A procuradoria-geral do Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paulista de Ginástica (TJD-SP) fará um pedido de instauração de inquérito para apurar relatos de assédio moral e racismo feitos por atletas do Esporte Clube Pinheiros. As ocorrências relatadas se deram no período de 2013 até 2019. Ao todo, 16 atletas foram ouvidos. O documento do Pinheiros traz os relatos de abuso moral sofrido pelos ginastas, sem citar os nomes para manter o anonimato, e foi revelado pelo Esporte Espetacular, da rede Globo.
“O pedido tem que ser bem formulado diante de todos os fatos que pudermos ter notícia além da reportagem. Após o pedido encaminhado, um auditor é sorteado para apurar os fatos. Ele fará oitiva de todos envolvidos, levantará a documentação pertinente e, ao final, apresentará um relatório. Diante desse relatório será possível decidir sobre o oferecimento da denúncia”, explica ao Lei em Campo a procuradora-geral do TJD da Ginástica Alexandra Real Amadeo.
O resultado da auditoria interna e a atitude do Pinheiros em relação ao relatório produzido confirmando a existência de abusos e racismo no clube também estão na mira do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) da Ginástica. A Procuradoria-Geral do STJD avalia se vai instaurar procedimento.
O inquérito tem por finalidade apurar a autoria e a materialidade de uma infração disciplinar. Na visão dos órgãos que julgam as infrações aos códigos desportivos, é um caso extremamente grave. O Pinheiros pode ser multado. Já a situação dos técnicos é diferente. Para serem culpados, é preciso a individualizar as condutas para que possam ser processados disciplinarmente.
No documento interno do Pinheiros, cinco técnicos são acusados pela auditoria de maus-tratos contra atletas da ginástica do tradicional clube paulistano: Hilton Dichelli, Cristiano Albino, Lourenço Ritli, e, em menor grau Felipe Polaco e Danilo Bornea. Eles admitiram “gritar para garantir a execução dos movimentos” e, à auditoria, confirmaram que as cobranças aos atletas militantes eram “bem mais intensa do que aos atletas associados”.
“O caso demanda muito estudo e a provocação do órgão judicante será feita no momento apropriado. Há dois lados na moeda. A minuciosa aplicação de um instrumento procedimental deve ser certeira, já que pessoas são envolvidas”, analisa o presidente do TJD da Ginástica, João Guilherme Guimarães Gonçalves.
Em uma eventual denúncia, o artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva define que quem “praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”, pode sofrer suspensão de cinco a dez partidas, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, e suspensão pelo prazo de cento e vinte a trezentos e sessenta dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural submetida a este Código, além de multa de R$ 100 a R$ 100 mil.
Nesta segunda-feira (24), a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) pediu esclarecimentos, por meio de ofício, ao Pinheiros. A entidade diz que “não tolera e repudia todo e qualquer tipo de assédio e de preconceito” e que “solicitou esclarecimentos ao Esporte Clube Pinheiros quanto aos fatos relatados para análise e medidas cabíveis”.
“Não temos ainda nada concreto, apenas uma reportagem que se refere a um documento. Mas tudo vai ser apurado e esperamos que os culpados recebam a sanção disciplinar respectiva”, promete Alexandra Real Amadeo, procuradora-geral do TJD da Ginástica.
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