Mais de um ano e meio após a tragédia do Ninho do Urubu, que acabou causando a morte de dez atletas da base do Flamengo, foram divulgados documentos que comprovam que o clube teve, nove meses antes do incêndio, conhecimento que haviam problemas elétrico no alojamento e, que necessitaria de reparos emergências.
Essas informações foram concluídas a partir de e-mails que comprovavam que a administração do centro de treinamentos, através dos relatórios da empresa CBI, já havia constatado deficiência no sistema elétrico da estrutura e que essa situação era de alta relevância e grande risco.
Já algum tempo venho conversando com muitos administradores, presidentes e dirigentes de clubes e instituições do esporte no Brasil sobre a importância, não só organizacional, mas também reputacional e gerencial, que um programa de compliance possibilita à instituição. Entretanto, tenho percebido que boa parte desses gestores ainda vê compliance como gasto e burocratização desnecessários.
Compliance nada mais é do que um programa que visa organizar, obedecer e aprimorar controles que darão um melhor funcionamento à instituição, tornando o negócio transparente, cumpridor das leis e, principalmente, preocupado em evitar riscos.
Um programa de integridade e conformidade, como compliance oferece, só passa a ser visto como investimento, e não custo, quando as grandes tragédias acontecem. Grandes perdas na Bolsa, escândalos de corrupção, acidentes estruturais que levam centenas de mortos e prejuízos ambientais incalculáveis, mas também levam garotos, futuros craques e seus sonhos.
Essa ferramenta visa não apenas evitar corrupção, desvios de recursos e um código de ético bem feito: compliance visa segurança jurídica, um ambiente seguro e agradável. Ou seja, é trabalhar em conformidade com os órgãos fiscalizadores e o bem-estar social.
Se olharmos para trás, a maioria das tragédias que aconteceram no Brasil nos últimos anos poderia ter sido evitada se houvesse o compromisso das gestões em seguir regras básicas de segurança. Se a companhia LaMia tivesse seguido as regras de aviação, o desastre que vitimou 71 pessoas, a maioria da equipe da Chapecoense, não teria ocorrido. Se os donos da boate Kiss, em Santa Maria/ RS, tivessem seguido as regras dos Bombeiros, o incêndio não teria acabado com 242 vítimas fatais. Se as mineradoras de Mariana e Brumadinho tivessem seguido as regras de segurança e fiscalização que são exigidas, os rompimentos das barragens não teriam ocorrido.
O mesmo vale para a tragédia no Centro de Treinamento do Flamengo, que não estava regularizado pelos Bombeiros, segundo a própria Defesa Civil do Rio de Janeiro, com inúmeras multas e construções temporárias que acabaram virando definitivas e agora confirmado pelas provas obtidas nas ultimas investigações. O espaço em que os atletas dormiam só poderia ser usado como estacionamento, conforme diz a Prefeitura do Rio de Janeiro.
Compliance é seguir a lei, cumprir normas, identificar riscos e implementar medidas de melhoria, além de organizar e tornar a gestão transparente, ética e comprometida. Investir em compliance é valorizar a instituição, os seus parceiros, a sua marca e, principalmente, sua equipe. Mas também é salvar vidas.