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Federação investiga transferências suspeitas no futebol italiano e tem a Juventus como principal alvo. Clube poderá ser rebaixado novamente?

O futebol italiano voltou a ser alvo de investigações. Na semana passada, a Promotoria da Federação Italiana de Futebol (FIGC) abriu um inquérito sobre 62 negociações de jogadores de futebol no país realizadas durante 2019 e 2021. O principal investigado é a Juventus, com 42 transferências sob suspeita, em especial a troca do meia Miralem Pjanic pelo brasileiro Arthur Melo, que na época pertencia ao Barcelona.

De acordo com a imprensa italiana, o órgão abriu um processo sobre as “mais-valias-suspeitas” em diferentes transferências dos mais diferentes clubes italianos, após ter recebido uma documentação da Covisoc – comissão que acompanha as equipes profissionais do país. O caso nasce a partir da negociação de alguns jogadores, suspeitando que essas transações foram feitas para corrigir o balanço financeiro de alguns clubes.

Infelizmente a corrupção no futebol italiano não é uma novidade. O caso mais conhecido ocorreu em 2006, quando a própria Juventus acabou sendo rebaixada para a segunda divisão da competição nacional e ainda perdeu os títulos conquistados nas temporadas 2004/2005 e 2005/2006, por “fraude esportiva” e “lesão à ética esportivas” feitas por conta de um esquema de manipulação de resultados com a arbitragem.

 “A maquiagem no balanço patrimonial dos clubes, com uma demonstração de um ganho de capital suspeito impulsionado por um aumento fictício do valor de um jogador em uma transação de troca de jogadores, não é inédita no futebol italiano. No ano de 2018, houve em um escândalo similar nas contas de dois clubes (Chievo e Cesena), que acabaram punidos com a perda de pontos, o que poderia acontecer também nesse caso. Ressalte-se que cada entidade deve preencher vários requisitos econômicos para poder obter uma licença e, consequentemente, disputar as competições nacionais, bem como internacionais”, conta João Paulo Di Carlo, advogado especializado em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.

Cesar Grafietti, economista e consultor do Itaú BBA, afirma que o problema surge quando há troca de atletas, ocasionando impactos contábeis importantes.

“É preciso registrar um valor de saída (receita de venda) e a baixa do registro (custo de saída). Os clubes fazem trocas que contabilmente geram lucro, mas financeiramente não significam movimentação financeira”, acrescenta.

Segundo o especialista, os principais impactos causados são:

– Ajuda no fair play financeiro, porque os clubes precisam ter lucro. Então, poderiam ser punidos sem essas operações.

– Quem tem ações em bolsa está inflando o resultado de forma correta, mas eticamente questionável, indicando desempenho melhor que a realidade.

– Do ponto-de-vista do Fisco, se a operação aumenta o lucro significa maior pagamento de impostos, então para o Fisco não é um problema.

“Nesse caso, há o agravante de que as equipes como a Juventus cotizam na bolsa de valores, portanto, esse suposta falsa informação afeta todo o mercado financeiro, podendo ter desdobramentos fora da esfera desportiva. Contudo, a questão não parece ser tão simples, uma vez que não há um critério contábil, muito menos científico, que possa estabelecer, a priori, qual é o preço correto de um futebolista nessas trocas entre clubes. Essa parece ser a grande dificuldade para os inquéritos instaurados pela Federação Italiana”, afirma João Paulo.

Pjanic foi vendido ao Barcelona por 60 milhões de euros. Com essa quantia, o clube de Turim comprou Matheus Pereira (8 milhões de euros), Arthur (72 milhões de euros) e Alejandro Marqués (8 milhões de euros). Sendo assim, estima-se que a Juve ganhou quase 50 milhões de euros com essas negociações.

Além desse, os negócios envolvendo o lateral João Cancelo, que se transferiu para o Manchester City por 65 milhões de euros, e de Danilo, que fez o caminho inverso por 37 milhões de euros, também estão sendo analisados.

O Napoli é outro clube que está sob investigação, isso porque a compra do atacante Osimhen junto ao Lille, da França, por 71 milhões de euros, levantou suspeitas. Pescara, Parma, Sampdoria e Chievo também estão na lista.

Apesar de já estarem em andamento, as investigações da FIGC não envolvem um processo simples. Isso porque não há um sistema que determine exatamente o valor de mercado de um jogador de futebol, o que dificulta a certeza de que os clubes tiveram ganhos extras ou irregulares.

“É muito difícil definir valor justo de uma negociação, por isso a dificuldade em afirmar que há uma prática que viola alguma regra. Por isso, não acredito em sanção esportiva. O que deveria ocorrer é uma reavaliação do registro contábil e/ou da forma como essas operações são consideradas para fins de controle financeiro. Há outras operações que também seriam passíveis de reavaliação, como os empréstimos com direito ou obrigação de compra, que empurram os registros contábeis para outra temporada. A Juventus fez isso na compra do atacante Chiesa: fez o empréstimo com obrigação de compra após 2 anos. Isso é uma forma de driblar as normas”, finaliza Grafietti.

Crédito imagem: Juventus/Twitter

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