O Andrei Kampff lembrou bem, aqui no Lei em Campo, faz algum tempo, do “aniversário” dos quatro anos do maior escândalo do futebol – o Fifagate.
Mas as tramoias vêm de longe, e Romário, o ex-craque da seleção brasileira, já colocou a boca no trombone faz bastante tempo. Recentemente ele lançou um livro indispensável pra essa era de escândalos, corrupção e crimes no esporte.
Em “Um olho na bola, outro no cartola – o crime organizado no futebol brasileiro”, o baixinho dá tiro pra tudo que é lado. Começa com Ricardo Teixeira, em 1989, que renuncia às verbas públicas que subvencionavam o futebol para fugir da fiscalização oficial, “seguindo os passos de seu ex-sogro, João Havelange, na presidência da FIFA”. E lembra: “Sem fiscalização externa, porque é uma instituição privada, os contratos com os patrocinadores escondem realidades que ainda se desconhecem”.
Outro alvo constante de Romário no livro é Renan Calheiros, citando a proximidade deste com Vandenbergue Machado, funcionário aposentado do Senado e “lobista da CBF desde o final do século passado”. Calheiros aparece mais à frente, em outro capítulo, acusado de amorcegar a CPI da CBF/Nike.
Romário lembra outra figura que já denunciou bastante as maracutaias no futebol: Andrew Jennings, autor de “Jogo sujo: o lado secreto da FIFA”, que já foi indicado aqui no Esporte das Letras. O autor foi inclusive ouvido na CPI em questão. Nosso ex-goleador menciona também o livro “O lado sujo do futebol”, que ele, Romário, prefaciou (e que vamos ter de resenhar aqui no Esporte das Letras, por óbvio!).
O livro é formado por capítulos bem curtos, sucintos, proporcionando uma leitura ágil mas nem por isso superficial. Sobra pra Del Nero (como não?!), Romero Jucá, não poupando nunca a CBF e o STJD – este, acusado de relações íntimas demais com a Confederação. E o artilheiro aproveita para nos indicar outro livro ainda, “Os descaminhos do futebol” (bastante difícil de encontrar), em que essa relação é explicitada: “Da forma como está, essa justiça (desportiva) tornou-se uma anomalia judiciária, que homologa decisões dos cartolas. É impensável, por exemplo, ganhar alguma ação contra a CBF na Justiça Desportiva”.
Mais pro fim, Romário ainda nos brinda com esquemas didaticamente desenhados que destrincham os mecanismos de corrupção envolvendo a CBF e contratos dos mais diversos: de fornecimento de bens e serviços, de patrocínio, de marketing esportivo, de amistosos da Seleção. A Folha de S.Paulo tem trazido diversas matérias sobre o assunto, como “Vencedor de licitação da CBF possui sede em paraíso fiscal”, “Vencedora de licitação suspeita da CBF tem 7 CNPJs com sócios ocultos”, entre tantas outras. Pelo menos nosso ex-matador da grande área não tá sozinho nessa luta por moralidade!
Mais um gol de Romário, dessa vez pra ler, não pra assistir.
Um olho da bola, outro no cartola: o crime organizado no futebol brasileiro
Romário
Editora Planeta
239 páginas