Na premiação aos melhores do futebol, as mulheres foram protagonistas.
Uma atacante, uma técnica, uma mãe. Todas elas dividindo espaço com aqueles que por muito tempo foram donos do campinho. Mas o que o evento mostrou para todos os cantos do planeta pode servir – por enquanto – de esperança.
Como já se falou aqui, a realidade do futebol feminino não é a mostrada na festa da FIFA. Ela é muito, mas muito difícil ainda. Principalmente no Brasil.
Direitos desrespeitados, salários muito baixos e pouco incentivo. 2019, com esses incentivos obrigatórios, mudará isso?
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Alguns exemplos na Europa mostram que o futebol feminino pode caminhar sozinho, como uma receita interessante para os clubes. A Copa do Mundo da França também foi um sucesso. Na Espanha, uma conquista gigante que pode servir de exemplo: um protocolo que garante direitos na gravidez e na maternidade.
O esporte é um catalizador de transformações sociais importante. Ele precisa ser ativo na luta pela igualdade de gênero e pela inclusão de deficientes, como também no combate a preconceitos e a crimes, como homofobia e racismo.
Entenda mais sobre a importância da premiação da FIFA com Nilo Patussi, advogado especializado em gestão esportiva e colunista do Lei em Campo.
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As musas do “The Best”
O The Best, maior prêmio de futebol do mundo, que é organizado pela FIFA, aconteceu ontem, no famoso teatro Scala, na cidade italiana de Milão. A premiação mais importante da modalidade trouxe aos espectadores o que todos já imaginavam. Não estou falando do prêmio de melhor do mundo ao argentino Lionel Messi ou de que o Allison Becker (brasileiro que defende o Liverpool) seria o melhor goleiro, elas estão com tudo.
No mesmo ano em que se transmitiu em rede aberta uma copa do mundo de futebol feminino na França, coroou-se, na noite de gala, atletas, torcedoras e técnicas de futebol. Com números de causar inveja em muitos esportes, a última Copa do Mundo feminina levou mais de 1 milhão de torcedores aos estádios franceses, mais de 1 bilhão de espectadores ao redor do mundo, com transmissão para mais de 100 países.
Dos três prêmios que o Brasil estava representando, dois foram conquistados pelas musas.
Musas! Sim! Todas!
Vale lembrar que o termo “musa” tem origem grega, divindades a quem se atribuía a capacidade de inspirar a criação artística e científica. Por esse motivo o uso do termo.
A musa Silvia Grecco e seu filho Nickollas foram os responsáveis pelo prêmio mais bonito e importante da noite italiana. Mãe e filho, torcedores do Palmeiras, levaram o prêmio de melhor torcedor, com a história da mãe que leva o seu filho com deficiência visual aos estádios e comenta, durante toda a partida, ao pé do ouvido, o que acontece dentro de campo.
A ganhadora falou da importância de receber esse prêmio, pois é uma vitória da inclusão social. Nickollas e ela eram apaixonados por futebol assim como quaisquer outros torcedores, e ela comentou do poder que o futebol tem de transformar o mundo em um lugar melhor.
O discurso corrobora a fala do presidente da entidade máxima do esporte no evento. Após lamentar os casos de racismo e discriminação que vêm ocorrendo na Itália, Gianni Infantino comemorou o fato de o futebol ter conseguido quebrar barreiras sociais significativas.
Como já falado no Lei em Campo, a partir de outubro, as musas iranianas poderão frequentar os estádios para assistir às partidas de futebol masculino. Isso mesmo, em 2019, as mulheres iranianas, absurdamente, ainda estão proibidas de assistir a partidas de futebol masculino em estádios. A partir de outubro, será possível assistirmos a mais essa vitória.
O The Best também inovou e criou mais duas novas categorias dedicadas às mulheres, o prêmio de melhor goleira, que foi vencido pela musa holandesa Sari van Veenendal, desbancando Christiane Endler e Hedvig Lindhal, que também estavam na disputa, além da seleção das melhores do mundo, que contou com a musa brasileira Marta entre as 11 melhores jogadoras de futebol.
Mas por que, em uma coluna de gestão esportiva, estamos noticiando o que aconteceu no The Best, premiação da Fifa? Simples, porque parece que o Brasil ainda não se deu conta de que o futebol feminino já não é uma promessa, é uma realidade, e que não está tendo a devida atenção no país do futebol.
Em um ano em que já esperávamos que a modalidade feminina no futebol fosse importantíssima não só para o Brasil, mas também para o mundo, a realidade foi muito além do esperado.
Enquanto não houver o devido investimento com o futebol feminino e a profissionalização do futebol praticado pelas mulheres, o Brasil ficará aquém dos países que já se deram conta disso. As mulheres devem estar não apenas dentro de campo, mas também na torcida e nos cargos estratégicos das instituições que administram e praticam o esporte mais popular do mundo.
Musas! Porque são inspiração, dedicação, renovação, paixão… Tudo de que o esporte e a gestão precisam para dar certo.