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Grande Sertão da História

Grande Sertão: Veredas (1956) é um romance escrito por Guimarães Rosa que traz a narrativa de Riobaldo, homem que tece a história de sua vida, fazendo um discurso de descoberta e autoconhecimento. Ao mostrar como é o sertão, ele revela-se a si próprio, reconhecendo-se como o próprio sertão.

Foi, portanto, através da história que Riobaldo se reconheceu como individuo e pertencente a um determinado grupo social. Infelizmente, porém, história não é algo que comova muito os brasileiros. Somos conhecidos como um país sem memória, que não preza por suas raízes e por tudo que faça enaltecer o processo histórico que forjou nossa identidade nacional.

A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro deu mais um passo nesse sentido:  aprovou recentemente um projeto de lei que prevê a mudança do nome do Estádio do Maracanã de “Jornalista Mário Filho” para “Edson Arantes do Nascimento – Rei Pelé”.

A proposta foi aprovada em regime de urgência pelos deputados da Alerj (regime de urgência pra isso??!!) e foi para aprovação do governador em exercício, para sancioná-la ou vetá-la.

 Mudar o nome de logradouros públicos não é algo que deva ser feito sem critérios. Por isso, antes que a Alerj decidisse fazer o que fez, deveria estudar um pouco quem foi Mário Filho.

Para quem não sabe, o homem que emprestou o seu nome ao Estádio foi um jornalista que pautou boa parte de sua vida em defender a construção da arena que se tornou mundialmente famosa. Não fosse o mais ferrenho dos defensores da edificação desse colosso, certamente Pelé não teria feito muitos de seus gols naquele lugar…

Os nomes dos lugares não foram ali colocados por acaso. Eles não são apenas referências cartográficas, mas se encontram empedernidos de motivos, valores e referências históricas que estão por trás de seu registro.

Para quem não sabe também, eles fazem parte do patrimônio cultural brasileiro o qual é protegido pela nossa Constituição. Diz o art. 216 da C.F que “Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira…”

Com efeito, os nomes dos lugares constituem-se em bens de natureza imaterial e precisam ser preservados por todos. Até mesmo o humilde Riobaldo, à sua maneira, mostrou a sua preocupação, quando advertiu:

Entre perto de lá tem vila grande – que se chamou Alegres – o senhor vá ver. Hoje, mudou de nome, mudaram. Todos os nomes eles vão alterando. É em senhas. São Romão todo não se chamou de primeiro Vila Risonha? O Cedro e o Bagre não perderam o ser? O Tabuleiro Grande? Como é que podem remover uns nomes assim? O senhor concorda? Nome de lugar onde alguém já nasceu, devia de estar sagrado. Lá como quem diz: então alguém havia de renegar o nome de Belém – de Nosso Senhor Jesus Cristo no Presépio, com Nossa Senhora e São José?! Precisava de se ter mais travação. Senhor sabe: Deus é definitivamente; o Demo é o contrário Dele…

Se mudar o nome dos lugares é coisa do Diabo eu não sei dizer, mas que acaba com a história e a memória do Brasil, é algo que posso afirmar sem medo de errar.

E assim caminha o nosso país. Apagando as pegadas daqueles que nos antecederam e deixando no ocaso quem contribuiu para progresso da nação, nossos políticos vão ampliando cada vez mais o grande déficit do conhecimento que os  brasileiros possuem sobre a sua própria história.

Isto só dá ao Brasil a incômoda posição de ser um grande sertão.

Um sertão de informações sobre seu próprio passado.

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