O final do ano está chegando, mas as consequências da Covid-19 deverão persistir nos próximos meses. O futebol não está imune aos problemas, e foi um dos principais esportes afetados pela pandemia, que paralisou e cancelou competições. Ao serem retomados, os torneios, apesar de seguirem os protocolos estabelecidos, não foram suficientes para evitar a contaminação de atletas e outros profissionais envolvidos. Um dos principais fatores está relacionado com o formato em que foram realizados, principalmente por conta da grande quantidade de viagens e deslocamentos ao não adotarem o sistema de ‘bolhas’.
“As constantes viagens aumentam significativamente o nível de exposição e inviabilizam testagem centralizada e outros fatores de planejamento de riscos de infecções. As competições esportivas em ‘bolhas’ ou com deslocamentos controlados nas diversas modalidades se mostram eventos mais eficazes, seguros e menos desequilibrados entre competidores”, afirma Paulo Schmitt, advogado, Procurador-Geral da Justiça Desportiva Antidopagem e um dos autores do estudo Esporte Fora da Bolha.
Na última temporada, a NBA adotou a bolha, uma zona de isolamento em Orlando, Flórida, no Walt Disney World, com regras estritas criadas para proteger os jogadores dos times de sua liga até que a competição seja encerrada. Ao todo, foram investidos um total de US$ 170 milhões (R$ 950 milhões na cotação atual) para que o protocolo fosse mantido por 96 dias (período que os atletas ficaram nos alojamentos), com um total de 347 jogadores testados regularmente, 205 jogos disputados e nenhum caso positivo de Covid-19, mostrando-se totalmente eficaz.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não seguiu o mesmo caminho para suas competições. O Lei em Campo já contou que a ideia de jogar o Campeonato Brasileiro em bolha foi cogitada, mas acabou não avançando depois que nenhuma das partes (jogadores, clubes e a própria entidade) aprovaram a ideia.
Caso a CBF volte a trás e resolva adotar a bolha, não há impedimento para que seja colocado em prática, mesmo com a competição em questão já ter sido iniciada. No entanto, é preciso a aprovação de todos os clubes que participam do campeonato.
“Nada impende que a bolha seja adotada. Não existe regra desportiva nem estatal que proíba esse protocolo. Isso não tem a ver com regulamento, mas sim com a segurança da competição. Caso seja necessário, poderá ser colocado em prática se for aprovado”, afirma Martinho Miranda, advogado especialista em direito desportivo.
O estudo apresentado por Paulo Schmitt e Marcus Beims busca comprovar, através de fórmulas com tempo de estadia, possibilidade de infecção nos ambientes e voos, como as viagens realizadas pelos clubes que disputam o Campeonato Brasileiro e outras competições esportivas podem ser um fator determinante para o aumento do número de casos.
“O estudo pretende demonstrar como a constância de viagens entre capitais, tem relação direta com a probabilidade de aumento significativo de infecção pelo coronavírus e o seu impacto esportivo. O Brasil entra em um perigoso cenário de provável segunda onda e expectativa de vacinação, mas a pandemia está longe de acabar. O aumento de chance de contágio chegou a 65% na Superliga Feminina de Vôlei em novembro, e a elevados 75% de crescimento de risco no Brasileirão de futebol em dezembro”, disse Schmitt.
Nesta terça-feira (22), o Brasil ultrapassou a marca dos 188 mil mortos pela Covid-19. O país confirmou mais 963 mortes em 24 horas, média de 776 óbitos por dia nos últimos sete dias, a maior desde 17 de setembro.
No final de novembro, a CBF divulgou um balanço da Covid-19 no futebol brasileiro. Até o momento, somando as Séries A,B,C e D do Brasileirão, foram realizados 37.538 testes RT-PCR, contabilizando 689 casos positivos. A entidade brasileira classificou os números como “positivos” e seu chefe médico, Jorge Pagura, afirmou que “não motivos para rever o protocolo”.
“A transmissão não ocorre em campo. Não tem nenhuma evidência disso. Inclusive, jogador só entra em campo com exame RT-PCR negativo. O ambiente do estádio é muito seguro”, avaliou Pagura em entrevista em novembro.
Na última segunda-feira, 14 de dezembro, o futebol brasileiro perdeu um grande nome para a doença. Um dos técnicos mais conhecidos no país, Marcelo Veiga, do São Bernardo, morreu aos 56 anos após complicações causadas por conta da Covid-19. O treinador ficou internado um mês, mas acabou não resistindo.
“Os estudos constantes das recomendações do esporte frente a Covid-19 e os Boletins e artigos fazem o alerta de risco desde o início da pandemia. A conta está chegando, com as inúmeras infecções e as primeiras mortes já registradas. Escolhas e consequências”, finaliza Schmitt.
Crédito imagem: Reprodução
Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo
Nossa seleção de especialistas prepara você para o mercado de trabalho: pós-graduação CERS/Lei em Campo de Direito Desportivo. Inscreva-se!