Depois de quase seis meses de articulação, o senador Jorge Kajuru conseguiu o apoio necessário para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as confederações esportivas. Mas, de acordo com o parlamentar, a CBF trabalha nos bastidores para evitar que a CPI do Esporte seja instaurada no Senado.
“A CBF colocou três lobistas no Senado que vão ao presidente do Senado, à mesa diretora do Senado, para que o presidente do Senado engavete a CPI do Esporte. Tenho medo, mas acho difícil. Descobri que há uma jurisprudência, do Supremo, que toda CPI tem que ser instalada na hora se conseguir os votos necessários. Então o presidente (do Senado, Davi Alcolumbre) errou ao não acatar a CPI da Toga. A CPI do Esporte, pensei que ele ia ter a mesma postura. Eu perguntei para ele e ele deu a palavra dele de que ela ia ser instalada em função do número de assinaturas”, disse Kajuru, em contato com o Lei em Campo.
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Ao todo ele conseguiu o apoio de 50 senadores, mas um retirou a assinatura, fazendo com que a CPI do Esporte contasse com 49 assinaturas em seu requerimento, fazendo dela uma das Comissões que mais tiveram apoio. Para ser implantada, uma CPI precisa ter um terço de apoio, ou 27 senadores.
Segundo o senador, os três lobistas que a CBF plantou em Brasília seriam Vandenberg Machado, Weber Magalhães e Vicente Cândido. A CBF nega.
“A desinformação é o caldo do equívoco”, filosofou o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, para rebater as acusações do senador. “Qualquer afirmação que cite máfia, lobista, não está no nosso vocabulário, não são aceitas no cenário mundial. Temos enorme respeito pelo trabalho que realizamos”, completou Feldman.
Kajuru conta que, por conta da atuação dos lobistas, os pedidos para que os trabalhos da CPI comecem com o Comitê Olímpico Brasileiro são constantes. Mas que não vai ceder à pressão.
“A CBF está morrendo de medo. Tem indício de que a CBF indicava indiretamente quem a Caixa deveria patrocinar por meio de deputados e senadores. A CBF mandou falar para mim que o Feldman queria conversar comigo que a CBF de hoje não é a de ontem e não é justo colocar a CBF na CPI. Mas a CBF não mudou, os cachorros são os mesmos, só mudou a coleira”, afirma Kajuru.
Walter Feldman nega que Vandenberg, Weber e Vicente estejam trabalhando para que a CPI não seja instalada.
“A CBF tinha um escritório em Brasília. O Vandenberg era nosso diretor de relações institucionais. Mas o escritório foi fechado em abril até porque não queríamos nenhum tipo de associação com esse tipo de assunto. O Weber foi vice-presidente da CBF até o ano passado. E o Vicente Cândido foi diretor internacional da CBF. Mas depois que eles saíram da CBF, não temos conhecimento de que eles estejam em Brasília falando com parlamentares. Eles tinham essa atividade de acompanhamento dos projetos, de caráter legislativo. São mais de 120 projetos no esporte. Então tinha debate com parlamentares, sugestão de emendas”, rebateu Feldman.
Sobre a suposta ingerência na relação CBF-Caixa, Feldman foi enfático.
“Está no nosso estatuto não ter nenhum recurso público por meio de convênios ou parcerias. Não podemos estatutariamente. Jamais tivemos qualquer relação com a Caixa na hora de decidir quais times seriam patrocinados”, defende o secretário da CBF.
O banco também negou que tenha sido acertada por meio de conversas com a CBF quais times seriam patrocinados pelo órgão.
“A Caixa esclarece que não houve repasses e/ou negociações entre o banco e Confederação Brasileira de Futebol referentes a patrocínios de clubes de futebol. Os patrocínios de campeonatos em nível nacional foram fechados com a empresa Sport Promotion e Eventos Ltda., que detinha os direitos de negociação. O futebol brasileiro não pode ficar nas mãos de uma só pessoa e ela fazer o que ela quer. E aí tem as outras confederações, clubes, todos aqueles envolvidos no submundo terrível e imundo do futebol e dos outros esportes”, disse o banco, em nota.
Kajuru espera ser o relator da CPI, mas para isso o presidente do Senado precisa instalar a Comissão. “São 11 meses de trabalho. Ele (Alcolumbre) pediu para que começássemos os trabalhos depois da discussão da Reforma da Previdência. Mas podemos marcar as reuniões das 14h às 16h, para não perdermos tempo”, diz o senador.
Apesar das palavras de Kajuru, Feldman diz que quer trabalhar em conjunto com o senador para mostrar que a CBF não tem nada a esconder.
“Há quatro anos a CBF vem passando por uma revolução. Tem uma credibilidade internacional como nunca teve. Gostaríamos de ser chamados para a CPI para mostrar o que é a CBF. Não há nenhuma denúncia. Quero convidar os senadores a conhecerem o que é a CBF hoje, não tendo nenhuma utilização de dinheiro público”, resumiu Feldman.
A reportagem tentou contato com os três citados por Kajuru como lobistas da CBF. Weber Magalhães disse que retornaria os contatos, mas não o fez. Vicente Cândido não foi encontrado e, assim que se manifestar, terá sua resposta incluída no texto. Vandenberg disse que não trabalha mais para a CBF.
“Impedir ou dificultar (a CPI)? Jamais! Desliguei-me da CBF em maio deste ano. Ainda que assim não fosse, sou advogado devidamente registrado na OAB, e toda pessoa física e jurídica tem direito a constituir defesa perante uma Comissão Parlamentar de Inquérito”, finalizou Vandenberg.