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Jogos Olímpicos, Olimpíada e o simbolismo de Tóquio 2021

Muitas especulações rondam a realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio, e pesquisas apontam que determinadas empresas são favoráveis ao cancelamento[1].

Se tudo der certo, a capital nipônica será o palco da XXXII edição dos Jogos Olímpicos, conforme resultado obtido após a eleição da cidade-sede que teve lugar em Buenos Aires, no dia 7 de setembro de 2013, durante a 125ª Sessão do Comité Olímpico Internacional.

Inicialmente cumpre esclarecer a diferença entre Jogos Olímpicos e Olimpíada e para tal louvo-me da lição do advogado Márcio Aguiar que, com maestria, traz a regra número 6 da Carta para esclarecer que “Olimpíada é o período de quatro anos entre a realização de cada Jogos Olímpicos”[2]. Desta forma, cada Olimpíada inicia no primeiro dia de janeiro do primeiro ano de realização dos Jogos e segue até o dia 31 de dezembro do quarto ano, véspera do próximo evento, razão pela qual, a XXI deveria ser experimentada até 31.12.2019, mas em razão da pandemia, este ciclo foi alterado.

Durante os Jogos Olímpicos da Era Moderna, iniciados em Atenas no ano de 1896, a Olimpíada teve o seu ciclo de 4 anos alterado apenas em razão das duas Grandes Guerras que provocaram o cancelamento dos Jogos Olímpicos de 1916, 1940 e 1944.

Os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga constituíam uma significativa manifestação das estruturas e valores sociais daquele povo. O professor José Esteves lembra que, ao contrário do que nos foi ensinado na escola o ideal de crença, paz e fraternidade é um mito, tendo em vista que as competições eram rigorosamente proibidas a estrangeiros e escravos, portanto, vedada à todos os que não fosse gregos livres e que trabalhassem. Logo, havia uma manifesta discriminação racial, cultutral e social[3].

Outrossim, a paz dos Jogos antigos se traduzia em condição para a realização destes e jamais o seu objetivo central.

Com efeito, as Olimpíadas refletem um dos traços culturais mais antigos no âmbito desportivo e sua edição mais remota data de 776 a 393 a.C., com cultos a divindades. De acordo com Márcio Aguiar, os homens rendiam a Zeus a sua participação nos Jogos, enquanto as mulheres honravam a Hera, sendo que a participação das mulheres foi admitida dois séculos após a realização dos primeiros Jogos. Para as mulheres as Olimpíadas se chamavam Heraia, em homenagem a deusa Hera, mulher de Zeus[4].

Felizmente a evolução histórica permitiu que uma prática segregacionista, envolta em casos de doping e corrupção e que foi utilizada para incentivar a guerra, atualmente simboliza a celebração da paz, a união de povos o ideal do jogo limpo e o respeito e combate a discriminação entre sexos e raças.

Com suas modalidades de verão e de inverno, os Jogos possibilitam a união de milhares de atletas em mais de três dúzias de diferentes modalidades desportivas. Isso sem falar nos Jogos Paralímpicos e nos Jogos Olímpicos da Juventude que promovem a saúde do corpo e da mente em seus múltiplos aspectos.

Para Gérald Simon, o movimento olímpico ocupa um lugar especial no sistema desportivo. É certamente, como as outras estruturas do movimento desportivo, uma organização efetivamente desportiva, uma vez que assegura a realização, a cada quatro anos, de um evento que se globalizou e que constitui o principal ponto de encontro de grande parte das disciplinas admitidas aos Jogos[5].

Em 1892, Pierre de Coubertain expressou o seu ideal de restabelecer os Jogos Olímpicos, fato este consagrado a 23 de junho de 1894. Coube ao francês a introdução do conceito de Olimpismo nos Jogos, sendo que este constitui o valor maior do Movimento Olímpico, a ponto de ser apresentado na Carta Olímpica como o primeiro de seus princípios, com o objetivo de colocar o desporto ao serviço do desenvolvimento harmonioso da pessoa humana em vista de promover uma sociedade pacífica preocupada com a preservação da dignidade humana.[6]  

Desta forma, a realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio neste conturbado período no qual o mundo atravessa, em razão da pandemia provocada pela Covid-19, terá o simbolismo de concluir a Olimpíada, já com o seu ciclo alterado, mas com uma mensagem de esperança mundial e celebração da vida e da fraternidade.

……….

[1] Neste sentido foi a matéria trazida pelo Lei em Campo nesta semana, na qual uma pesquisa feita pela Tóquio Shoko Research concluiu que 56% das empresas do Japão são favoráveis ao cancelamento ou adiamento do evento. Disponível em: https://leiemcampo.com.br/pesquisa-aponta-que-maioria-das-empresas-japonesas-sao-favoraveis-ao-cancelamento-dos-jogos-olimpicos/. Acesso realizado em 16.02.2021.

[2] AGUIAR, Márcio. Olimpíadas. In MESTRE, Alexandre Miguel (Cord.). Enciclopédia de Direito do Desporto. Gestlegal, Coimbra, 2019. p. 300.

[3] ESTEVES, José. O Desporto e as Estruturas Sociais. Círculo de Leitores, 4ªedição. Lisboa, 1975. p. 18.

[4] AGUIAR, Márcio. Op. Cit. p. 300.

[5] SIMON, Gérald. CHAUSSARD, Cécile. ICARD Philippe. JACOTOT, David. LA MARDIÈRE, Christophe. THOMAS. Vincent. Droit du sport. Thémis. Paris. 2012. p. 13. (Tradução livre).

[6] Disponível em: https://comiteolimpicoportugal.pt/definicao-olimpismo/. Acesso realizado em 16.02.2021.

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