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Foi golpe ilegal ou não? A polêmica do UFC 283

Em 21 de janeiro de 2023, quando Deiveson Figueiredo e Brandon Moreno entraram na Arena Jeunesse, no Rio de Janeiro, para competirem pelo título dos pesos-moscas no UFC 283, fizeram ao participarem da na primeira quadrilogia do Ultimate Fighting Championship.

A rivalidade, que encontrará seu lugar nos livros de história, chegou a sua conclusão com o lutador mexicano reinando supremo. Moreno agora está no topo da divisão dos pesos-moscas, esperando por um novo competidor que não se chame Deiveson Figueiredo.

A controvérsia em torno do confronto se deu em relação à forma como a contenda se encerrou. No terceiro round, Moreno acertou um gancho esquerdo limpo, onde seu dedo polegar (fechado, como indicou o replay) pousou bem no olho de Deiveson.

O árbitro ignorou as reclamações do “Deus da Guerra” em relação a uma possível dedada nos olhos e a luta prosseguiu até o intervalo entre o terceiro e quarto round, quando o médico foi trazido para ver se o campeão estava apto ou não a continuar.

O olho direito de Deiveson estava muito inchado, não deixando ao médico outra escolha a não ser recomendar, acertadamente, que a luta fosse interrompida.

O golpe de Moreno havia aberto um corte abaixo do olho de Deiveson e, ao final do terceiro round, o brasileiro não conseguiu enxergar.

Após nova inspeção através do replay, descobriu-se que o árbitro estava certo em deixar a luta continuar após o golpe de Moreno. Embora o dedo do atacante tenha raspado o olho de Deiveson, o soco que causou o dano foi legal, pois o punho estava fechado.

Deiveson sofreu uma fratura orbital, sendo que uma avaliação médica adicional revelou mais danos que podem exigir cirurgia.

Nas Regras Unificadas de Artes Marciais Mistas[1], vigentes em eventos do UFC, ataques de perfuração aos olhos por meio de dedadas, queixadas ou cotoveladas são ilegais. Golpes ou socos legais que entram em contato com a órbita ocular do lutador não são considerados ataques ilegais, senão vejamos:

  1. Eye gouging of any kind: Eye gouging by means of fingers, chin, or elbow is illegal. Legal strikes or punches that contact the fighter’s eye socket are not eye gouging and shall be considered legal attacks.

Assim sendo, um ataque legal que causa danos tais que um lutador não consegue mais lutar indica que o árbitro deve decretar o nocaute técnico, não dar ao atleta tempo para se recuperar como o agora ex-campeão desejava.

Ao sair do cage, Moreno foi obrigado a ir para os bastidores protegido pelo pessoal de segurança, sendo atacado com vários objetos.

Tem-se ainda que levar em consideração as frustrações que os indivíduos levam internalizadas em si para os estádios, pois muitos acabam extravasando no local do espetáculo, ou em suas adjacências, os sentimentos obtidos durante seu ambiente de trabalho, onde pode ter sido repreendido exageradamente pelo patrão, ou de seu ambiente familiar, em que pode ter tido sérias discussões com seus parentes, esposa ou filhos; além de outras frustrações, as quais podem ser adquiridas durante o jogo, como por exemplo, o ódio despertado pelo árbitro, que de certa forma pode ser compreendido com o de ter prejudicado seu time  (NETTO et al., 2009[2]).

Determinados resultados em lutas são objeto de controvérsia por envolver aspectos por demais técnicos, que nem sempre estão claros na mente do espectador casual.

O MMA da forma com hoje é regulado tem pouco mais de 20 anos de existência, tempo ínfimo para que a maioria dos fãs compreenda melhor certas questões desportivas.

Polêmica similar em relação às regras como a de Deiveson x Moreno ocorreu no UFC 232, durante uma luta entre as atletas Megan Anderson e Cat Zingano.

Anderson, ex-campeã do Invicta FC, deu um chute alto e seu dedo do pé pousou sobre o olho direito de Zingano, fazendo a adversária recuar imediatamente.

Como tratava-se de um golpe legal, o árbitro Marc Goddard pouco mais podia fazer do que informá-la para reagir. Quando ela não o fez, os socos seguintes de Anderson obrigaram o árbitro a encerrar o combate.

Zingano teve uma íris danificada, retina danificada, hemorragia na parte de trás do olho, aumento da pressão do globo terrestre e laceração. A lutadora apelou do resultado do combate para a Comissão Atlética do Estado da Califórnia, sem sucesso.

Sobre a questão, o arbitro “Big”John McCarthy, que ajudou na criação das regras, assim se manifestou à época:

Você dá um soco com o punho fechado. Se você sofrer uma lesão ocular com base em um soco legal, a lesão ocular pode fazer com que você perca a luta via nocaute técnico. Um lutador não pode controlar os dedos dos pés da mesma forma que os dedos das mãos. É por isso que não chamamos de dedadas com o dedo do pé nos olhos  #AskBJM (tradução livre)

Em uma situação análoga, em uma luta pelo título no UFC 46 em 2004, por intermédio de um soco, a luva de Vitor Belfort cortou o olho do campeão Randy Couture. A luva cortou a pálpebra de Couture, fazendo com que o árbitro rapidamente percebesse que o olho do atleta não estava funcionando corretamente.

A luta foi parada para que Couture fosse levado para o hospital. A cirurgia garantiu que a lesão não era uma ameaça à carreira. Belfort ganhou o título dos meio-pesados do UFC desta maneira, mas perderia a revanche em uma luta que Couture o dominaria.

Episódio semelhante ocorreu entre dois rivais famosos do MMA. O ex-campeão de pesos médios do UFC Michael Bisping sofreu um descolamento da retina em seu olho direito devido a um chute alto de Vitor Belfort.

Após o incidente, “O Conde” acabou perdendo a visão em seu olho direito. Essa saga é contada com detalhes em seu filme autobiográfico.

Logo após a compra do UFC pela Zuffa em 2001, as Regras Unificadas de Artes Marciais Mistas foram adotadas para o MMA. Estas são reconhecidas hoje pela maior parte dos eventos internacionais e incluem regras como: proibição de golpes na nuca, proibição de cotoveladas céu-terra e proibição de joelhadas na cabeça de um lutador em posição de solo.

Desde 2001 houve pequenas mudanças, mas se usam em grande parte as mesmas regras de MMA e critérios de julgamento de 20 anos atrás.

Cada esporte tem seus próprios riscos. As pessoas amam o e aceitam o risco. Embora o interesse dos espectadores e da mídia pelo MMA abrace claramente os perigos físicos associados às lutas de contato pleno, os riscos que estes representam também se caracterizam fortemente no apego dos próprios lutadores ao esporte. Uma capacidade de superar com sucesso os riscos durante o treinamento e a competição.

Crédito imagem: UFC/Divulgação

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[1] ASSOCIATION OF BOXING COMISSIONS (EUA). Rules. Unified Rules of Mixed Martial Arts, Site, 2019. Disponível em: https://www.abcboxing.com/wp-content/uploads/2020/02/unified-rules-mma-2019.pdf. Acesso em: 30 jan. 2023.

[2] NETTO, Alfredo Euclides Dias et al. A violência no futebol a luz da teoria eliasiana. Efdeportes, Site, ano 14, n. 132, 2009. Disponível em: https://efdeportes.com/efd132/a-violencia-no-futebol-a-luz-da-teoria-eliasiana.htm. Acesso em: 30 jan. 2023.

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