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Inatividade de clube ‘dos brasileiros’ expõe falência do futebol chinês

Considerado um dos clubes mais ricos da Ásia, o Guangzhou FC não participará das competições profissionais de futebol da China nesta temporada. O time, que contou com diversos brasileiros nos últimos anos, teve sua licença negada pela Federação Chinesa de Futebol no início do ano por não cumprir os requisitos financeiros necessários.

“Para ser admitido na liga profissional na nova temporada, o clube está trabalhando muito de diversas maneiras. No entanto, devido às pesadas dívidas históricas, os fundos angariados não foram suficientes para saldar a dívida e, em última análise, não conseguimos obter acesso, o que lamentamos profundamente”, declarou o Guangzhou FC.

De acordo com a imprensa chinesa, o clube decidiu encerrar as atividades profissionais em razão do agravamento da crise econômica iniciada em 2021. No ano passado, o Guangzhou FC ficou em terceiro lugar na segunda divisão e não conseguiu retornar à elite do futebol chinês.

A crise não é uma exclusividade do Guangzhou FC. Outros dois clubes também tiveram a licença negada por problemas financeiros, como é o caso do Cangzhou Mighty Lions, da primeira divisão, e o Hunan Billows, da terceira.

O cenário expõe a falência do futebol chinês. Mas o que levou um dos mercados mais ricos do mundo a chegar a essa situação? Especialistas ouvidos pelo Lei em Campo pontuaram alguns fatores que foram fundamentais para levar a essa situação.

Segundo o advogado desportivo Victor Targino, há uma série de fatores, entre eles os altos salários pagos aos jogadores sem fontes de receita seguras.

“Não se faz uma liga competitiva e sustentável da noite para o dia, e o futebol chinês é o exemplo disso. A saturação de estrelas e seus supersalários, sem fontes de receita seguras, sem um futebol de base forte e sem mecanismos de equilíbrio e compromisso financeiro entre os clubes (que, em sua maioria, eram absolutamente dependentes de empresas convencionais), fez com que a liga chinesa sucumbisse à pandemia. Ou seja, quando o calo apertou e as empresas precisaram fechar a torneira para suportar a crise econômica no período da Covid-19 e além, os principais cortes ocorreram nas despesas supérfluas – no caso chinês, os clubes de futebol”, avaliou o especialista.

“Num paralelo grosseiro, pode-se citar o exemplo da Honda, montadora japonesa que, diante da crise econômica de 2008, cortou os investimentos em sua equipe de Fórmula 1, resultando na venda dos ativos para o lendário Ross Brawn pelo simbólico valor de 1 (uma) libra. No caso do Guangzhou FC, há um agravante: sua controladora, a Evergrande, era um conglomerado ligado ao ramo da construção civil – setor que, no cenário chinês, vive uma severa crise desde 2021 – e teve sua falência decretada pela Justiça de Hong Kong no início de 2024, estando em processo de liquidação”, acrescentou Targino.

O economista Cesar Grafietti cita a forma desorganizada com que o futebol chinês cresceu.

“Quando houve aquele boom inicial, foi apenas uma reação local aos interesses de Xi Jinping, que gosta do esporte. Por incrível que pareça, os gastos com aquelas contratações caras não foram planejados, mas uma reação política. Quando o governo central percebeu que havia um enorme rombo nas contas dos clubes, muitos deles de propriedade de empresas estatais ou de províncias, cortou rapidamente os gastos. Foi um duro golpe no movimento. E o negócio nunca evoluiu, porque não foi feito de maneira organizada”, afirmou.

Segundo Grafietti, o cenário da China é totalmente diferente dos Estados Unidos e da Arábia Saudita, países que também investiram massivamente no futebol.

“É diferente, por exemplo, do que ocorreu lá atrás com a MLS, que colheu os frutos tardiamente por conta de um excesso de zelo – e algum boicote da NFL –, ou da Arábia Saudita, que tem um projeto que culmina na Copa de 2034, mas conta com total apoio do governo local. Na China, foi apenas desorganização. Não vejo risco semelhante em outros mercados, nem paralelo com ninguém”, acrescentou o economista.

Antes conhecido como Guangzhou Evergrande, por conta da gigante do mercado imobiliário chinês, o time da região sul da China foi um dos mais ativos no mercado internacional no início da década passada, aproveitando um momento de expansão do futebol no país.

Vitorioso técnico no futebol brasileiro, Luiz Felipe Scolari dirigiu o Guangzhou FC entre 2015 e 2017, conquistando três troféus da Superliga Chinesa (2015, 2016, 2017), um da Liga dos Campeões da Ásia (2015), um da Copa da China (2016) e dois da Supercopa da China (2016 e 2017).

Jogadores que se destacaram no futebol brasileiro também vestiram a camisa do Guangzhou FC, como Paulinho, Elkeson, Robinho, Anderson Talisca, Aloísio “Boi Bandido” e Ricardo Goulart.

Na ‘era de ouro’, o Guangzhou FC investiu pesadamente em jogadores, quebrando o recorde de transferências da China várias vezes, enquanto o Evergrande Group injetava milhões no clube.

Em 2020, o clube começou a construção de um novo estádio de US$ 1,86 bilhão, que o Evergrande Group anunciou que teria capacidade para pelo menos 80 mil torcedores. Contudo, o projeto foi cancelado em 2022, pois o grupo acumulou US$ 300 bilhões em passivos.

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