Por Victor Rosa Lins Costa
Há algum tempo, o Grupo City, mais conhecido por ser proprietário do Manchester City, equipe inglesa que disputa a Premier League, vem aparecendo em manchetes jornalísticas no Brasil. O interesse do grupo nas terras canarinhas é notório, visto que chegaram a ter conversas avançadas com a diretoria do Atlético Mineiro, discutindo-se uma possível aquisição do clube, que à época ainda não tinha se tornado SAF (Sociedade Anônima do Futebol). Contudo, as conversas não evoluíram, mas isso não significou a desistência dos árabes, que avançaram e concluíram a compra da SAF Bahia. Nessa linha, o grupo vem paulatinamente comprando agremiações de futebol ao redor do mundo, atualmente sendo proprietários de onze equipes, tendo o Palermo como o mais novo membro da “família” City. Mas por que comprar tantos clubes em continentes tão diferentes?
Destarte, se faz necessário apresentar o dono do grupo City, o empresário internacional Mansour Bin Zayed Al Nahyan, nascido em Abu Dhabi, e membro da família real que lidera os Emirados Árabes. Ressalta-se aqui, que existem outros grupos familiares donos de múltiplos clubes, como os Potsí, proprietários do Watford, Granada e Udinese, assim como bilionários excêntricos como John Textor, que tem participação financeira relevante no Crystal Palace, no Botafogo e mais recentemente no Lyon. Todavia, o único capaz de rivalizar com o Grupo City em tamanho e rede de networking é o grupo da Redbull, que atualmente controla sete times espalhados por cinco continentes. Para mais, os dois grupos atuam de formas muitos semelhantes utilizando seus clubes como forma de investimento e vitrine para jogadores, que eventualmente são vendidos por valores milionários.
Ou seja, os clubes controlados pelos dois grupos investem pesado em uma rede de olheiros capazes de encontrar jovens talentos nos diferentes cantos do globo, o que os permite terem maior coleta de dados sobre os atletas, e que consequentemente possibilita uma melhor tomada de decisão na hora de efetuar os investimentos. Ambos os grupos têm seus clubes principais, ou “flagships”, sendo eles o RB Leipzig e o Manchester City. Contudo, é nesse momento que a diferença entre o Grupo City e a Redbull aparece, pois enquanto o RB Leipzig opera de forma idêntica aos seus clubes irmãos, embora que em maior escala, o Manchester City desfruta de posição privilegiada em seu grupo, pois sua intenção não é obter lucro, mas atingir o maior sucesso desportivo possível. Desde 2012, o clube inglês gastou quase um bilhão de euros, quantia que não seria recuperada nem mesmo se a equipe tivesse ganho a Liga dos Campeões em todas as últimas onze temporadas. Por outro lado, o RB Leipzig opera com grandes lucros há anos, ao passo que vendem suas principais estrelas sem hesitação quando ofertas vultuosas são postas à mesa.
Afinal, por que o Grupo City proporciona um tratamento especial ao Manchester City? Isso acontece porque ser dono do Manchester City é uma questão de status para os “sheiks” dos Emirados Árabes, uma forma de mostrarem o poder e a competência de seus líderes. Além disso, o clube inglês funciona como uma espécie de veículo de propaganda para o país, que busca ganhar destaque no cenário internacional. A título de exemplo, a série “All or Nothing: Manchester City”, lançada em 2018, busca em diversos momentos promover a imagem dos Emirados Árabes Unidos. Nessa linha, os times da Arábia Saudita vêm seguindo o mesmo caminho de seus vizinhos, dado que, por meio de investimentos pesados na contratação de grandes estrelas do futebol mundial, almejam atrair o interesse da grande mídia.
Portanto, o projeto do Grupo City vai muito além da montagem de um dos melhores times do mundo, pois almeja atrair a atenção, em especial do mercado de turismo de luxo, para o país, assim como os projetos do Qatar e da Arábia Saudita. Os debates que concernam os gastos exorbitantes com o futebol ou as acusações de “sportswhashing” são válidos, mas merecem momento oportuno para serem discutidas. Fato é que o Grupo City é um projeto de sucesso, que faturou sua primeira Liga dos campões da Europa, e que não parece querer parar por aí.
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Victor Rosa Lins Costa – Graduando em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Certificação em Direito Desportivo pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Membro do Grupo de Estudos em Direito Desportivo (GEDD) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Estudante.