O dia 20 de novembro no Brasil é a data do falecimento de Zumbi, o escravo conhecido por ser líder do Quilombo dos Palmares e por isso serve como símbolo nacional da luta contra a escravidão.
Desde 2011, a data é reconhecida como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, como estabelecido pela Lei Federal nº 12.519/2011, sendo feriado em mais de 1000 municípios brasileiros.
Todo ano, eu me deparo com os mesmos debates quanto à necessidade de reservamos um dia do ano à finalidade de nos conscientizarmos de que a raça negra foi marcada pela escravidão. Todo ano me lembro das aulas de História do Brasil, recheadas de referências ao período em que vigorava a escravidão, quando pessoas foram retiradas da África e, por motivos socioeconômicos, tornadas escravos. Também os que contribuíram para o fim da escravidão no Brasil eram informados a nós, crianças em idade escolar, com ênfase à Princesa Isabel.
Aprendemos ainda sobre o colonialismo e o imperialismo e como, por lucro e poder, milhões foram condenados à escravidão e à miséria. Físicas e morais. Mas, de um modo muito sutil nos convencemos, mesmo após conhecermos esses fatos, de que o justo, o belo ou o bom tem cor e essa cor é a branca, a mesma cor da razão, da ideia e do espírito que libertaram os escravos, por pura generosidade.
De algum modo, absorvemos traços da violência que transformou o corpo negro em um ser inferior, trouxe os brancos a um lugar e levou os negros a um outro espaço, de modo que o grande desafio trazido pelo fim da escravidão passa a ser coexistir dentro de uma mesma realidade.
Provavelmente por isso, ao invés de nos perguntarmos por que tão poucos negros praticam esportes como Fórmula 1, discutimos porque esporte se mistura com política quando o piloto Lewis Hamilton, no topo do pódio, levanta punho e bandeira contra o racismo, usando a sua voz para forçar mudanças.
Passados tantos anos desde que frequentei os bancos escolares, tenho convicção de que tudo o que foi ensinado às crianças brasileiras da minha geração não foi suficiente para nos livrar do custo emocional gerado pela negação à liberdade dos nossos ancestrais negros.
Trazer os fatos ao conhecimento do público e admitir os crimes praticados é dar espaço à reconciliação que nos fará atingir um entendimento nacional de que é preciso superar o passado, transformando erros em aprendizado e em ações afirmativas, sem as quais não se poderá falar em meritocracia.
No Dia da Consciência Negra, uma simples data no calendário nos leva a admitir que o negro vem sendo violentado de forma constante, contínua, sem qualquer pausa ou alívio. Antes pela escravidão, hoje pelo racismo e pela miséria.
E são os símbolos, os livros, os museus, assim como os punhos levantados e as palavras de ordem que não nos deixam ficar alheios ao que ainda precisa ser lembrado.