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Federação de atletas corta salários de R$ 50 mil de ex-dirigentes

Os atletas precisam de representatividade. Nas discussões sobre a volta do futebol, sobre Projetos de Lei que mexem em direitos, ou sobre fórmulas de campeonato, é fundamental ouvir a opinião de quem joga. E isso se dá através dos sindicatos. O problema é que eles ainda não são representativos. Sem participação dos atletas, com pouca fiscalização e com receita garantida, eles sofrem com uma séria crise de credibilidade.

O Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo (Sapesp) se tornou alvo de polêmica depois que uma reportagem do ‘Globo Esporte’ revelou que o ex-goleiro Rinaldo Martorelli, presidente do sindicato há 28 anos, cometeu uma série de irregularidades durante seus seis mandatos. Segundo a apuração, ele teria transformado o cargo em um negócio lucrativo ao criar uma remuneração para sua função, aumentou-a sistematicamente, criou bônus milionário e reteve valores que poderiam ser distribuídos aos atletas.

Sabendo da falta de credibilidade dos sindicatos entre os próprios atletas, a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (FENAPAF) está buscando se reestruturar, colocar sua casa em ordem e trabalhar com novas políticas de gestão.

Em fevereiro, o Lei em Campo mostrou que a FENAPAF assinou um acordo com a Grant Thornton, sexta maior organização contábil e de consultoria dos Estados Unidos, para passar por uma completa auditoria em todos os números da entidade nos últimos cinco anos.

Um dos problemas apontados foi justamente a remuneração de dirigentes.

Washington Mascarenhas, ex-jogador e atual diretor financeiro da FENAPAF, explicou ao Lei em Campo a situação atual da entidade e as principais medidas que estão sendo tomadas e como os valores são repassados aos sindicatos estaduais.

“Entre os anos de 2015 e 2020, a federação teve um conselho composto de ex-presidentes – Rinaldo Martorelli, Alfredo Sampaio e Ivo Amaral -, que trazia altos valores para os cofres da entidade. Chegávamos aos absurdos R$ 400 mil de folha salarial numa federação onde não se prestava nenhuma devolutiva ao atleta, sendo que recebia valores da FIFPro para justamente fazer isso. Enfim entramos em dezembro de 2020 e tínhamos como proposta trazer transparência, compliance, aproximação aos atletas, um trabalho de comunicação melhor onde pudéssemos alcançar os jogadores e promessa de contenção de gastos”, contou o diretor.

Para dar mais transparência a gestão, Washington passou como o valor era distribuído dentro da FENAPAF naquele período:

-> Salário cada conselheiro: R$ 50 mil (totalizando R$ 150 mil) + R$ 20 mil de VGBL – fundo de previdência privada mensal – (totalizando R$ 60 mil);

-> Salários diretores: R$ 30 mil;

-> Salários administrativos: R$ 80 mil;

-> Custos rotativos (hotéis, aluguel de apartamento para diretoria, passagens e reembolsos): R$ 80 mil.

Segundo o diretor, a nova gestão conseguiu um resultado satisfatório foi alcançado em apenas quatro meses de trabalho, reduzindo a folha salarial para R$ 130 mil. Para conseguir o objetivo, Washington conta o que a entidade fez:

“Reduzimos a folha salarial da diretoria (R$ 54 mil), que antes não condizia com a realidade, extinguimos conselhos e cortamos contratos antigos que existiam dentro da entidade de dois apartamentos que eram de uso da diretoria, apesar dos imóveis pertencerem a um diretor da FENAPAF. Existia um enorme conflito nisso tudo, mas aos poucos vamos colocando a casa em ordem e ajeitando as coisas”, finaliza Washington.

Os sindicatos têm receita garantida por força de lei. A FENAPAF recebe o dinheiro que vem do direito de arena, e é responsável a repassar aos sindicatos que pagam os jogadores, ou a pagar diretamente aos atletas dos estados onde não tem sindicatos.

“É uma questão bem complicada. Essa fiscalização do repasse vai depender muito dos próprios associados através do Conselho Fiscal e demais órgãos de fiscalização interno. Ela precisa ser bem feita e totalmente transparente”, afirma Martinho Miranda, advogado especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.

Martinho destaca também a importância da participação dos atletas dentro dos sindicatos: “A participação dos jogadores é fundamental, afinal, o que está em jogo e o dinheiro e a defesa de seus interesses. Quanto maior o engajamento junto ao sindicato, melhor será para eles”.

Segundo a FENAPAF, tem havido problema com vários estados nesses repasses.

“Hoje eu sou o diretor financeiro e faço esse acompanhamento. Atualmente, cobramos prestação de contas desses sindicatos, tanto que RS, SE, MG, SC, BA, GO, não estão aptos junto a entidade por que não fizeram sua prestação de contas. Antigamente isso não existia e é por isso que hoje estamos tendo uma briga política devido a essa grande mudança que estamos propondo”, disse Washington.

Em vários países atletas têm participado de maneira efetiva de discussões importantes do esporte.

Na Argentina, eles já fizeram greve para protestar contra o atraso de salários de atletas de pequenos clubes que estavam atrasados. Nos EUA, qualquer decisão importante da NBA, por exemplo, precisa ser discutida com o representante dos atletas. No Brasil, a classe ainda não tem um peso político relevante na condução do esporte.

O caminho da transparência e da gestão responsável na gestão dos recursos é importante. E, a partir dela, é necessário buscar algo indispensável: representatividade. Com atletas participando e fiscalizando os sindicatos a classe tem tudo para ter forca e participar das discussões relevantes do esporte.

Procurado pelo Lei em Campo sobre os pontos levantados pela matéria do ‘GE’, Rinaldo Matorelli disse que “não tem o que se manifestar”.

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