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Glória olímpica, performance profissional

Talvez seja difícil para os jovens atletas acreditarem, mas os patrocínios, as propagandas e os produtos de marketing, que hoje fazem parte dos Jogos Olímpicos contemporâneos, já forma considerados um grande insulto ao espírito olímpico.

É que para Pierre de Coubertin, o pedagogo que idealizou os Jogos Olímpicos da Era Moderna, os Jogos Olímpicos deveriam ser a máxima expressão do amor ao esporte. Por isso, atletas olímpicos deveriam ser amadores, de forma a se concentrarem apenas em sua performance esportiva, razão pela qual os anúncios e a publicidade estavam proibidos, impedindo que a profissionalização, do evento e de seus participantes, fossem parte do cenário olímpico.

Para garantir o caráter amador dos Jogos Olímpicos, repetidas edições da Carta Olímpica – como é chamada a regra geral para o Movimento Olímpico – trazem menções expressas à proibição de publicidade nos informativos e nas arenas esportivas do evento, como forma de resguardar uma das regras mais firmes dos Jogos Olímpicos: a que exigia que apenas atletas amadores pudessem competir.

Dentre os defensores do amadorismo como requisito essencial para a participação nos Jogos, se destacou o americano Avery Brundage. Presidente do Comitê Olímpico Internacional de 1952 a 1972, ficou conhecido por sua inflexibilidade na defesa do amadorismo, que defendia com tanto vigor quanto acobertava o regime escravocrata americano, o sexismo e o antissemitismo, posições ideológicas que acarretaram a recente remoção de um busto mantido em sua homenagem em um dos museus da cidade de São Francisco.

Ao longo dos anos, atletas e críticos tentaram, sem sucesso, induzir a revisão do sistema excludente e elitista vigente, mas apenas com a chegada das transmissões do evento pela televisão se intensificaram os debates sobre comercialização do evento, o que levava ao debate sobre o profissionalismo.

Assim, no início dos anos 80, o Comitê Olímpico Internacional conclui que os interesses comerciais poderiam finalmente transformar os Jogos em um grande e lucrativo negócio e um programa de marketing, nos moldes como existente hoje, começou a ser implantado, revolucionando o modo como a entidade pensava o financiamento e todo o evento. O programa foi bastante criticado por tornar o movimento olímpico dependente da iniciativa privada, mas foi essencial para o desenvolvimento e evolução do esporte olímpico no mundo.

Para contribuir com essa nova perspectiva, a presença de atletas mundialmente conhecidos seria um atrativo para os espectadores do mundo todo. No entanto, além de famosos, esses atletas eram também, profissionais, o que levou à revisão das definições sobre o tema. Fato é que há muito se suspeitava de que atletas de certos países eram mantidos, em tempo integral, por seus governos, para treinar e competir, o que representava uma vantagem estratégia na comparação com os demais participantes.

A posição definitiva quanto ao tema ganha corpo com a participação do Dream Team, time de basquete dos Estados Unidos, nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992, cuja imagem em seu país e no mundo exemplificavam os profissionais do esporte que todo atleta almejava ser.

Embora fossem regras antiquadas mesmo nos anos 80, suas ideias centrais ainda permanecem na Carta Olímpica na forma das regras 40 e 50, mas não ocultam o fato de que o Movimento Olímpico passou a ser orientado por uma lógica de mercado que, longe de ofender as performances esportivas, maximizou a existência de políticas esportivas para cada Comitê Olímpico Nacional sob a pressão da concorrência televisionada entre os países.

A performance, justificada nos ideais universalmente promovidos pelo Olimpismo, passou a ser objeto de uma produção artística especializada e contabilizada em número de medalhas, instrumento de comunicação que serve tanto à satisfação dos orgulhos nacionais como aos interesses comerciais que incentivam os confrontos entre os campeões.

Vista pela tela das televisões ou transmitida via streaming, a Grécia Antiga pode até parecer apenas uma maquete escolar, mas, de fato, foi a difusão das imagens do evento através da televisão o que mudou todo o conceito dos Jogos Olímpicos, transformando em verdade a máxima de que a glória olímpica continua mesmo após a morte.

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Crédito imagem: Reuters/ATHIT PERAWONGMETHA.

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