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Manifesto do nada na terra do nunca

“Manifesto do Nada na Terra do Nunca” (2013) é um livro escrito pelo músico Lobão, no qual ele tece considerações sobre a apatia que paira em todo o nosso país em vários segmentos e em especial, naampla manifestação do pensamento.

Apático foi igualmente o manifesto dos jogadores da seleção brasileira quanto à sua participação na Copa América. Depois de tantos dias de suspense, eles publicaram nas redes sociais um manifesto contra a realização da competição.

Muito foi escrito e nada foi dito. Quando fez alusão à insatisfação em jogar o torneio, os jogadores disseram:

Somos um grupo coeso, porém com ideias distintas. Por diversas razões, sejam elas humanitárias ou de cunho profissional, estamos insatisfeitos com a condução da Copa América pela Conmebol, fosse ela sediada tardiamente no Chile ou mesmo no Brasil. Todos os fatos recentes nos levam a acreditar em um processo inadequado em sua realização”.

Afinal, qual o motivo pelo qual eles não queriam jogar? Não dá para saber. Além disso, não deram entrevistas até hoje, claramente para não terem que explicitar suas razões.

Os jogadores só repetiram o velho hábito do brasileiro de não querer se comprometer e não assumir responsabilidades para se expor ao julgamento popular.

Esta verdadeira mania nacional foi o ponto central da crítica que Lobão faz no seu livro. Ao comentar seu trabalho ele disse:

Quem ousa tecer algum comentário um pouco mais crítico sobre a realidade que nos rodeia acaba sofrendo violências morais e psicológicas, sempre no intuito de eliminar o interlocutor… É a verdadeira Terra do Nunca, onde nos recusamos a crescer, com uma religião de Estado promovida por autoproclamados progressistas: os nossos carolas estatizados

Não há mal nenhum em alguém tomar partido sobre alguma questão. O que é fundamental é que as pessoas justifiquem suas posições. Aliás, tudo na vida pode ser feito se houver uma motivação adequada. Podemos até mesmo matar alguém se demonstrarmos que agimos em legítima defesa ou em estado de necessidade, por exemplo.  

O que os atletas escreveram deveria se chamar tudo menos “manifesto”. Esta palavra, que deriva do latim manifestus, significa algo compreensível, claro, aparente, evidente. Não há nada de claro nesse comunicado. Não disseram rigorosamente coisa alguma, o que só rendeu ensejo à inúmeras especulações. Estavam querendo curtir as férias? É por causa da pandemia? Estão em litígio com a CBF? Só perguntando pra eles…

Não sou bom em interpretar algo que seja completamente destituído de conteúdo, mas há quem consiga. Veja-se o caso do artista plástico italiano Salvatore Garau, que vendeu uma ‘escultura’ invisível por cerca de R$ 93 mil.

Ao procurar dar sentido à sua obra, o artista disse:

Quando decido ‘expor’ uma escultura imaterial num dado espaço, esse espaço vai concentrar uma certa quantidade e densidade de pensamentos num ponto preciso, criando uma escultura que, pelo meu título, só vai assumir as mais variadas formas.

O texto dos jogadores provavelmente deve ter concentrado também uma quantidade infindável de pensamentos, num discurso sem pé nem cabeça como a “escultura” do italiano. Talvez Salvatore consiga interpretá-los.

Este é um minúsculo exemplo desta terra do nunca. De um lugar em que nunca as coisas são feitas por inteiro. Das reformas legislativas capengas, das construções inacabadas e de manifestos incompletos.

Ninguém quer se comprometer, expor sua opinião ou fazer criticas construtivas que permitiriam a circulação das ideias e a formação da opinião pública nacional. O pior é que, quem raramente o faz é imediatamente estigmatizado pela sociedade.

Por isso, eu bem que queria expressar o que penso sobre esse manifesto, mas é melhor dizer que eu simplesmente não acho nada.

Porque nesta terra do nunca, todo mundo só quer mesmo é ficar em cima do muro.

E é pra lá que eu também vou.

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