Eduardo Luz
Fernando Silvestre
Será que andar na linha da lei é sinônimo de sucesso desportivo? Podemos falar que o compliance é uma das palavras de prateleira no mundo dos negócios no esporte nacional. Mas afinal, será que há de fato a sua efetiva implementação pelas grandes entidades de prática desportiva no Brasil? Além de cumprir com a legislação, o que é necessário fazer e implementar na corporação esportiva para se lançar na prateleira dos maiores players com poderio econômico?
Sabe-se que as entidades de prática desportiva que apenas sigam a legislação pública e esportiva, mas não criem e instrumentalizem metodologias internas para defender e aplicar ações éticas e a morais que gerem constantes de resultados empresarial deixarão de ser candidatas a protagonista no curto prazo.
Mas para se implementar o programa adequado de compliance, parte-se do entendimento do que significa a ética e moral. O primeiro pode ser entendido como a obediência que não é obrigatória, sendo boa, justa e que coloca o coletivo sobre o indivíduo. Logo, ética é um dos poucos valores universais, sendo que qualquer pessoa pode ser ética aqui no Brasil ou em qualquer lugar do mundo.
Diferentemente, moral é algo que é certo ou errado em algum lugar, dependendo da sua cultura. Logo, vê-se que tudo que pode ser certo ou errado é moral, ou passo se é bom ou mau estar-se-á falando de ética. Quanto maior o número de leis, menor é a ética em determinado local. Se o determinado povo fosse ético, não precisaria de leis ou punição nenhuma. Isso porque a lei só surge no vácuo deixado pela falta de ética.
Em um cenário de inúmeras leis com escândalos recorrentes no esporte nacional, a introdução de políticas de governança empresarial numa estrutura base, com a implementação de um programa de compliance num segundo momento, para posterior desenvolvimento de práticas sofisticadas de ESG, pode ser a chave principal para uma jornada de sucesso. Contudo, limitar-se-á aqui a tratar do compliance.
Para tanto, a implementação de um programa de compliance pode trazer uma série de benefícios nas organizações desportivas, em praticamente todas as esferas, ao trazer uma maior transparência e ética às operações, desde a criação de um departamento de análise de dados para monitoramento de contratação de atletas com perfil determinados e em mercados alternativos, com até a gestão estratégica financeira pautada em super controle de gastos, assegurando que todas as ações sejam realizadas não só de maneira íntegra e responsável, como também de forma leal com o mercado e seus stakeholders.
A adoção do programa tem o condão de diminuir a aplicação de sanções e penalidades financeiras, melhorando o fluxo de caixa da instituição. Além de combater fraudes, corrupções e manipulação de resultados, evitando possíveis escândalos, que convenhamos, assola o desporto nacional.
Além disso, a marca da organização desportiva ganhará mais apelo e credibilidade junto aos fãs, patrocinadores e investidores. A imagem de uma corporação esportiva transparente e ética é um ativo valioso que pode atrair mais recursos e alianças estratégicas. Uma boa reputação pode auxiliar no enfrentamento de momentos de crises e manter a confiança de seus fornecedores. Veja o exemplo no futebol do Flamengo/RJ e do Palmeiras/SP, os quais uma década atrás viveram um processo de reestruturação, sendo hoje os clubes com melhor credibilidade no mercado. Já o Corinthians/SP, hoje vive uma situação inversa, envolvendo-se em diversos escândalos nos últimos anos.
Como exemplo de mecanismos de compliance a serem implementadas, destaca-se (1) a nomeação de executivo controller com função de assegurar o correto tratamento de informações que o clube tem acesso estejam de acordo com Proteção de Dados (2) elaboração de um regimento Interno e Código de Conduta definindo os padrões éticos e comportamentais esperados por todos os colaboradores e fornecedores, (3) instituição de um canal de denúncias onde eventuais irregularidades cometidas possam ser denunciadas e investigadas com o devido anonimato, (4) contratação de um departamento jurídico multidisciplinar interno e conexo para identificar a gestão de riscos que a atividade do mercado esportivo exige, (5) realização auditorias periódicas junto consultorias especializadas e por fim, não menos importante, a (6) realização de treinamentos constantes com profissionais capacitados na garantia de que todos esses mecanismos de controle e de governança sejam aplicados em linha da cultura organizacional e que gerem resultados no médio e longo prazo.
No entanto, por mais bonito que pareça ser, mudar a cultura de uma organização centenária e aplicar de fato uma controladoria é uma tarefa bastante árdua, visto que há uma série de desafios políticos e institucionais a serem enfrentados internamente, como a limitação de recursos financeiros e a pressão exercidas por diretores e conselheiros de alto escalão sem preparo executivo esportivo.
À medida que o esporte se desenvolve, as organizações desportivas serão cada vez mais exigidas a implementar práticas robustas de governança para – além de evitar escândalos – sustentar a integridade e transparência das competições. Para tanto, há duas maneiras de se fazer a implementação do compliance, a primeira é pelo “amor”, na qual ele é feito de maneira preventiva, antes de que qualquer escândalo venha a acontecer, protegendo e zelando pela reputação do clube. Já a segunda maneira é pela “dor”, a qual é muito mais dura e difícil de implementar, necessitando uma mudança cultural ainda mais forte, sem levar em conta o tempo e a energia que se é gasta, para recuperar a imagem da corporação esportiva.
A adoção de práticas de governança aliada a implementação de uma controladoria é fundamental para o atingimento dos objetivos. Embora os desafios sejam significativos, especialmente dos esportes olímpicos e dos emergentes, os benefícios em termos de transparência, prevenção de fraudes e melhoria da reputação das organizações justificam plenamente os esforços necessários. Para que o esporte brasileiro continue sendo uma paixão nacional e respeitado globalmente, é essencial que a integridade e a ética sejam pilares fundamentais em sua condução.
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