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Novos estudos reforçam tese que impactos repetitivos na cabeça causam doenças cerebrais degenerativas. Entidades esportivas precisam ligar alerta

Diante do aumento de diagnósticos de demência em ex-jogadores, diversos estudos sobre a concussão no futebol tiveram início nos últimos meses. No entanto, os resultados deles não são nada positivos. Novas pesquisas, realizadas pela Oxford Brookes University e outras 12 instituições acadêmicas, afirmam que encontraram “evidências conclusivas” de que impactos repetitivos na cabeça podem causar doenças cerebrais degenerativas, como a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC).

Em meio a esses resultados, os autores dessas pesquisas cobram entidades esportivas a adotarem medidas preventivas em suas modalidades para evitar que novos casos sejam desenvolvidos no futuro.

“Sabemos que uma determinada condição clínica ou doença pode ter múltiplos fatores causais. Com base nesse estudo, podemos dizer que a exposição à impactos repetidos na cabeça é um dos fatores causais relacionados a ETC. A discussão sobre abordagem e cuidados direcionados as concussões cerebrais no esporte é bastante atual em muitos esportes. Mas a discussão sobre a prevenção da ETC deve também ser iniciada pelas Federações Esportivas. Para isso, não bastaria apenas cuidar adequadamente dos casos de concussão mas também minimizar ou mesmo eliminar à exposição a impactos na cabeça no esporte, tanto em treinos quanto em jogos”, avalia Hermano Pinheiro, PhD, fisioterapeuta esportivo e neurofuncional.

De acordo com o jornal britânico ‘The Guardian’, uma equipe internacional de especialistas da área médica fez um apelo global para que seja feito mais esforços para combater a ETC, especialmente em crianças.

Neste mês, o Lei em Campo contou que a Federação Inglesa (FA) cogita proibir definitivamente o cabeceamento deliberado no futebol para crianças menores de 12 anos. A entidade que rege o esporte na Inglaterra conseguiu uma aprovação da IFAB (International Football Association Board), órgão regulador do futebol, para testar a nova regra em competições e ligas das categorias de base selecionadas a partir da próxima temporada.

Caso a medida tenha boas avaliações, a entidade solicitará à IFAB uma mudança permanente na regra para categorias abaixo do sub-12 na temporada 2023/24.

Recentemente, entidades norte-americanas publicaram estudos independentes apontando que atletas de esportes de contato tinham ao menos 68 vezes mais chances de desenvolver ETC do que aqueles que não praticam nenhuma atividade de contato.

“Esta análise inovadora nos dá a mais alta confiança científica de que impactos repetidos na cabeça causam ETC”, reforçou o médico Chris Nowinski, principal autor do estudo e executivo-chefe da Concussion Legacy Foundation.

“Os órgãos dirigentes do esporte devem reconhecer que os impactos na cabeça causam ETC e não devem enganar o público sobre a causa da ETC enquanto os atletas morrem e as famílias são destruídas por esta terrível doença”, acrescentou.

“Os impactos repetitivos na cabeça e ETC merecem reconhecimento na discussão global de saúde pública de distúrbios evitáveis ​​causados ​​pela exposição infantil em esportes de contato como futebol, rugby, hóquei no gelo e outros”, afirmou Adam White, professor sênior de ciências do esporte e treinamento na Oxford Brookes University e diretor executivo da Concussion Legacy Foundation.

A concussão passou a ser bastante discutida nos últimos meses por conta de sua gravidade e a constância que vêm acontecendo. O advogado e jornalista Andrei Kampff alerta para problemas jurídicos que grandes ligas do esporte podem enfrentar por conta das sequelas deixadas aos ex-atletas.

“Além da obrigação permanente de cuidar da saúde dos atletas, a situação traz um risco jurídico. A NFL já sofreu uma derrota bilionária não justiça, quando atletas ingressaram pedindo ressarcimento em função das sequelas proporcionadas pelas concussões. Isso trouxe aprendizado à força, e a NFL passou a investir mais na saúde dos atletas. A Fifa e o futebol também correm esse risco”, cita o colunista do Lei em Campo.

No ano passado, um grupo de ex-jogadores de rugby ingressou com uma ação judicial contra a RFL (Rugby Football League), órgão regulador desse esporte na Inglaterra, por considerar que a entidade não os protegeu dos riscos de danos cerebrais causados pela concussão.

Na época, o advogado especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo, Vinicius Loureiro disse que “se as entidades que dirigem o rugby falharam em proteger a integridade física dos atletas, devem ser responsabilizadas. Mesmo que tenham elaborado um protocolo, caso esse protocolo não tenha sido suficiente para evitar as lesões e seus reflexos de longo prazo, é possível que tenham sucesso na ação”.

NFL sofreu inúmeras ações

Devido a esses choques de cabeça, a NFL sofreu com uma avalanche de processos. Tudo teve início depois que o médico Bennet Omalu fez uma pesquisa profunda e concluiu que a doença degenerativa em vários ex-atletas de futebol americano, chamada ETC, havia sido causada pelos golpes que eles haviam recebido na cabeça durante suas carreiras.

Omalu passou a compartilhar seus dados com a NFL, que negou qualquer tipo de relação e os pedidos do médico por mais segurança aos atletas. No entanto, outros estudos reforçaram a tese da relação da concussão com a doença. Diante disso e entendendo ser vítimas de negligência da Liga, atletas recorreram à Justiça.

Baseada na ciência, a Justiça também entendeu que a NFL era responsável pela saúde dos atletas. A poderosa liga norte-americana chegou a pagar cerca de US$ 1 bilhão em processos e, então, finalmente decidiu criar novas regras de segurança, inclusive com o “Protocolo de Concussão”.

Como é no futebol?

O protocolo de concussão foi aprovado pela IFAB em dezembro de 2020. De acordo com a FIFA, a medida pretende “priorizar o bem-estar dos jogadores” ao evitar duas concussões seguidas dos atletas e reduzir a pressão sobre a comissão técnica no momento da avaliação em campo.

Apesar da aprovação, a medida ainda é pouca adotada nos principais campeonatos de futebol ao redor do mundo. Das grandes ligas da Europa, apenas a Premier League (Inglaterra) e a Liga NOS (Portugal) resolveram implementar o protocolo nas últimas temporadas.

Se comparado com outros esportes, podemos dizer que o protocolo do futebol para casos de concussão é muito superficial. Ele não combate o problema de maneira efetiva. Para isso mudar, é preciso fazer mudanças nas regras. A substituição temporária, para uma melhor avaliação do atleta que sofrer choque de cabeça, foi uma decisão importante, mas ainda muito pequena.

“Algo semelhante (ao o que aconteceu com a NFL) deve acontecer com o futebol em algum momento. A partir do momento que a regra do jogo não apenas ignora os riscos de choques de cabeça como faz com que sejam parte do jogo (e consequentemente da rotina de treinos), as entidades que regulam o esporte se expõem a esse risco”, finaliza Vinicius Loureiro.

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