Pesquisar
Close this search box.

Lições que podemos aprender com os croatas e os marroquinos

Por Fernando Silvestre Filho

“A bola não entra por acaso”, esta frase que dá nome a um livro escrito por Ferran Soriano (CEO do Grupo City) tornou-se quase um jargão no meio futebolístico para exaltar conquistas esportivas derivadas de competentes trabalhos de planejamento. Tal frase pode ser, mais uma vez, utilizada com sucesso para analisar as seleções que se enfrentarão pela disputa de 3º lugar da Copa do Mundo de 2022.

A seleção croata, que disputou 6 de 7 copas possíveis desde sua independência (alcançando uma final e duas semifinais), não pode mais ser considerada uma zebra. Mas como é que um país tão jovem e com menos de 4 milhões de habitantes consegue resultados tão expressivos? Será que foi apenas a sorte de ter um grande craque em suas fileiras? Certamente que não.

Ao ser questionados sobre tais fatos, Luka Modric aponta o nacionalismo como um fator determinante para o sucesso da seleção nacional[1]:

“Nós sofremos muito para conquistar nossa independência como nação, então tudo isso nos torna uma nação com muito orgulho, muita paixão, por representar o nosso país. Lutamos até o final, a última gota e não nos rendemos”.

Muitos dos jogadores croatas das últimas copas nasceram em anos próximos à Guerra da Independência (1991-1995), e destacam o fato de que as dificuldades trazidas naqueles anos os ajudaram em sua carreira profissional e na sua união como time. O próprio Modric, inclusive, chegou a ser um refugiado[2] e se dedicava a pastorear cabras com apenas cinco anos de idade[3]:

Pode-se também destacar o trabalho desenvolvido pelo treinador Zlatko Dalic, o qual conseguiu substituir à altura as peças perdidas durante o último ciclo, sem precisar modificar o jeito da equipe jogar, trazendo uma coesão à equipe e um plano de jogo muito bem definido: não importam as peças, todos sabem muito bem a maneira de atuar.

Do outro lado, a seleção marroquina é uma grata surpresa dessa copa e contou, além do trabalho, com um fator político importante para o desenvolvimento desta seleção: a emigração do país.

Ora, dos 26 convocados da seleção marroquina, apenas 12 são nascidos no país africano (percentual mais baixo de toda a copa), tendo a maioria nascido na Europa, onde puderam ter acesso a um ambiente com maior infraestrutura para se praticar o futebol, como é o caso do lateral Hakimi, nascido na Espanha e criado nas canteras do Real Madrid e do ponta Ziyech, nascido na Holanda.

No entanto, mesmo com toda essa “estrangeirização” da seleção marroquina, os “filhos da Diáspora” conseguiram se unir como um time e o orgulho de representar o país natal de seus antepassados, muito por conta da cultura árabe vivida entre as famílias. A frase do lateral Hakimi, que chegou a defender as seleções de base espanhola, explica bem essa situação[4]:

“Senti que não era o lugar certo para mim, não me sentia em casa. Não era nada em particular, mas não era como eu vivia em casa, que é a cultura árabe, sendo marroquino”

Além de ter uma geração talentosa, e do excelente trabalho do técnico Regragui que, em pouquíssimo tempo, conseguiu encaixar a equipe, Marrocos conta com um excelente trabalho de base em solo africano, mais especificamente na Academia Mohamed VI. Academia esta inaugurada pelo rei de igual nome em 2009 com o objetivo de remodelar o esporte nacional com uma cultura voltada exclusivamente para a formação cultural, educacional e futebolística de jovens talentos, a qual vem começando a colher seus frutos emplacando 3 jogadores ali formados no 11 titular da semifinalista da copa.

Ao finalizar esse breve texto, podemos chegar a conclusão de que quanto mais o futebol evolui, mais os planejamentos “rudimentares” vão ficando para trás, dando espaço para bons desempenhos de equipes que não possuem um peso histórico relevante, mas que com o binômio “trabalho e talento”, mostram-se capazes de alcançar estágios avançados nas mais importantes competições mundiais.

Crédito imagem: FIFA/Divulgação

Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo


Fernando Silvestre Filho é sócio da EDL Advocacia, graduado pela UFPE e pós-graduado em Direito Societário pelo Insper, é especialista atuante nas áreas de Esporte & Entretenimento e empresarial, buscando sempre agregar valor com soluções inovadoras aos seus clientes.

[1]https://www.espn.com.br/futebol/copa-do-mundo/artigo/_/id/11347177/modric-explica-receita-sucesso-croacia-ninguem-acreditava-poderiamos-chegar-semifinal

[2]http://www.espn.com.br/noticia/406752_lado-b-da-copa-modric-o-refugiado-de-guerra-que-virou-o-jogo-na-croacia-e-no-real

[3] https://www.marca.com/futbol/premios-the-best/2018/09/24/5ba92628ca4741f3468b4625.html

[4]https://www.marca.com/futbol/mundial/2022/12/04/638c4c34e2704e6b2b8b458d.html

Compartilhe

Você pode gostar

Assine nossa newsletter

Toda sexta você receberá no seu e-mail os destaques da semana e as novidades do mundo do direito esportivo.