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Esporte quebra silêncio e se une de maneira inédita contra o racismo

George Floyd nunca teve uma relação com o esporte, nem com movimentos sociais relevantes. Mas foi usando o nome dele que um grande movimento contra o racismo começou nos Estados Unidos e se espalhou pelo planeta, atingindo o esporte. Atletas, marcas, equipes e até a FIFA se posicionaram, e se uniram no combate ao racismo, vencendo um silêncio sempre constrangedor.

George teve sua morte gravada e compartilhada nas redes sociais, e revoltou o mundo. O americano morreu depois que um policial permaneceu ajoelhado sobre seu pescoço durante nove minutos, mesmo com Floyd algemado e afirmando que não conseguia respirar. O nome dele virou símbolo de algo que precisa acabar, mas poderia ser também o nome de João Pedro, de 14 anos, ou de Ágatha Félix, de 8 anos, ou de tantos outros casos de violência cometidos contra negros no Brasil e no mundo.

Mas foi a morte de Floyd que desencadeou uma série de protestos em diversos pontos dos Estados Unidos, e movimentou o esporte. Muitos atletas, como LeBron James e Lewis Hamilton, se pronunciaram sobre o caso. Alguns foram mais longe e se juntaram às manifestações, como Karl-Anthony Towns, pivô do Minnesota Timberwolves, da NBA, e Jaylen Brown, ala-armador do Boston Celtics.

No futebol. Jadon Sancho, Achraf Hakimi expuseram publicamente seu apoio à causa na rodada do fim de semana da Bundesliga. Sancho recebeu cartão amarelo, e os dois podem ser punidos pela Justiça Desportiva alemã. Regulamentos proíbem manifestações de cunho político dos atletas dentro de campo. Mas acredito que a manifestação vai além.

Acho importante fazer a leitura da manifestação sobre outro contexto. Não se trata aqui de uma posição ideológica, mas da defesa de algo maior e indispensável: a proteção de direitos humanos. Acredito que isso deva ser levado em conta, e não a fria leitura do regulamento.

Inclusive, a FIFA se posicionou de maneira exemplar sobre as manifestações em defesa de #GeorgeFloyd. Ela orienta os organizadores das competições a não implementar as sanções das regras do jogo nessas manifestações. A entidade faz uma leitura mais ampla do caso, e reforça a necessária proteção aos Direitos Humanos.

E nessa hora, a FIFA e atletas também ganharam a companhia de clubes e marcas.

A Nike postou um vídeo nas redes sociais onde se lia: “não finja que esse problema não existe” O vídeo foi compartilhado pela concorrente Adidas.

O Internacional também se manifestou: “o Clube do Povo precisa se manifestar e lutar contra o racismo”. Santos, Palmeiras, Corinthians, Flamengo e outros também se manifestaram.

Em um momento em que é preciso proteger Direitos Humanos, o esporte se posiciona da maneira necessária. Levantando a voz, e contrariando um histórico recente de silêncio.

Afinal, até o futebol sofre diante do absurdo.

Futebol e preconceito

As pessoas têm dificuldade em enxergar preconceito – lógico que aqui me refiro as pessoas que não são atingidas por ele. Por isso existe uma grande tendência das pessoas de diminuir, contemporizar, colocar na conta da “brincadeira’. Uma lição básica: preconceito existe quando atinge alguém que sofre com um determinado comportamento, que sente – e sofre – com a força de uma postura carregada de preconceito.

O popular futebol também sofre com o preconceito. O racismo voltou a ocupar espaço em estádios espalhados pelo planeta.

Balotelli, Dalbert, Lukaku, Koulibaly, Marega. A lista é gigante. Dá um Google. O futebol de Pelé, Garrincha, Nilton Santos e Ronaldinho ainda apresenta repetidos casos de preconceito.

A verdade é que a democracia das raças ainda é uma falácia, inclusive no futebol.

É importante entender que a sociedade evolui, e o esporte não pode ficar preso a costumes discriminatórios. Ele precisa evoluir e integrar, aproximar e acolher a todos. No Brasil a Justiça Desportiva não deve permitir mais comportamentos discriminatórios. Para isso, ganhou um aliado.

Para ajudar, o novo Código Disciplinar da FIFA, uma espécie de lei do futebol, aumentou o cerco do combate ao preconceito no futebol. Apesar de mais enxuto, ele está mais completo e moderno, e reforça uma preocupação necessária do movimento esportivo, o combate a todo tipo de preconceito

Movimento esportivo tem papel de destaque na defesa de causas sociais

O apoio à diversidade tem sido uma batalha de vários movimentos ao redor do planeta. Vários movimentos sociais, como também influenciadores, artistas e atletas se manifestaram de diversas maneiras sobre a importância do respeito e da necessidade de inclusão.

Mas no futebol, personagens importantes do esporte ainda andam calados. O que é uma pena. Que o exemplo de LeBron, Hamilton, Sancho e tantos outros provoque uma necessária reflexão.

O esporte sempre foi um catalisador de transformações sociais pelo mundo. Ele ajudou na luta contra o racismo, contra a discriminação aos mais pobres, até na abertura democrática brasileira durante os anos da ditadura.

No mundo, muitos são os exemplos de atletas que entenderam que sua força vai muito além de uma pista ou quadra ou campo, e que eles podem ser agentes importantes na construção de uma sociedade melhor, menos excludente e mais humana. Mas no futebol, nossos craques ainda não entraram para valer nesse jogo.

No Brasil, uma decisão do STF trouxe consequências para o esporte

Com a decisão do STF de usar a Lei do Racismo para punir crimes contra a homofobia, a Justiça Desportiva irá mudar, punindo também atitudes homofóbicas no esporte nacional. O próprio presidente do STJD, Paulo Cesar Salomão Filho, em bela palestra da Brasil Futebol Expo, se manifestou dizendo que o futebol tem que evoluir com a sociedade e não pode permitir a segregação e o preconceito.

Essa postura, com a decisão do Supremo e o novo Código Disciplinar da Fifa, dão caminhos legais para a Justiça Desportiva punir o absurdo por aqui. Pelo mundo, também existem caminhos.

Mas é sempre necessário entender que mais importante do que punir é conscientizar.

E os personagens do esporte têm papel fundamental nesse momento. O silêncio compactua com o absurdo. E toda voz é importante nessa hora.

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