Há exatos seis anos, uma investigação realizada pelo FBI em conjunto com a inteligência do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, levava a prisão 14 dirigentes esportivos acusados de corrupção, e virou a futebol de cabeça para baixo. O episódio ficou conhecido como Fifagate.
O maior escândalo do futebol resultou em 34 indiciamentos, entre cartolas e empresários, e, ainda que seja praticamente impossível calcular tantos anos de irregularidades, já resultou em milhões de dólares em devoluções. Além do que já voltou para as entidades, FIFA, Conmebol e Concacaf ainda brigam na justiça para que mais de US$165 milhões sejam devolvidos aos seus cofres.
Depois do ocorrido, alguma coisa mudou? Sim.
Mudanças na gestão do futebol e nas regras de jogo aconteceram para que o esporte fosse visto, sob todos os aspectos, como mais transparente e democrático. São alguns deles:
– Dirigentes foram presos por corrupção;
– Cartolas poderosos foram banidos do futebol;
– Divulgação dos principais salários da FIFA;
– Maior divulgação de balanços financeiros das entidades;
– Eleições mais transparentes para escolha das sedes das Copa do Mundo;
– Mais seleções na Copa do Mundo (a partir de 2026)
– Implementação do VAR, inclusive no mundial de Futsal;
– Regras que ajudaram no crescimento do futebol feminino;
Mas, infelizmente, como o futebol é muito grande, os seus problemas também são e “apenas” essas mudanças não foram suficientes.
As entidades esportivas passaram a buscar mais organização e transparência e acharam no compliance um aliado importante para essa evolução. De brinde, além de proteger internamente a instituição e melhorar a reputação, ainda conseguem atrair mais parceiros de negócios.
O compliance, apesar de desconhecido para algumas pessoas, já vem sendo discutido no meio esportivo a algum tempo. Gestores com visões mais executivas e profissionais já perceberam que sem organização, administrativa e financeira aliados à transparência e regras claras a realidade do futebol brasileiro não mudará.
Compliance é um programa (uma série de ferramentas) que visa buscar o cumprimento de leis e regras por meio de procedimentos e mecanismos que envolvam todos os níveis de uma organização, gerando uma cultura comportamental mais organizada e ética nas instituições. Em outras palavras, o programa de compliance nada mais é que desenvolver, estimular, cobrar e monitorar colaboradores, do presidente ao estagiário, a fim de evitar atos ilícitos nas empresas.
Os clubes, ainda poucos, vem buscando se reorganizar administrativamente, com profissionais mais bem preparados, aperfeiçoamento a governança corporativa e o compliance, claro. Além disso, os torcedores já vêm acompanhando mais e cobrando seus clubes por melhores gestões.
Os últimos anos, especialmente no Brasil, clubes que se reorganizaram e vem trabalhando de forma mais profissional e organizada, mostraram que esses esforços tiveram consequências diretas nos resultados de dentro de campo. Isso esvazia o discurso de que “clube de futebol tem que ganhar campeonato, não ficar se preocupando com as contas”.
O futebol movimentou, nos últimos anos, mais de 50 bilhões de reais na economia brasileira, segundo estudos da EY. Ainda assim, quase todos os principais clubes do país estão com dívidas de centenas de milhões de reais. Logo, concluímos o silogismo de que não falta dinheiro no futebol no Brasil, falta melhor gestão dos players do mercado.
As mudanças no esporte só se tornarão uma realidade com gestores corajosos, modernos e profissionais. Caminhando nessa direção, eles se comprometerão de maneira real e eficiente com o engrandecimento do produto que administram: o esporte. E para atingir os objetivos propostos dentro desse processo, uma ferramenta se tornou indispensável: compliance.