O ministro do Interior do Uruguai, Nicolás Martinelli, enviou um ofício à Associação Uruguaia de Futebol (AUF) pedindo para que o jogo entre Peñarol e Botafogo, na próxima quarta-feira (30), no Campeón del Siglo, pela semifinal da Libertadores, seja realizado com torcida única por “razões de segurança”.
Em uma postagem no X (antigo Twitter), o ministro citou como uma das razões para a decisão “análises da Polícia Nacional depois dos episódios de violência ocorridos no Rio de Janeiro antes do jogo de ida”. Ele afirmou também que a medida visa “evitar novos distúrbios entre os adeptos de ambas as equipes”.
“Diante dos incidentes violentos no Rio de Janeiro, durante o jogo de ida da Copa Libertadores entre Peñarol e Botafogo, decidimos proibir a entrada de torcedores do Botafogo no Estádio Campeón del Siglo para a partida de volta, em Montevidéu. Essa medida tem como objetivo evitar possíveis represálias que possam desencadear novos distúrbios entre as torcidas. O Ministério do Interior reafirma seu compromisso com a segurança em eventos públicos e tomará todas as medidas necessárias para que o evento transcorra sem incidentes”, escreveu Nicolás Martinelli.
O ministro pediu que a AUF tome as providências necessárias com a Conmebol para que a partida seja realizada sem a presença da torcida brasileira. A confederação não se manifestou até o momento.
Conmebol pode realizar partida com torcida única?
“Diante da disposição feita pelo governo uruguaio por meio de seu Ministério do Interior, devemos aguardar a manifestação da própria Conmebol para averiguar os impactos legais. Na realidade, se vier a ocorrer essa falha na segurança, como indicado pelo ministro, Peñarol e a AUF (federação uruguaia) poderão ser sancionados pela Conmebol, uma vez que tais entidades são responsáveis pela segurança da partida, conforme o regulamento de segurança da confederação”, explica o advogado desportivo Matheus Laupman.
“Ainda que as entidades desportivas tenham a responsabilidade e gerência da organização deste evento privado, e mesmo considerando a necessidade de isonomia e equilíbrio desportivo, que podem ser afetados pela decisão de torcida única, a segurança é um tema sensível. Na ponderação e interpretação de princípios e normas, ela deve prevalecer para garantir a integridade de todos os envolvidos”, analisa o advogado Luiz Marcondes, especialista em direito desportivo.
O que diz o regulamento da Conmebol?
O Regulamento de Segurança da Libertadores determina que todos os clubes são obrigados a disponibilizar 4 mil ingressos para a torcida visitante nas semifinais. A proibição de entrada do público visitante, por “ordem judicial e/ou disposição do órgão de segurança local”, precisa ser informada com oito dias de antecedência.
O regulamento da competição e o manual de segurança da Conmebol preveem punições para clubes que não disponibilizem todos os ingressos à venda ou que não garantam a segurança necessária para a torcida visitante.
Se todas as entradas para a torcida visitante não forem vendidas, a multa mínima prevista no regulamento é de 20 mil dólares (R$ 113 mil), além de possíveis “sanções adicionais”.
Uruguaios detidos no Rio de Janeiro
Ao todo, 283 uruguaios foram detidos no Brasil. Em audiência de custódia na última sexta-feira (25), a Justiça converteu a prisão de 20 deles para preventiva, liberando apenas um. Eles já estão em um presídio no Rio de Janeiro.
Os torcedores do Peñarol foram autuados por diversos crimes, como: porte de arma, racismo, roubo, associação criminosa, incêndio, dano qualificado e resistência à prisão. Além disso, responderão por infrações previstas no Estatuto do Torcedor.
Botafogo se posiciona
O Botafogo se manifestou, por meio de nota oficial, na tarde desta segunda-feira (28), sobre a tentativa do Ministério do Interior uruguaio e da AUF de realizar a partida com torcida única.
O clube carioca repudiou a decisão unilateral e afirmou que Peñarol e a polícia uruguaia abriram um precedente perigoso ao não garantirem segurança para a torcida visitante, sendo beneficiados por isso.
“O Botafogo discorda veementemente das decisões das autoridades uruguaias. O clube acredita que o Uruguai tem plenas condições de garantir a realização do duelo com total segurança. O Botafogo reafirma ainda que é contra qualquer tipo de violência e preza por uma disputa leal em campo.
O regulamento é claro ao definir que a responsabilidade pela segurança é do clube local ou da federação/confederação nacional. Está evidente que Peñarol e a Polícia de Montevidéu (Polícia Nacional do Estado-Maior – Ministério do Interior) assumiram a incapacidade de garantir a segurança das torcidas e delegações. Essa infração do regulamento não pode passar impune pela Conmebol. Por isso, estamos acompanhando os desdobramentos junto à entidade para assegurar o cumprimento das regras da competição.
Uma decisão unilateral como essa abre um precedente perigoso, pois o argumento de “falta de segurança” pode ser utilizado por outros clubes para impedir a entrada da torcida visitante em jogos da Conmebol. O Botafogo acredita que clubes que falhem em garantir a segurança da torcida visitante não devem ser beneficiados por suas próprias falhas.
As tensões devem ser resolvidas de forma diplomática. O Botafogo tomou todas as providências, incluindo uma comunicação oficial antes do jogo de ida, na qual reforçou a importância de seus torcedores manterem um comportamento pacífico e respeitoso. Esse comportamento exemplar foi observado por parte dos botafoguenses, mas, desde então, o que vimos da direção do Peñarol foram discursos inflamados e uma postura contrária à boa prática institucional. Perguntamos: “Se a direção do Peñarol tivesse adotado uma postura mais construtiva e pacificadora, estaríamos discutindo o tema da segurança hoje?”
O Botafogo confia na Conmebol para tomar as medidas necessárias, garantindo a segurança de todos e preservando o equilíbrio esportivo.
Por fim, o Botafogo acionou o Itamaraty, o Ministério dos Esportes e a Polícia Federal/Interpol para preservar a segurança dos torcedores que estão em Montevidéu.”
Crédito imagem: Peñarol/Divulgação
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