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Incêndio no Ninho do Urubu completa dois anos: confira os acordos fechados e como andam as investigações

O trágico incêndio no Ninho do Urubu completou dois anos nesta segunda-feira (8). Naquela madrugada do dia 8 de fevereiro de 2019, dez jovens das categorias de base do Flamengo morreram no Centro de Treinamento do clube deixando para trás famílias, amigos e o sonho de se tornar jogador de futebol.

Desde então, uma série de investigações e ações na justiça tomaram conta do caso. Até o momento, o Flamengo fechou indenização com 8 das 10 famílias (Athila Paixão, Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Gedson Santos, Jorge Eduardo Santos, Pablo Henrique da Silva, Samuel Thomas Rosa e Vitor Isaías), não chegando a um entendimento com os familiares de Rykelmo e Christian Esmério.

“O Flamengo deveria ter sido mais transparente em todo o processo. O que aconteceu foi trágico, triste demais. 10 jovens perderam suas vidas. Mas em termos de gestão, não foi algo imprevisível. Aconteceu porque os responsáveis não agiram com controles necessários. Além da necessidade de fazer acordos buscando uma reparação dos danos sob o ponto de vista das vítimas, tendo um olhar mais humano para a situação, o Flamengo deveria ser mais transparente com a forma como lida com esses acordos e com o que aconteceu”, avaliou Fernando Monfardini, advogado especialista em Compliance.

Além das vítimas fatais, outros 16 meninos estavam no alojamento durante o incêndio. Destes, apenas sete seguem jogando pelo Flamengo, são eles: Cauan (atacante), Francisco Dyogo (goleiro), Filipe Chrysman (atacante), Kayque Soares (zagueiro), Rayan Lucas (volante), Samuel Barbosa (atacante) e Jhonata Ventura (zagueiro).

Denúncia do Ministério Público

No dia 19 de janeiro, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) aceitou uma denúncia apresentada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro sobre o incêndio. Com isso, 11 pessoas se tornaram réus no caso e responderão pelo crime de incêndio culposo qualificado pelos resultados morte e lesão grave. São elas: Antonio Marcio Mongelli Garotti, Carlos Mamede Noval, Claudia Pereira Rodrigues, Danilo da Silva Duarte, Edson Colman da Silva, Eduardo Carvalho Bandeira de Mello, Fábio Hilário da Silva, Luiz Felipe Almeida Pondé, Marcelo Maia de Sá, Marcus Vinicius Medeiros e Weslley Gimenes.

As penas, previstas nos artigos 250 e 258 do Código Penal, são de 1 ano e 4 meses a 4 anos de detenção, com aumento de pena de um sexto até a metade, em razão do concurso formal.

“Dois anos após a tragédia, a resposta dada pelo clube se mostrou insuficiente, diante da grandeza da instituição e do impacto no futebol nacional, um dos poucos motivos de orgulho e esperança dos brasileiros. Independentemente da tipificação das condutas na denúncia oferecida pelo Ministério Público, como incêndio culposo (sem intenção) qualificado e não como homicídio culposo, a postura do clube deveria ser de mais respeito, zelo e responsabilidade com as vítimas e suas famílias. Destes, muitos deixaram o clube após o término de seus contratos, alguns foram acolhidos por outros clubes, enquanto outros ainda seguem sem contrato, amparo e rumo certo”, afirmou Rodrigo Carril, advogado especialista em gestão e membro do Instituto Compliance Brasil.

Na denúncia, o MP-RJ aponta irregularidades cometidas e o não cumprimento de sanções administrativas impostas pelas autoridades, além do descumprimento de normas técnicas regulamentares.

“Ocultação das reais condições ante a fiscalização do Corpo de Bombeiros, contratação e instalação de contêiner em discordância com regras técnicas de engenharia e arquitetura para servirem de dormitório de adolescentes, inobservância do dever de manutenção adequada das estruturas elétricas que forneciam energia ao aludido contêiner, inexistência de plano de socorro e evacuação em caso de incêndio e, dentre outras, falta de atenção em atender manifestações feitas pelo MPRJ e o MPT a fim de preservar a integridade física dos adolescentes”, apontou.

O Ministério Público ainda descartou a existência de fatores externos como as causas pela tragédia que vitimou dez adolescentes e trouxe graves lesões em outros três no dia 8 de fevereiro de 2019. Na noite da tragédia, uma forte chuva caiu sobre o local, o que foi apontado por alguns como a causa para um curto circuito nos aparelhos de ar condicionado dos alojamentos.

“Não concordo com a tese de alguns especialistas que o incêndio foi um cisne negro, que é um risco que não pode ser previsto. O mínimo de qualquer estabelecimento são medidas em caso de incêndio”, completou Monfardini.

Agora, o próximo passo do MP-RJ é ouvir outras 53 pessoas, dentre elas o presidente atual do Flamengo Rodolfo Landim, o vice Rodrigo Dunshee, o CEO Reinaldo Belott, o ex-vice de Patrimônio Alexandre Wrobel e os sobreviventes do incêndio.

“Respostas a eventos de crise como este devem considerar não apenas os impactos financeiros ou consequências imediatas, mas tudo que possa comprometer todos os públicos que de algum modo são interessados ou impactados com as decisões da instituição. E, acima de tudo, conferir o respeito máximo devido aos envolvido”, finalizou Carril.

Nesta segunda-feira (9), o Flamengo, por meio de seu Twitter, relembrou a tragédia e prestou uma homenagem às vítimas.

“São 10 estrelas a brilhar no céu do meu Mengão… Há dois anos, #Nossos10 se foram, deixando em cada coração rubro-negro uma dor irremediável e uma saudade sem fim. Athila, Arthur, Bernardo, Christian, Gedson, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Rykelmo, Samuel e Vitor Isaías, o Flamengo vai jogar para sempre por vocês”, escreveu o clube.

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