A criação da Superliga Europeia trouxe inúmeros impactos para o futebol. Um deles foi o desgaste da relação dos 12 clubes que estiveram envolvidos no projeto – Arsenal, Atlético de Madrid, Barcelona, Chelsea, Manchester City, Manchester United, Liverpool, Tottenham, Inter de Milão, Milan, Real Madrid e Juventus – com seus próprios torcedores, que condenaram de todas as formas possíveis a nova competição do continente.
Especialmente na Inglaterra, esse posicionamento ficou bastante nítido por meio de protestos emblemáticos como os realizados pelas torcidas do Chelsea, do Manchester United e do Liverpool. Essas reações (que, afinal, contribuíram decisivamente para que a maioria dos clubes “desistisse” – ao menos por ora – da Superliga) trazem algumas reflexões. A principal delas, a importância dos torcedores para os clubes. O advogado Pedro Mendonça escreveu sobre o tema em sua coluna semanal ‘Na pista, na grama’ no Lei em Campo.
“No fim do dia, os fãs dão sustentação ao clube – não apenas sob a perspectiva institucional e histórica, baseada na tradição, mas também considerando o aspecto econômico. O torcedor é, antes de tudo, um consumidor em potencial de todo e qualquer produto que envolva seu clube de coração. Sua audiência é importantíssima para justificar as cifras milionárias investidas por emissoras de TV e plataformas de streaming na aquisição de direitos de transmissão. Mais do que isso, a torcida é uma valia insubstituível, indisponível para aquisição ou negociação”, afirma Pedro Mendonça, advogado especialista em direito desportivo.
É importante lembrar que os clubes ingleses que participariam da Superliga (Arsenal, Chelsea, Manchester City, Manchester United, Liverpool e Tottenham) adotam o modelo que se costuma denominar no Brasil como “clube-empresa”. São pessoas jurídicas constituídas como sociedades empresárias, cabendo aos seus controladores a palavra final sobre os rumos do negócio. Esse modelo predomina no futebol inglês já há algum tempo, e esta não foi a primeira vez em que ensejou reações negativas por parte dos torcedores (a própria conversão ao modelo empresarial, em determinados casos, suscitou controvérsias).
A gestão de um clube tradicional como empresa não deve se afastar dos anseios de sua torcida como parece ter ocorrido com os ingleses.
“Um clube tradicional – empresa ou associação – não pode se afastar de seu principal patrimônio, o torcedor. O fracasso da Superliga mostrou isso, tanto que clubes ingleses estão criando meios para aproximar torcedores da gestão. Sem querer, os clubes acordaram os torcedores e o histórico déficit democrático do esporte começou a ser atacado”, completa Andrei Kampff, jornalista, advogado e colunista do Lei em Campo.
Para melhorar sua imagem perante ao público, nas últimas semanas, Tottenham e Chelsea anunciaram algumas medidas para se aproximar de seus torcedores.
O Chelsea contará com a presença de representantes da torcida em reuniões do Conselho que comanda o clube. Já o Tottenham, criará um órgão consultivo integrado por representantes de torcedores, e cujo presidente fará parte do Conselho que dirige a instituição.
Os anúncios não trazem maiores detalhes sobre as iniciativas adotadas, nem tão pouco os critérios de seleção dos representantes. No entanto, não espera-se que elas tragam mudanças significativas.
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