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Gigantes confirmam uma derrota anuncada: sem conformidade, crise é logo ali

Lendo manchetes de colegas jornalistas sobre o que anda acontecendo em muitos dos (grandes) clubes brasileiros não me surpreendo. Ali estão escancarados retratos de uma tragédia anunciada, resultado da falta de uma gestão profissional e responsável dos clubes. Isso já era esperado, o que me impressiona é que nessa hora muitos apontem o dedo paro o compliance.

Já começo pelo fim: não existe projeto eficaz de compliance SEM o comprometimento da alta cúpula (chamado de tone at the top – pilar do projeto). Se quem tem a caneta não estiver comprometido com o projeto, ele se torna ineficiente.

Portanto, muitas vezes, a culpa NÃO é do compliance.

Mas afinal, o que é compliance?

Compliance é estar em conformidade. Ou seja, trabalhar seguindo ética, princípios, normas internas e a lei.

Com mecanismos internos de proteção, é possível identificar riscos e implementar medidas de melhoria, além de organizar e tornar a gestão transparente, ética e comprometida.

Ou seja, investir em compliance é valorizar a instituição, os seus parceiros, a sua marca e sua equipe de trabalho.

Um programa de compliance busca o cumprimento de leis e regras por meio de procedimentos e mecanismos que envolvam todos os níveis de uma organização, gerando cultura comportamental mais organizada e ética nas instituições.

Simplificando, o programa desenvolve estratégias, políticas internas e fluxos de trabalho que estimulam, monitoram e cobram colaboradores, do presidente ao estagiário, a fim de evitar atos ilícitos nas empresas e atingir objetivos propostos.

A corrupção é um problema no mundo.

São dados da empresa inglesa de comunicação e informação Thomson Reuters.  informações do relatório da Thomson Reuters 2018 *3

– 94% das empresa no mundo apoiam iniciativas de combate ao crime financeiro;

– quase um trilhão e meio de dólares são desviados em razão da corrupção no mundo;

– 92%  dos empresários entrevistados apontaram que suborno e corrupção são praticas comuns em grandes organizações globais;

No esporte não é diferente

Quando as instituições desportivas aderirem a uma filosofia mais transparente e ética, os resultados começarão a aparecer. Credibilidade e receita serão impulsionados.  Investimentos em compliance e em uma boa governança são necessários para o combate da corrupção e retomada da reputação ilibada das instituições e seus representantes.

Negócios mais sustentáveis, eficiência nas atividades, atração e retenção de talentos na empresa, minimização dos riscos, maiores oportunidades de parcerias, retomada ou manutenção da reputação da marca além de proteger os gestores e representantes das instituições que não estejam envolvidos nas práticas ilícitas às punições legais, esses não alguns dos principais motivos para pensar com mais atenção em um programa de integridade efetivo.

No Brasil, mecanismos de transparência e ética são, além de uma questão moral, exigência legal também no esporte. A Lei de Incentivo ao Esporte, o Profut, a Lei Pelé (no art. 18), o Decreto 8.420/2015, que regulamenta a Lei Anticorrupção (12.846/2013), já cobram das entidades do esporte mecanismos de gestão responsável em troca de crédito e benefícios fiscais.

No ano passado, uma revolução legislativa. A Lei Geral do Esporte foi sancionada e ela tipificou o crime de corrupção privada no Brasil.

Com os últimos presidentes da CBF Ricardo Teixeira, José Maria Marins e Marco Polo Del Nero sendo investigados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, o futebol brasileiro vem sofrendo severas críticas da mídia e de instituições ao redor do mundo, criando um cenário bastante inseguro. Perde-se credibilidade, perde-se dinheiro.

Até parece paradoxo, mas no esporte a evolução nos mecanismos de gestão anda mais lentamente que em outras atividades empresariais.

Mas seria preciso esperar por uma lei mais rigorosa para mudar a forma de gerir nosso esporte? A resposta é: não (muito embora uma legislação esportiva mais severa no combate à corrupção seja muito bem-vinda). Gestores comprometidos com transparência e eficiência devem tratar disso desde já. Afinal, agindo dessa forma, tornariam público o compromisso com a eficiência e transparência.

Como aplicar?

Um projeto de compliance apresenta cenários, riscos e define políticas. Um dia desses um gestor me perguntou o que ele faria com uma regra criada pela instituição que traria uma dor de cabeça interna. A sugestão foi: “cumpra”.

Para ser EFETIVO, compliance precisa de comprometimento da alta cúpula!

Em abril de 2019, eu falei com dirigente de um grande clube sobre compliance, realidade ainda distante do futebol. Disse que o projeto que era questão moral, se tornaria obrigação legal e – logo – sobrevivência.

Nesse ano, logo depois da notícia de que ex-dirigentes do Internacional foram condenados por gestão temerária e formação de quadrilha, ele, já fora do clube, me ligou e começou a conversa com um “lembrei de vc”.

A vigilância aumentou. Ainda bem. As leis também apertaram o cerco. A nova Lei Geral do Esporte tipificou o crime de corrupção privada no Brasil, que não estava tipificado até ano passado.

Os exemplos estão ai. Outdoors espalhados pelo Brasil para todas as torcidas assistirem. E cobrarem.

Quem não entendeu, ou já dançou ou dançará.

Conformidade, governança e compliance não são mais apenas escolhas morais e ferramentais profissionais, são instrumentos de sobrevivência.

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