Um antigo fantasma voltou a causar preocupação a Juventus, maior campeã do futebol italiano com 36 títulos. Isso porque as investigações sobre crimes financeiros conduzidas por autoridades do país, na qual o Lei em Campo contou no começo de novembro, está avançando e poderá acarretar em inúmeras consequências se comprovadas as irregularidades. Mas quais são as chances da Vecchia Signora ser rebaixada para a segunda divisão e ter o último scudetto (temporada 2019/2020) anulado, assim como aconteceu em um passado não tão distante?
O economista César Grafietti, consultor do Itaú BBA, é cauteloso e ressalta a complexidade do caso.
“Por enquanto a Juventus e outros clubes estão sendo investigados pelo Ministério Público e pela Consob (a Comissão de Valores Mobiliários da Itália). Quem pediu punição de rebaixamento e perda dos títulos foi a Codacons, uma espécie de Procon italiano. Ou seja, não tem força de lei. E a questão é complexa, porque não é evasão fiscal, porque os clubes forjavam lucro para não desrespeitarem o fair play financeiro. Assim, acabam pagando impostos por lucro fictício”, afirma.
O advogado João Paulo Di Carlo, especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo, afirma que as investigações ainda estão nas fases iniciais e se sabe pouco sobre o acervo probatório oriundo das buscas nas sedes da Juventus.
“Apesar disso, a Associação dos Consumidores (CODACONS) vai entrar com o pedido junto ao órgão Antitruste e a Procuradoria Federal para que, uma vez confirmada todas as acusações, o clube perca os títulos nacionais conquistados nos últimos anos e retroceda para a Série B, sem prejuízo da responsabilização dos dirigentes envolvidos. Não podemos olvidar que o clube é uma sociedade anônima, que cotiza na Bolsa de Valores, portanto, as questões de falsificação de documentos e mais valias fictícias, têm o condão de afetar os consumidores, os investidores e a concorrência”, explica.
“A questão é de burlar o fair play financeiro e no caso da Juventus, manipular o valor das ações ao publicar resultados melhores que a realidade. E é complexo porque não há como dizer quanto vale um atleta. Logo, a negociação é livre. Tudo foi feito de forma regular. O problema está num sistema de controles frágil, facilmente manipulado. E se passar um pente fino no mercado haverá mais casos. Portanto, pelo que se comenta por aqui (Itália) a possibilidade de rebaixamento não é considerada além de um instrumento de pressão externo ao futebol”, acrescenta Grafietti.
Segundo o Ministério Público de Turim, que na última segunda-feira (29) conduziu um depoimento de três horas do CEO da Juventus, Maurizio Arrivabene, o clube realizou investimentos além das previsões orçamentárias e outras operações “pouco precisas”, incluindo o pagamento de salários excessivos.
De acordo com os investigadores, o clube lançava em seus balanços ganhos de capital fictícios oriundos da negociação de jogadores, receitas que seriam de “natureza meramente contábil”. Ao todo, a investigação analisa cerca de 42 transferências realizadas pela Juve entre 2019 e 2021, e totalizam aproximadamente 280 milhões de euros (R$ 1,79 bilhão) no período.
Uma dessas operações é a de Pjanic, que foi vendido ao Barcelona por 60 milhões de euros. Com essa quantia, o clube de Turim comprou Matheus Pereira (8 milhões de euros), Arthur (72 milhões de euros) e Alejandro Marqués (8,2 milhões de euros). Sendo assim, estima-se que a Juve ganhou quase 50 milhões de euros com essas negociações.
Outros negócios investigados são do lateral João Cancelo, que se transferiu para o Manchester City por 65 milhões de euros, e de Danilo, que fez o caminho inverso por 37 milhões de euros.
Os investigadores acreditam que a Juventus usava a cessão de jovens jogadores por “valores fora do padrão” para esconder prejuízos. Dessa forma, o clube negociava o atleta por determinada quantia, mas, para não lançar esse número no balanço, dizia que havia cedido um jogador por um valor semelhante.
Por enquanto, estão sendo investigados os seguintes dirigentes da Juventus: Andrea Agnelli, presidente; Pavel Nedved, vice-presidente; Fabio Paratici, ex-diretor esportivo; Stefano Cerrato, diretor financeiro; Stefano Bertola, ex-diretor financeiro; e Marco Re, ex-dirigente.
Essa não é a primeira vez que o futebol italiano é alvo de investigações. O caso mais conhecido ocorreu em 2006, quando a própria Juventus acabou sendo rebaixada para a segunda divisão do Campeonato Italiano e ainda perdeu os títulos conquistados nas temporadas 2004/2005 e 2005/2006, por “fraude esportiva” e “lesão à ética esportivas” feitas por conta de um esquema de manipulação de resultados com a arbitragem.
Crédito imagem: Juventus
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