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Mulheres são afastadas das Universidades no Afeganistão e esporte não pode silenciar

O esporte não pode silenciar diante do absurdo. O que era óbvio, só podia se confirmar. A volta do Talibã ao poder no Afeganistão tem se confirmado como uma derrota das minorias, dos direitos humanos, das mulheres e de todos que buscam um mundo mais igual e livre. Agora, o país está privando as mulheres do mundo do conhecimento.

A notícia mais recente é a de que as autoridades do Talibã anunciaram na terça-feira (20) a proibição do acesso de mulheres à educação universitária no país por tempo indeterminado, um novo golpe contra o direito das afegãs a educação e liberdade. “Recomenda-se que implementem a ordem de suspender a educação das mulheres até novo aviso”, indica uma carta assinada pelo ministro do Ensino Superior, Neda Mohammad Nadeem, enviada a todas as universidades públicas e privadas.

Como já tratei aqui, logo que assumiu o poder, o Talibã afastou as mulheres do esporte.

A soberania do país e a liberdade religiosa devem ser sempre respeitados, entendidos e protegidos. Agora, eles jamais podem ser usados como forma de agressão e repressão a direitos inegociáveis. O Taliban, numa leitura radicalmente restritiva do Islamismo, historicamente ataca direitos protegidos universalmente.

De acordo com grupo que agora domina o país, as mulheres têm uma posição diferente dos homens, tendo privada a liberdade, a possibilidade de praticar esporte e até o acesso das meninas às escolas. Ou seja, se ataca o presente e o futuro das mulheres.

O esporte não pode compactuar com isso jamais.

Esporte e direitos humanos

Depois das denúncias de compra de voltas para as sedes das Copas de 2018 e 2022, e abalada pelo escândalo do Fifagate, a entidade-mor do futebol investiu em uma agenda positiva. Ela colocou no seu Estatuto, no artigo 3, a previsão de que a “Fifa está comprometida com o respeito aos direitos humanos internacionalmente reconhecidos e deverá empreender esforços para promover a proteção dos seus direitos”. Em maio de 2017, inclusive, estabeleceu uma “política de Direitos Humanos”.

Já o COI carrega desde a sua fundação o discurso de Pierre Courbetein de combate ao preconceito e de integração social. Um dos princípios mais caros do Olimpismo é o de que “toda e qualquer forma de discriminação relativamente a um país ou a uma pessoa com base na raça, religião, política, sexo ou outra é incompatível com o Movimento Olímpico.” Em seus princípios 2 e 4 estão garantidos a proteção da dignidade humana e o combate a qualquer tipo de preconceito.

E quando uma violação à direitos humanos se apresenta, o esporte precisa se posicionar. Foi o que ele já fez em relação à Africa do Sul.

O Apartheid, regime de segregação social presente na África do Sul por quase 50 anos, violava frontalmente princípios de Direitos Humanos. O regime institucionalizado em 1948 não permitia o convívio entre brancos e negros, negando a estes direitos sociais, econômicos e políticos.

Por conta dele, o país africano foi expulso do quadro olímpico e da FIFA, e ficou de fora de várias edições de olimpíadas e copas do mundo.

Mas não foi estabelecida uma régua. Foi uma postura pontual, adotada até em função da pressão internacional de movimentos globais e da opinião pública.

Tanto que tivemos uma Copa na Rússia, teremos a Olimpíada de Inverno na China e Copa no…. Qatar.

A verdade é que o esporte também é um negócio. E precisa ser encarado e trabalhado também dessa forma. Mas qualquer negócio, como o que você trabalha, também precisa ser construído com base em princípios.

O movimento esportivo não se separa da proteção de direitos humanos.

Papel do esporte no Afeganistão

O pedido de socorro de mulheres – e das mulheres do esporte – no Afeganistão ecoa pelo mundo. Atletas do futebol já pediram ajuda à FIFA, que inclusive participou de uma ação que retirou centenas de jogadoras do país. Em outras modalidades, atletas têm contato com um auxílio do Comitê Olímpico Internacional.

Claro que a religião e a soberania precisam ser sempre defendidas. Agora, elas jamais podem ser usadas como pretexto para uma política de violação a direitos humanos e agressão à igualdade. Nessa hora, todos precisam fazer a sua parte.

É fundamental que a ONU, coletivos globais e o próprio movimento esportivo exerçam mecanismos de pressão internacional dando atenção especial a vigência, eficiência e vinculação dos direitos da pessoa humana não somente na proteção de Direitos Humanos, como também de Direitos Fundamentais.

Ser diferente nem sempre é uma escolha, é uma necessidade. E ela precisa ser protegida. Ajudar mulheres e minorias para que o regime do Taleban respeite a liberdade e o simples direito de escolha – como praticar e viver do esporte – é dever de todos nós.

E quando dirigentes esquecem de fazer a parte deles – e esquecem de banir de seus quadros entidades esportivas de países que violam direitos humanos –, é a pressão organizada de atletas, patrocinadores, opinião pública e coletivos globais que precisa fazer com que eles se lembrem.

Tirar as mulheres do mundo do conhecimento é algo que o esporte não pode compactuar. Então, é necessário agir.

Crédito imagem: Hector Retamal/AFP

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