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Multi club ownership

Por Rafael Inácio da Silva Caldas

A gigante austríaca dos energéticos Red Bull se associou ao Clube Atlético Bragantino originando assim o Red Bull Bragantino, que logo em seu primeiro campeonato faturou o título da Série B do Campeão Brasileiro, mas além do sucesso esportivo, a equipe de Bragança Paulista fez reacender a discussão sobre o Clube Empresa no Brasil.

Muito embora seja de extrema relevância, as reflexões acerca do Clube Empresa, tema debatido desde a sua menção na Lei Zico em 1993 (Lei 8672/1993), tendo voltado a voga na Lei Pelé (Lei 9615/1998) e sendo o Clube Empresa novamente o centro das atenções no Direito Desportivo, inclusive já tendo sido aprovado pela Câmara dos Deputados (PL 5082/2016), outro tema nos chama atenção, tendo como um dos atores o Red Bull Bragantino.

Ao passo que no Brasil ainda discutimos se aplicaremos ou não a implementação do Clube Empresa, (sem fazer neste texto qualquer juízo de valor desta complexa questão),  empresas como a Red Bull ou fundos de investimento como o City Football Group que tem o Manchester City como expoente mais famoso, ou mesmo clubes empresa de futebol como o Atlético de Madrid, estão transformando o mercando do futebol, estabelecendo verdadeiras holdings ao incorporarem em suas organizações diversas agremiações esportivas ao redor do mundo.

As holdings do futebol são controladas por um grupo central, atendendo a mesmo ideia das holdings tradicionais. Este grupo central é o responsável por definir as diretrizes a serem tomadas por seus membros, organizar os orçamentos, definir os investimentos, determinar a construção de infraestrutura, como: estádio e centro de treinamento, onde comprar equipes, onde estabelecer novas parcerias, e, a forma de trabalho que melhor integra os elementos do grupo.

Ao se associar ao Bragantino, a Red Bull não inovou. No próprio estado de São Paulo a empresa já mantinha o Red Bull Brasil, tendo também equipes em outros cantos do mundo, como, por exemplo: o Red Bull New York, nos EUA; o Red Bull Salzburg, da Áustria, potência do futebol local; e o RB Leipzig, que não se chama Red Bull Leipzig pelos regramentos do futebol alemão.

O fenômeno no qual, um mesmo grupo econômico detém o controle de várias equipes de futebol, é chamado de Multi-Club Ownership, adaptado ao português, segundo PISANI (p. 333, 2020), como Multipropriedade de Clubes, e vem ganhando forma e espaço no negócio do futebol.

Os grupos que formam um Multi Club Ownership se caracterizam por possuírem mais de um clube sob seu controle, e são verdadeiras franquias internacionais em que, pode haver uma identidade visual em comum entre os diversos membros, caso das equipes RedBull´s que possuem os icônicos touros da marca de energético e, os membros do City Football Group que se assemelham pelas camisas azul claras, muito embora não seja regra.

Neste modelo de negócios no esporte, há um clube principal em que o grupo concentra seus investimentos, e os demais podem ser entendidos como satélites, seguindo um mesmo método de administração e, até mesmo um mesmo modelo de jogo de futebol de forma que os jogadores dessas equipes possam suprir as demandas do time matriz.

Além da propagação de sua identidade visual pelo mundo a possibilidade de intercambio de jogadores e, a melhoria na capacidade de observação e captação de atletas, são fatores que levam a diversificação. O City Football Group por exemplo possui equipes no Uruguai, Austrália, Estados Unidos, Índia, Espanha, França e, está sempre aberto a expansões em seu portfólio de clubes. Este leque de equipes, permite ao Manchester City ter um amplo campo de jogadores sob observação, aumentando a possibilidade de captação de atletas ainda jovens, sem ter que gastar fortunas em contratação de estrelas posteriormente.

Tal fenômeno, ainda pouco explorado, é consequência direta do futebol negócio, pelo qual, os clubes de grandes centros do futebol, com Inglaterra, Alemanha e Espanha, visam estabelecer suas marcas ao redor do mundo, de modo a captar jogadores jovens em países que possuem potenciais jogadores, para abastecer os mercados europeus. Porém há de se pensar e desenvolver mais sobre o Multi-Club Ownership, estariam os grandes clubes brasileiros, preparados para instituir filiais pelo mundo? Ou, estariam os clubes brasileiros, fadados a serem filiais de uma matriz europeia?

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Rafael Inácio da Silva Caldas é graduado em Direito pela Escola Superior Dom Helder Câmara, pós-graduando em Negócios no Esporte e Direito Desportivo e membro do grupo de estudos de Direito Desportivo da UFMG.

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