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Nadadora transgênero reacende debate sobre inclusão no esporte após fazer história em torneio universitário

Nos últimos dias, a nadadora Lia Thomas se tornou a figura central de inúmeras discussões após fazer história ao se tornar a primeira atleta transgênero a ganhar o título universitário mais importante dos Estados Unidos, terminando em primeiro lugar no nado livre feminino de 500 metros. O debate aqueceu ainda mais depois do surgimento de uma foto em que a vencedora aparece afastada das adversárias no pódio, enquanto as três nadadoras que ficaram em segundo, terceiro e quarto lugar posavam juntas sorrindo.

O ‘UOL Esporte’ levantou a questão na semana passada. Os principais questionamentos ficaram justamente por conta do comportamento das adversárias de Lia Thomas na foto. As nadadoras estariam excluindo a atleta transgênero? Era uma forma de protesto por sua participação?

“Esse caso nos faz retomar aquele debate sobre o quanto é importante o esporte para a garantia dos direitos humanos. Qualquer argumento de que ela usou sua transformação visando algum tipo de vantagem esportiva deve ser ignorado. É importante ressaltar que a atleta para poder competir teve que se enquadrar por rígidos padrões técnicos, então podemos dizer que essa ‘suposta vantagem’ apontada é ínfima em relação as dificuldades que ela passou para estar ali. Não se trata de uma luta do bem contra o mal”, afirma Mônica Sapucaia, advogada especialista em direitos humanos.

“O esporte não se separa da proteção de direitos humanos. Quando um regramento interno atacar direitos universalmente protegidas, a irritação acontecerá, provocando diálogo e aprendizado. E desse diálogo entre DH e igualdade competitiva, a ciência precisa participar. Com esses diálogos, cada vez mais a lex sportiva tem se mostrado flexível, adotando políticas de proteção de direitos humanos em um aprendizado necessário”, analisa Andrei Kampff, advogado especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.

Antes de atuar na categoria feminina, Lia Thomas nadou durante três temporadas pela equipe masculina da Pensilvânia antes de iniciar uma terapia de reposição hormonal em 2019.

Para se ter tamanho da repercussão da conquista de Thomas e da discussão sobre o caso, o governador da Flórida, Ron DeSantis, disse recentemente que pediria a impugnação do resultado da prova de 500 metros estilo livre e passaria a considerar a segunda colocada, Emma Weyant, como a legítima vencedora.

“Se você olhar para o que a NCAA fez ao permitir basicamente que os homens competissem no atletismo feminino, e neste caso a natação (…) Você tinha a mulher que terminou em primeiro, era de Sarasota, Emma Weyent. Ela ganhou a medalha de prata, mesmo sendo uma superestrela em toda a sua carreira”, declarou DeSantis.

Emma Weyant perdeu a prova de 500 metros estilo livre para Lia Thomas por apenas 1,75 segundo, conseguindo o melhor tempo de sua carreira (4m34s99).

“Precisamos parar de permitir que organizações como a NCAA perpetuem fraudes. Ela (Emma) ganhou isso. Competir nesse nível é muito difícil. E você não sai da cama e faz isso. Isso exige coragem. Isso exige determinação. Ela teve o tempo mais rápido de qualquer mulher no atletismo universitário”, acrescentou DeSantis.

Segundo Mônica Sapucaia, ainda há um discurso muito violento em relação a esse assunto.

“Quando vemos esse assunto ser usado como bandeira política, sem compromisso com tudo que vem sendo construído tecnicamente, a gente anula qualquer tipo de debate. Infelizmente é muito ruim para os direitos humanos, das mulheres e de inclusão, essa ideia bastante recorrente de que as mulheres trans estão roubando o lugar das mulheres”, afirma.

Mudança nas regras

A USA Swimming, entidade norte-americana responsável pela natação, fez mudanças em fevereiro nas regras, permitindo que atletas transgêneros compitam em eventos de elite, porém, estabelecendo critérios que visam reduzir qualquer tipo de vantagem considerada injusta, como a exigência de testes de testosterona por 36 meses antes das competições.

No entanto, as novas regras não serão implementadas em 2022. A entidade considerou que “mudanças adicionais neste momento poderiam ter impactos injustos e potencialmente prejudiciais” para os atletas.

Caso Tiffany

No Brasil, a participação de atletas transgêneros também gerou inúmeros debates. O estopim ocorreu após a ponteira Tiffany Abre ser a primeira trans a atuar na Superliga Feminina de vôlei, pelo Vôlei Bauru.

A participação de Tiffany dividiu opiniões, de outros atletas, técnicos e admiradores desse esporte, e chegou a parar até na política.

Em São Paulo, um projeto de lei (PL 346/19), de autoria do deputado Altair Moraes (Republicanos), chegou a ser levado para a pauta da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), mas até agora a proposta não avançou.

O texto pretende “estabelecer o sexo biológico como o único critério para definição do gênero de competidores em partidas esportivas oficiais no Estado”. Na prática, se o projeto fosse aprovado, Tiffany poderia ser impedida de atuar em todo o estado.

Atualmente, Tiffany segue atuando normalmente pela Superliga feminina, porém trocou as cores do Bauru pela do Osasco.

Crédito imagem: Getty Images

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