“Sou forte e vou até o fim contra os racistas, mesmo que longe daqui”, desabafou Vinicius Junior neste domingo (21) após voltar a ser alvo de racismo – mais uma vez – no Campeonato Espanhol. Durante a partida entre Valencia e Real Madrid, que chegou a ser paralisada por alguns minutos, o brasileiro foi chamado de “macaco” por parte da torcida presente no estádio Mestalla.
Esse triste episódio se tornou comum na Espanha. Nos últimos meses, o Lei em Campo vem mostrando como Vini Jr se tornou o centro das ofensas racistas em diferentes estádios. Mas por que isso acontece com tanta frequência? Segundo especialistas, a falta de punições rigorosas por parte das autoridades e entidades esportivas do país faz com que os criminosos continuem agindo.
“O combate ao preconceito precisa ser coletivo. Estado, movimento esportivo e sociedade, juntos, exercendo mecanismos de coerção, como as punições as estabelecidas para atitudes discriminatórias. O direito tem um papel fundamental para mudar uma cultura do preconceito, apresentando caminhos legais para punições. Eles estão na Declaração Universal de Direitos Humanos, em tratados internacionais e nos próprios regulamentos esportivos. É preciso tornar o direito eficaz”, diz Andrei Kampff, advogado especializado em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.
“A repetição de insultos racistas direcionados ao Vinícius Junior, jogo após jogo, fez com que a LaLiga criasse uma comissão específica para cuidar unicamente de casos de racismo contra o brasileiro. Isso mostra, ao menos, que alguma importância tem sido dada a esses lamentáveis fatos. Mas seria suficiente? Se os fatos seguem se repetindo, é porque isso não basta. E ao meu ver, isso ocorre porque as punições aos indivíduos são raras e brandas”, analisa Marcel Belfiore, advogado especialista em direito desportivo.
O advogado entende que todos os esforços têm que ser concentrados na identificação e punição exemplar dos indivíduos que cometem esses atos.
“Na minha opinião, punir os clubes não resolve o problema, talvez o agrave. Todos os esforços têm que ser concentrados na identificação e punição exemplar dos indivíduos que cometem esses atos, ainda que sejam centenas deles. Todos devem estar envolvidos na identificação dos torcedores racistas, principalmente os clubes, mas ao final, de nada adianta se apenas poucos deles são punidos e com penas que simplesmente os deixem fora dos estádios por alguns meses. Atos de racismo devem ser punidos com prisão, mas para isso não basta um esforço da LaLiga, é preciso que as leis do país se tornem mais rígidas”, acrescenta Belfiore.
João Paulo Di Carlo, advogado especializado em direito desportivo, ressalta que “até agora, as punições aplicadas pela Comissão Estatal contra Violência, Racismo, Xenofobia e Intolerância, previstas na Lei 19/2007, tem se mostrado insuficientes”.
“Devemos ressaltar que o esporte na Espanha possui um alto viés público, o que impede devido a limitação de competência, a aplicação de sanções por parte de Laliga e da Real Federação Espanhola (RFEF) aos atos de racismo. O papel de Laliga e da RFEF é detectar as ocorrências e denunciar as autoridades competentes, tanto na esfera administrativa, quanto na penal. Contudo, isso não impede da instauração de medidas sócio educativas e de campanhas para impedir essa conduta repugnante. O racismo deve ser combatido por todos”, afirma.
Aos 24 minutos do segundo tempo, o árbitro Ricardo de Burgos decidiu paralisar a partida entre Valencia x Real Madrid após os gritos racistas contra Vini Jr serem entoados ainda mais altos. O brasileiro chamou o juiz para denunciar um determinado torcedor que estava atrás do gol.
O árbitro então conversou com jogadores e com os técnicos dos dois times, além do quarto oficial. O sistema de som do Mestalla emitiu dois alertas: um de que a partida tinha sido paralisada por causa desse episódio de racismo, e o segundo de que ela só seria reiniciada caso os xingamentos e cânticos parassem.
Ao todo foram cerca de oito minutos entre o início da confusão, passando pela denúncia de racismo, até a retomada do jogo.
Para fechar com chave de ouro, Vini Jr acabou sendo expulso na parte final da partida, após acertar a mão no rosto de um rival, levando vermelho direto depois de revisão no VAR.
Até o fim de março a LaLiga – organizadora do Campeonato Espanhol – já tinha registrado oito reclamações na Justiça por racismo contra Vinicius Junior somente nesta temporada. A liga criou em fevereiro uma comissão específica para lidar com casos relacionados ao brasileiro.
Em nota divulgada após a partida, a liga disse que vai investigar os incidentes ocorridos no estádio Mestalla. Além disso, também informou que já solicitou todas as imagens disponíveis para investigar o caso e, caso necessário, vai tomar “todas as medidas cabíveis”.
Javier Tebas, presidente da LaLiga, usou as redes sociais para responder às críticas feitas por Vini Jr à liga. Ele insinuou que o atacante exagera nas acusações de negligência do campeonato nos casos de racismo.
“Não se deixe manipular e tenha certeza de entender bem as competências de cada um e o trabalho que estamos fazendo juntos”, escreveu Tebas.
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, expressou seu apoio ao atacante. O dirigente também elencou os procedimentos que devem ser seguidos em casos de racismo.
“Primeiro, você para o jogo e anuncia. Em segundo lugar, os jogadores saem do campo e o alto-falante anuncia que, se os ataques continuarem, o jogo será suspenso. O jogo recomeça e, em terceiro lugar, se os ataques continuarem, a partida para e os três pontos vão para o adversário”, disse.
O Governo brasileiro decidiu entrar em campo. O Ministério da Igualdade Racial disse que vai notificar autoridades espanholas e a LaLiga após os novos ataques racistas contra Vini Jr.
Diante de mais um caso de racismo, Vini Jr recebeu muito apoio de figuras importantes do esporte no Brasil e no mundo.
Crédito imagem: Pablo Morano/Reuters
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