Nesta terça-feira, 19 de julho, comemora-se o Dia Nacional do Futebol. A data – escolhida em 1976 pela CBD (Confederação Brasileira de Desporto) em homenagem ao clube de futebol mais antigo do Brasil, o Sport Club Rio Grande – não é um feriado, mas celebra o esporte mais amado do nosso país.
Apesar da grande paixão que os brasileiros têm pelo futebol, esse esporte enfrenta uma dura realidade, diferente daquela que transparece na televisão. Baixos salários, falta de condições básicas e o preconceito fazem parte da rotina diária da maioria dos jogadores.
“A realidade do futebol está longe de ser a do glamour que a gente consome, assistindo a jogos da Europa e da Série A do Campeonato Brasileiro. A realidade é de dificuldade, baixos salários, dupla jornada de emprego. Isso sem falar que – diferentemente da maioria das profissões – o jogador não tem sequer o horizonte da aposentadoria, já que a carreira é curta. O desafio é se pensar em mecanismos de transição profissional para o pós carreira para atenuar esse problema”, afirma Andrei Kampff, advogado, jornalista e colunista do Lei em Campo.
Dados de uma pesquisa produzida em 2019 pela Ernst & Young, uma das maiores empresas de auditoria do mundo, mostram como grande parte dos jogadores de futebol recebem salários próximos do que a maioria dos trabalhadores brasileiros.
- Até R$ 1 mil – 55%;
- De R$ 1.001 a R$ 5.000 – 33%;
- De R$ 5.001 a R$ 50.000 – 9%;
- De R$ 50.001 a R$ 500.000 – 2%;
- Acima de R$ 500.000 – 0,1%.
Sim, podemos dizer que o jogador de futebol no Brasil tem o mesmo perfil da maioria dos trabalhadores: ele é pobre, trabalha muito, ganha pouco e enfrenta dificuldades diariamente.
Além disso, há outro agravante que poucas vezes é lembrado, inclusive por aqueles que deveriam se preocupar com o atleta: diferentemente da maioria das pessoas que trabalham em outras áreas, a carreira no esporte é mais curta, e o trabalho sazonal é a regra. Portanto, a aposentadoria é algo distante até do horizonte.
Na maioria das vezes, o jogador de futebol atua entre 10 e 15 anos, desse tempo consegue contribuir para o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) em três ou quatro anos no máximo. Ele para de jogar e não tem absolutamente nada, nem o consolo da aposentadoria. Dessa forma, muitas vezes ele precisa começar “do nada”, com seus 30, 35 ou 40 anos.
Como se não bastasse a péssima remuneração, os jogadores ainda precisam conviver com um problema que rotineiramente dá as caras: o preconceito. Dados do Observatório da Discriminação Racial no Futebol apontam que somente neste ano já são 57 casos de preconceito racial no Brasil, sendo apenas 12 em competições da Conmebol e 45 deles envolvendo apenas brasileiros.
“O número de denúncias que a gente tem em 2022 (até julho) está prestes a superar o ano inteiro de 2021. É um dado muito alarmante. A gente pouco tem feito no combate ao racismo. Cada vez que surge um caso desses a gente fala de punição e esquece que é preciso uma campanha de conscientização em todas as competições de futebol no Brasil, com informações sobre o racismo e maneiras de denunciar os autores”, afirma Marcelo Carvalho, diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
O último final de semana do futebol brasileiro foi recheado de casos de racismo nos estádios. Um desses repercutiu bastante e aconteceu na partida entre São Paulo e Fluminense, no Morumbi, pela Série A do Campeonato Brasileiro. O mesmo problema aconteceu em outras divisões: na Série B, no jogo entre Criciúma e Ponte Preta, e no confronto entre Brasil de Pelotas e Atlético-CE, pela Série C.
“Precisamos falar mais sobre o resultado que é o racismo no Brasil, nisso estamos falando da falta de pessoas negras nos espaços de poder e comando do próprio futebol. O futebol precisa dar o recado para a sociedade que não compactua com o racismo, mas não é da boca para fora, ele precisa trabalhar essas questões (em punições) e principalmente na educação e conscientização de jogadores e torcedores”, finaliza Marcelo Carvalho.
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