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Esporte ou concurso de arte?

Os Jogos Olímpicos de Tóquio estão em sua reta final, mas muitas medalhas ainda estão em disputa. Mas a discussão que trago hoje é sobre uma série de medalhas que já foram entregues, inclusive para brasileiros. E eu sei que muita gente vai torcer o nariz para o que vai ser dito a seguir.

No programa dos Jogos Olímpicos tem se tornado cada vez mais frequente a presença de competições que não são esportivas. É isso mesmo, muitas das competições olímpicas não são esportivas, e vou explicar na sequência.

Uma das definições mais comuns de esporte o trata como toda atividade física realizada de maneira organizada, com regramento específico e formal, finalidade competitiva e institucionalmente regulamentado. No entanto, se formos tomar essa definição como suficiente, uma série de atividades claramente não esportivas poderão ser chamadas de esporte.

Podemos citar alguns exemplos mais claros, como os concursos de dança, dos mais diversos estilos. Desde ballet até break dance, é inegável que há uma atividade física, praticada de maneira organizada, com regramento específico e formal, finalidade competitiva e institucionalmente regulamentada, mas isso é o suficiente para que estas competições sejam consideradas esportivas? Em minha opinião, não.

Por quê? Porque a atividade física não é o fim desse tipo de competição, mas o meio pelo qual buscam atingir resultados estéticos. Não é coincidência o dato de que modalidades como nado sincronizado, ginástica artística, surfe, skate, e break dance (que estará nos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris) possuem critério avaliativo subjetivo, diretamente ligado à percepção de juízes que atuam mais como jurados.

A atividade física nesses casos apenas existe para que se possa cumprir uma finalidade estética. Sendo assim, está mais próxima do conceito de arte do que de esporte, uma vez que é na arte que a atividade humana é ferramenta para a expressão de um ideal estético.

Enquanto nos esportes o vencedor é aquele que supera o outro de forma objetiva, correndo ou nadando mais rápido, arremessando mais longe, marcando mais pontos ou atingindo o alvo com maior precisão, nos concursos artísticos a avaliação de desempenho tem viés subjetivo e vinculado à percepção estética de cada um.

A ginástica vem tentando reduzir a subjetividade, estabelecendo critérios objetivos para a avaliação de movimentos, relativizando padrões estéticos antes predominantes. Isso faz com que ela se aproxime cada vez mais da essência das competições esportivas.

Não podemos nos deixar levar pela definição genérica de esporte pois toda ação humana é decorrente de uma atividade física, o que faria com que toda competição pudesse ser considerada esporte, o que está longe da realidade tanto para os atuais esportes eletrônicos quanto para os concursos estéticos e artísticos que hoje tentam se travestir de esporte. A simples adoção da definição de esporte presente na Carta Europeia do Esporte pode levar a interpretações como aquela que foi brilhantemente traduzido por Gustavo Lopes aqui no Lei em Campo, apontando no sentido de que o Carnaval poderia também ser considerado esporte.

Fiquem atentos! Nem toda definição é clara, e interpretações são sempre possíveis. Mas que balé não é esporte, ah……… isso não é mesmo!

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