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Manipulação de resultados atinge Série B do Brasileiro: como combater problema e manter integridade?

O Ministério Público de Goiás (MPGO) realizou, nesta terça-feira (14), uma operação que investiga um grupo suspeito de manipular resultados de partidas da Série B do Campeonato Brasileiro de 2022 para lucrar com apostas esportivas de valores alto. De acordo com o órgão, jogadores profissionais teriam participado do esquema, que movimentou mais de R$ 600 mil.

A manipulação de resultados não é um problema exclusivo do Brasil e vêm crescendo exponencialmente ao passo em que as apostas esportivas ganham cada vez mais adeptos. Essa prática criminosa é um dos maiores problemas presentes no esporte atualmente, afetando, principalmente, a sua integridade.

“A identificação e o combate à manipulação de resultados não são tarefas fáceis. Para isso, exige-se a cooperação de diversos entes públicos e privados para que medidas preventivas e repressivas sejam tomadas a fim de mitigar e punir tais condutas delitivas. Uma das medidas que tem sido adotada por algumas federações estaduais de futebol pelo Brasil é a contratação de serviços de integridade e monitoramento de apostas esportivas, tal como os prestados pela empresa britânica Genius Sports”, afirma Udo Seckelmann, advogado especialista em direito desportivo internacional.

A Genius Sports é uma empresa de tecnologia e coleta de dados que presta serviços de integridade para inúmeras ligas e federações mundo afora, incluindo a Premier League. Com sua tecnologia avançada e imensa base de dados consegue monitorar em tempo real os mercados oferecidos pelas casas de apostas globalmente, o que lhe permite identificar quando o volume de apostas em algum evento está destoante do usual e, com isso, notificar as autoridades competentes para investigação mais a fundo sobre a possibilidade de um evento esportivo estar sendo manipulado.

Udo Secklemann reforça que “identificar os casos suspeitos é o primeiro passo, então sem o monitoramento de apostas a nível global seria quase impossível combater o match-fixing”.

Paulo Schmitt, advogado, presidente do Comitê de Integridade da FPF (Federação Paulista de Futebol) e do Comitê de Defesa do Jogo Limpo do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), conta algumas medidas adotadas pelas entidades em que está envolvido.

“É preciso um combate mais efetivo contra as manipulações e fraudes esportivas no país. Na Federação Paulista e no COB já tem tempo que implementamos um programa de integridade pautado em 3 pilares, fatores e elementos inter-relacionados: (i) adequação de normas; (ii) educação e prevenção; e (iii) inteligência, canais de report com estímulo a denúncias e repressão. Ainda assim, fazemos reuniões periódicas e ações concretas para melhorar constantemente nossos protocolos para dar respostas mais rápidas, sobretudo na esfera desportiva. Não se pode aguardar mais de 5 anos para que investigações e processos criminais sentenciem manipuladores a penas em média de 10 anos de prisão, como por exemplo na Operação Game Over. Como se sabe justiça tardia é injustiça”, explica.

Schmitt entende que esse tema merece mais investimento e celeridade para que “tenhamos reflexos pedagógicos desportivos com punições que retribuam os atos praticados, compensem o desequilíbrio esportivo e salvaguardem a credibilidade do futebol, a tempo e a hora, não depois dos campeonatos findos”.

“Nesse caso da Operação Penalidade Máxima, de que tenha ocorrido uma ação planejada de forma concomitante tanto o monitoramento das partidas como o urgente encaminhamento dos relatórios dos graves fatos narrados para as autoridades policiais, judiciárias e principalmente para a Justiça Desportiva, esta última sempre mais ágil nas apurações e responsabilizações. E lamentavelmente não se tem notícia, nesse caso da Operação Penalidade Máxima, de que tenha ocorrido uma ação planejada de forma concomitante tanto o monitoramento das partidas como o urgente encaminhamento dos relatórios dos graves fatos narrados para as autoridades policiais, judiciárias e principalmente para a Justiça Desportiva, esta última sempre mais ágil nas apurações e responsabilizações. A falha de protocolos de integridade parece evidente.”, acrescenta.

Entenda a operação

A operação, denominada ‘Penalidade Máxima’, foi realizada em seis cidades: Goiânia (GO), São João del-Rei (MG), Cuiabá (MT), São Paulo (SP), São Bernardo do Campo (SP) e Porciúncula (RJ). O MPGO não informou se alguém foi detido.

Foram expedidos pela 2ª Vara Estadual dos Feitos Relativos a Delitos Praticados por Organização Criminosa e Lavagem ou Ocultação de Bens Direitos e Valores nove mandados de busca e apreensão e um de prisão. Não foi informado se algum dos investigados foi detido.

Segundo o MPGO, as manipulações ocorriam, por exemplo, com a negociação para que jogadores cometessem pênalti no primeiro tempo das partidas. Os jogadores envolvidos recebiam parte dos ganhos, caso o pedido fosse concretizado com êxito. Cada atleta ganhou aproximadamente R$ 150 mil por aposta.

Os investigadores contaram que os apostadores realizaram apostas casadas de pênaltis em três jogos: Vila Nova x Sport, Tombense x Criciúma e Sampaio Correia x Londrina. As três partidas em apuração ocorreram na 38ª rodada da Série B, no dia 6 de novembro.

No primeiro tempo da partida Sampaio Corrêa x Londrina, houve pênalti para o Londrina, que foi marcado com recurso de vídeo (VAR). O mesmo aconteceu na partida Criciúma x Tombense.

Em comunicado oficial, Vila Nova e Sampaio Corrêa, dois dos clubes com jogadores envolvidos no esquema, disseram que apoiam as investigações.

Destas três partidas, apenas em Vila Nova x Sport não houve a marcação da penalidade máxima. Diante da falta de êxito, o jogador do Vila participante do esquema passou a ser cobrado pelo grupo, uma vez que teria recebido um sinal de R$ 10 mil. O Vila Nova atua como denunciante no caso.

Os envolvidos podem responder por diversos crimes, entre eles: associação criminosa, ocultar ou dissimular a origem de bens e dar ou prometer vantagem patrimonial, ou não, com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva.

Schmitt cita que a falha de protocolos de integridade parece evidente no futebol brasileiro. Ele aproveita para destacar o trabalho realizado pelo MPGO no caso.

“A série B acabou faz bastante tempo. Não é possível caminhar às cegas no terreno zilionário, descomunal das apostas esportivas em um campeonato tão importante como o Brasileirão, em qualquer de suas séries; o que se dirá de certames de menor envergadura nacionais ou estaduais. Integridade antes que seja tarde! De todo modo, inobstante essa análise crítica, é preciso elogiar o trabalho da polícia judiciária e Ministério Público goiano no caso concreto. O assunto parece aos poucos ganhar relevo em algumas esferas e perante autoridades policiais e judiciárias, notadamente em face da gravidade, organização desse tipo de crime e sua inegável vinculação com lavagem de dinheiro e outros crimes conexos”, finaliza.

A CBF não se manifestou sobre a operação.

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