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Macas na grama

O futebol é um espetáculo de arte e drama que antes da era da internet, dos replays televisivos e mais recentemente do distanciamento social levava centenas ou milhares de pessoas ao campo só pelo prazer de olhar.

Gente que saía de casa na esperança de ver um lancezinho que fizesse o trajeto valer à pena. Um drible, uma jogada, um gol! Aquilo que acontecia de um pé pro outro, no rolar da bola ou sem ela, e que era visto uma única vez, exclusivamente por quem estava lá pra ver.

Muitos anos depois, com a multiplicação dos meios de comunicação e das publicações jornalísticas que fizeram do fenômeno esportivo algo além de uma experiência local, ainda me pergunto qual seria o fabuloso mistério que levou o futebol a se alastrar como a modalidade favorita entre nobres e operários, ingleses ou latino-americanos.

E em relação a esses operários, talvez mais do que os nobres, o que os levava a escolher o jogo da bola no pé, entre tantos outros, como o dono das poucas horas livres recém conquistadas entre um turno e outro na linha de produção.

Lá, no século XIX, o pouco tempo livre dessa multidão de pessoas foi cuidadosamente dedicado ao jogar, ao torcer, e ao organizar de jogos que se antes não lhes pertenciam (porque foram criados na academia) passaram a pertencer naquele momento.

A resposta ensaiou a me aparecer nos últimos dias, que atribuiu essa disseminação à simplicidade das regras do futebol e ao fato de que absolutamente quase tudo pode fazer as vezes da bola (o que não se pode dizer do cricket, seu grande concorrente da época).

Desde então, o futebol deu seu jeito de se espalhar como uma rama e de se confundir com a história. E com ela, de se confundir com os movimentos sociais, políticos e econômicos.

Hoje, em meio à maior pandemia da história moderna, o futebol faz isso mais uma vez, de outro jeito. Os estádios que antes foram palco dos dribles que consagraram algumas carreiras e acabaram com outras são hoje chão pros hospitais de campanha, destinados a atender aqueles que precisam.

Junto aos gigantes de concreto, também alguns centros de treinamento foram colocados à disposição. De tal sorte, enquanto aguardamos ansiosos em casa, nos novos palcos da luta cotidiana profissionais da saúde marcam seus próprios gols ao colocar em funcionamento a estrutura sobre o gramado que antes se guardava pras chuteiras, e não pras mãos (ao menos as que não fossem as do goleiro ou as do árbitro).

Se olharmos cuidadosamente, veremos que a história ensinou que o futebol foi escolhido como o jogo da humanidade pela facilidade com que permitia e incentivava a cooperação coletiva acima das diferenças sociais e políticas. Hoje, a utilização de estádios e centros de treinamento como abrigo para a linha de frente do combate se mostra como um novo aspecto em que o esporte estará cravado na narrativa das nossas vidas. Quem sabe, em um dos nossos momentos mais difíceis.

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