Depois de 17 dias da tragédia no Ninho do Urubu, centro de treinamento do Clube de Regatas do Flamengo, o presidente do clube, Rodolfo Landim, veio, pela primeira após o ocorrido, falar sobre o trágico incêndio que levou à morte dez atletas da categoria de base.
Em discurso, o presidente disse que a fatalidade ocorrida no centro de treinamento é, certamente, a maior tragédia dos 123 anos de história do clube rubro-negro. No cargo há pouco mais de 30 dias, justificou que a ausência durante todo esse tempo foi para dar o devido suporte e atenção às famílias.
Entretanto, as informações veiculadas mostram a insatisfação das famílias das vítimas e as esquivas do clube em pagar as indenizações requeridas na reunião organizada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Muito criticado por sua postura, o clube não chegou a um acordo com as famílias.
A imagem da instituição ficou ainda mais abalada. Os pais saíram, além de brutalmente fragilizados pela perda, decepcionados com o clube. Uma das reclamações dos familiares foi que o presidente não teria dado o devido suporte e atenção, nem mesmo na reunião de conciliação.
Não seria mais interessante que, mesmo depois de vários deslizes em situações de crise, o Flamengo encerrasse as demandas das famílias de forma amistosa e rápida? Por que um time que gastou aproximadamente R$ 130 milhões em contratações de atletas profissionais não aceitou pagar valores bem menos expressivos às dez famílias que perderam seus garotos? Por que ofereceu, segundo o MP do Trabalho, R$ 300/ R$ 400 mil para cada família? Quanto teria custado uma instalação adequada aos meninos que estavam sob a responsabilidade do clube no CT?
E o mais importante? Tudo poderia ter sido diferente? A resposta, sim.
Os programas de integridade são temas recorrentes nas empresas e instituições esportivas perante a mídia. Mas, efetivamente, sua implementação caminha a passos lentos. Pouco visto nas gestões esportivas, compliance é fundamental para muitas empresas internacionais e instituições financeiras. Gestores ilibados estão investindo em transparência, segurança e ética em seus clubes.
Infelizmente, como sempre acontece no Brasil, provamos a consequência mais amarga. A lembrança da tragédia permanecerá para sempre na mente de todos, o vazio permanecerá para sempre no colo de cada mãe e, ainda que toda a questão financeira seja resolvida após a tragédia, uma frase dita por Paul McNulty, ex-procurador-geral-adjunto dos Estados Unidos, se fará presente: “Se você acha compliance caro, experimente o não compliance”.
Se o clube seguisse diretrizes de um programa de gestão, provavelmente a estrutura estaria adequada, ou, no mínimo, haveria reserva de recursos para o risco apurado. Respostas rápidas gerariam menos revoltas, menor repercussão negativa à marca Flamengo, sem falar em maior conforto às dez famílias que nunca mais terão a possibilidade de abraçar seus filhos. Isso é compliance.
Esse momento delicado só deixa uma dúvida: como o Flamengo (com sua histórica trajetória de tantas conquistas e títulos, de uma torcida gigante e apaixonada e com tanta tradição) sairá desse problema? Pequeno como tem se mostrado a administração do clube ou gigante como é?
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Foto: Extra.com