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Fantasy não é Bolão

Por Ricardo Axel Silva

A Copa do Mundo já está quase no fim e agora chega o momento decisivo para os bolões, principal assunto nos grupos de amigos e nas redes sociais de muitos brasileiros, especialmente após a eliminação prematura da seleção brasileira do torneio. Mas é importante deixar algo bem claro: bolão não é fantasy.

O bolão de futebol, tradicionalmente, ocorre quando um grupo determinado de pessoas se reúne, cada um indica o resultado de uma partida ou uma série de jogos, apostando valor fixo, de acordo com regras pré-definidas para participar da disputa. Aquele que somar mais pontos, ao final, fica com todos os valores apostados. Trata-se de modalidade que é desenhada da seguinte forma: (i) existe grande dependência da aleatoriedade no sucesso do apostador; (ii) a premiação, em regra, é em dinheiro; (iii) o valor da premiação depende da quantidade de participantes do bolão, visto que o vencedor fica com o valor; (iv) os resultados dependem, no caso do futebol, do placar de determinado evento desportivo ou do desempenho de uma única equipe em competição real.

Já os fantasy sports, cada vez mais consolidados no Brasil, são uma modalidade de esporte eletrônico ocorridas em ambiente virtual, a partir do desempenho de atletas em eventos esportivos reais, nas quais: (i) são formadas equipes virtuais cujos desempenhos dependem eminentemente do conhecimento, da estratégia e das habilidades dos usuários; (ii) as regras são preestabelecidas, inclusive sobre a existência de eventual premiação de qualquer espécie; (iii) o valor da premiação garantida independa da quantidade de participantes ou do volume arrecadado com a cobrança das taxas de inscrição; (iv) os resultados não decorram de placar ou de atividade isolada de um único atleta ou de uma única equipe e competição real.

Para elucidar as diferenças, quando tratamos do elemento que influencia no sucesso, no fantasy, tomando o futebol como exemplo, gols e assistências somam pontos e, de outro lado, erros de passe e falhas na defesa descontam pontuação. Aqui fica claro que o jogador precisa analisar estatisticamente o desempenho histórico dos atletas para, diante das probabilidades de performance de determinado atleta, definir a sua escalação. Ao fim de cada rodada, os pontos são contabilizados e o usuário cujo time totalizou mais pontos é o vencedor, de acordo com as regras do jogo previamente definidas em regulamento. Contudo, no caso do bolão, o sucesso do usuário independe dessa análise detalhada, basta que o resultado da partida seja aquele indicado no início da competição, pelo apostador, restando evidente que o elemento sorte é preponderante.

Também é relevante indicar que, no fantasy, o desempenho do usuário recai sobre o desempenho individual do atleta que foi escalado, após minuciosa análise sobre os dados de sua performance. Pode acontecer, por exemplo, que o atleta escalado tenha uma excelente atuação e some muitos pontos numa eventual derrota de sua equipe. Por outro lado, no bolão, independente do desempenho que a equipe teve em campo, o placar de determinado evento desportivo é o único elemento que determina o sucesso, ou não, do apostador.

Ainda vale destacar que no fantasy, o valor da premiação pode ser garantido, visando estimular o entretenimento dos jogadores, e dessa forma a quantidade de usuários não influencia no valor do que será pago ao que se destacar. Entretanto, no bolão, como cada apostador contribui com valor certo, a quantidade de participantes determina o valor do prêmio que será distribuído ao vencedor.

Como indicado acima, apesar das muitas diferenças entre bolão e fantasy, muita gente acaba confundindo. Efetivamente, o que pode contribuir para que não haja essa confusão entre as duas, tão distintas, modalidades, é a regulamentação do segmento dos esportes eletrônicos. No Brasil, o Projeto de Lei nº 2796/2021 institui o “Marco Legal para a Indústria de Jogos Eletrônicos e para os Jogos de Fantasia”.

Atualmente, o PL 2796/2021, após ter sido provado de forma unânime na Câmara dos Deputados, aguarda votação no Senado Federal. A aprovação desse marco, representa um enorme avanço para a indústria do fantasy sport, modalidade que ganha seu reconhecimento formal e sua delimitação jurídica a partir dessa proposição legislativa ainda em tramitação. [1]

Com um mercado consumidor aquecido e com boa formação de mão de obra, o segmento de fantasy sports aguarda com otimismo a aprovação da pauta, pois se trata de um reconhecimento do setor, que hoje gera tributos, empregos e uma receita anual de quase R$ 60 milhões no Brasil e que poderá chegar mundialmente a R$ 100 bilhões (US$ 20 bilhões) com a estimativa a criação de dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos. Segundo o relatório da Brazil Games Export Program, o Brasil é o maior mercado de games da América Latina e o 10º no mundo em receitas. [2]

Por enquanto, resta ao mercado acompanhar a tramitação do PL 2796/2021, esperando pela aprovação de normas claras e adequadas para o setor, trazendo definições relativas aos jogos eletrônicos e de fantasia, a fim de evitar confusões com outras modalidades, e consequentemente segurança jurídica e tranquilidade aos usuários e operadores do segmento.

……….

[1]https://leiemcampo.com.br/a-definicao-do-fantasy-no-marco-legal-dos-games/

[2]https://bnldata.com.br/marco-legal-dos-fantasy-games-aguarda-votacao-do-senado-e-sua-aprovacao-pode-gerar-cerca-de-5-mil-empregos-diretos-e-indiretos/

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