Tem algo de que não se pode abrir mão nunca, em nenhum tipo de negócio: a reputação.
E ela é construída com seriedade, ética, mas também com responsabilidade social.
O Flamengo viveu há seis meses uma tragédia. Depois de um incêndio no alojamento do Centro de Treinamento da base do clube, morreram dez jovens atletas. O presidente do clube, Rodolfo Landim, definiu o caso “como a maior tragédia dos 123 anos de história do rubro-negro”.
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Passados mais de 180 dias, ainda não houve acordo com sete das famílias das vítimas. O Ministério Público pede R$ 2 milhões de indenização para cada família; o clube alega que o valor é exorbitante e não aceitou a oferta. Vale lembrar que o cálculo da indenização é feito com base em uma “projeção de carreira”, algo que no direito civil é tratado como direito de indenizar por “perda de chance” e está no artigo 927 do nosso Código Civil.
Mas a discussão aqui não é jurídica, nada disso. É sobre escolha. É sobre postura. É sobre compromisso.
Para mim, é claro, e óbvio: não se paga a ninguém pela morte de um filho. A perda é incalculável. O direito se esforça a fim de fazer uma matemática para tentar colocar um pouco de lógica na questão, em um exercício de imaginação de um ganho futuro. A ideia é, pelo menos, aliviar o prejuízo financeiro da perda.
O Flamengo insiste em negociar com algo que não se negocia: o valor de uma perda irreparável.
O clube não soube, desde o fatídico 8 de fevereiro, lidar com a tragédia. O advogado especializado em gestão Nilo Patussi escreveu à época para o Lei em Campo que “o Flamengo não estava preparado para lidar com um caso como esse. Nem com mecanismos internos de controle de riscos, nem com um procedimento adequado de gestão de crise”. A gestão profissional também passa por aí.
Depois de uma tragédia dessas, é fundamental lidar com os danos. E o dinheiro funciona não para pagar uma dívida que não tem preço, mas para mostrar o sentimento, a dor compartida, assumir o erro, pedir desculpas, se posicionar de maneira honesta diante do fato.
Calcular nessa hora não é tratar o caso como ele merece. E isso fica pior quando o clube mostra que dinheiro não é um limitador para essa negociação.
O Flamengo investiu cerca de R$ 50 milhões para ter Arrascaeta, que era do Cruzeiro. Pagou quase esse valor para tirar Gérson da Roma. Trouxe também reforços importantes, jogadores que poderiam continuar atuando nos principais clubes do mundo, como Felipe Luis e Rafinha. Agora está perto de anunciar Mário Balotelli, um atacante que está na mira de vários clubes importantes do mundo.
Uma coisa não tem nada a ver com a outra? Tenho certeza de que todo torcedor do Flamengo, que ama seu clube e também se preocupa com sua administração e história, sabe que tem.
Investir no futebol, com o clube saudável financeiramente, é uma escolha legítima de qualquer direção. O problema é deixar de colocar dinheiro em outra questão que também é urgente, a responsabilidade social. A reputação do clube.
Não faça contas. A matemática é bem simples nesse caso. O Flamengo teria que pagar os R$ 14 milhões para as sete famílias que ainda irão sofrer com o absurdo de uma perda precoce por toda a vida. Seria o mínimo para um clube que tem dinheiro, tem história, torcida e uma reputação a zelar.
Afinal, o Flamengo será sempre o time da massa.