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Futebol sonhado

Uma vez, li que muitas culturas acreditam que o que as pessoas veem e fazem em seus sonhos não é menos importante do que o que veem e fazem quando estão acordadas. Para esses, quando se sonha, o que há de ser vivido no mundo das nuvens também tem significado, e traz mensagens importantes pro plano mundano. Por essa razão, desenvolviam ativamente a sua capacidade de sonhar, de se lembrar, e mesmo de controlar suas ações enquanto dormiam.

Fiquei pensando. Sendo esse o caso, a muitos de nós, a quem a carência de habilidade reservou ao futebol existir apenas no mundo sonhado, estaria aí uma ótima oportunidade de nos organizar e, acabada a diversão ao acordar, não esquecer o placar.

Quem sabe, além de jogadores pra montar os dois times, consigamos também quem sonhe em ser treinador, massagista, pipoqueiro. Vamos precisar de um pipoqueiro. Não o que se acanha em jogos importantes. O que vende pipoca.

Embora às vezes pouco benquistos, será necessário convidar quem sonhe em ser árbitro, e também bandeira. Não que se saia divulgando por aí, mas é certo que há quem se alegre com a possibilidade de levantar com veemência um daqueles cartões coloridos, ou em tremular a flanela quadriculada em lances decisivos. Caso sirva de incentivo, quem sabe, em remota hipótese, no mundo de lá lhes poupem os impropérios proferidos no mundo daqui.

Por falar em torcedores, não sei se há, do lado de cá, quem sonhe em sê-los. Afinal, esse papel já desempenhamos no mundo real, e não é o caso de repetir. Pensei. Pra ocupar esse lugar, contaremos com eles: Athila, Arthur, Bernardo, Christian, Gedson, Jorge, Pablo, Rykelmo, Samuel e Vitor. Os meninos a quem um dia o dom da bola tocou os pés e as mãos, e os céus convidaram pra morar. Os anjos que sonhavam acordados, e que agora ocupam as arquibancadas lá do alto, de onde não perderão de vista um só drible, um só lance, um só gol. A eles, pra quem um dia torcemos, quem sabe seja atribuída a missão de torcer por nós. Pra que saibamos trazer de volta nossa capacidade de cuidar, de inventar, de acreditar, de existir. E devolver a cor aos dias que, hoje, ficaram um pouco mais cinza.

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