de mais de US$ 71,3 bilhões, justamente para reforçar sua plataforma).
A empresa entendeu isso, tanto que o grupo brasileiro já concentra energia e dinheiro para alavancar sua plataforma de streaming.
A briga agora é globalizada, sem nenhum trocadilho.
Segundo uma pesquisa nos EUA, os americanos pagam, em média, dois aplicativos de streaming por residência. Tendência, no Brasil, é que a média fique entre 1 e 1,5. Ou seja, você vai ter que escolher: a qual conteúdo você vai querer ter acesso? Netflix, Disney Play, Amazon, DAZN, Globoplay….? A escolha é sua.
A TV aberta, gratuita e popular, ainda vai estar presente em muitos lares brasileiros por mais cinco, dez (?) anos. Mas ela tem perdido faturamento e audiência. E sabe que não tem como evitar isso.
As empresas de comunicação que conhecemos hoje não vão acabar.
Afinal, elas têm um ativo indispensável para a produção de conteúdo: marca e credibilidade. Elas só não podem cometer o erro de levar para o veículo que produzem hoje uma linguagem que nasceu para ser das novas mídias. Ela precisa é ser inteligente para levar o conteúdo que sempre produziu para as novas plataformas, com uma linguagem diferente, para um público novo, com a credibilidade e a qualidade de sempre.
A produção de conteúdo está aberta. As possibilidades são infinitas. A ESPN liberou para o mercado profissionais prontos para criarem também nessa área. Afinal, na hora de produzir, até mesmo o sofisticado e moderníssimo streaming precisará ter o mesmo companheiro que sempre foi indispensável aos jornais, ao rádio, televisão e TV a Cabo: jornalistas competentes.