Por Gabriela Messetti
Aos 38 anos, após a vitória dos Estados Unidos contra a África do Sul pelo placar de 2×0 e na presença de 25 mil pessoas, a atacante Megan Rapinoe se despediu da Seleção Nacional Feminina dos Estados Unidos.
Em 17 anos como atleta da Seleção Norte Americana, Rapinoe anotou 63 gols e 73 assistências em 203 jogos internacionais disputados pela seleção nacional, além de vencer duas copas do mundo, uma medalha de ouro nas Olimpíadas em 2012, uma medalha de bronze em 2020 e a Bola de Ouro em 2019.
Assim como as grandes conquistas dentro de campo, Rapinoe também realizou grandes feitos fora dele, se tornando referência de liderança em relação a igualdade de gênero e direitos sociais.
Em 2022, a atleta inclusive recebeu do governo norte-americano, como reconhecimento pelo trabalho realizado em prol da sociedade, a Medalha Presidencial da Liberdade, que é a maior condecoração que um civil pode receber no país, e se tornou a primeira jogadora de futebol a receber a honraria.
Ainda em 2022, um acordo histórico foi anunciado, entre a Associação de Jogadoras da Equipe Nacional Feminina dos Estados Unidos e a U.S. Soccer (Federação de Futebol dos Estados Unidos), que contou inclusive com Megan Rapinoe como porta-voz. Além do pagamento de uma indenização para as atletas, o legado da Seleção Nacional Feminina dos Estados Unidos foi, finalmente, reconhecido, e como consequência, a U.S. Soccer se comprometeu a igualar os pagamentos entre as seleções masculina e feminina, incluindo os prêmios recebidos em Copas do Mundo.
Em uma entrevista após o acordo, Rapinoe deixou claro que o intuito do pedido não se tratava apenas de salários iguais, mas de condições de trabalho igualitárias para as mulheres em geral, e ressaltou que o acordo era uma vitória gigantesca para o esporte feminino.
Um momento histórico para o futebol feminino, que colocou a federação norte-americana como pioneira na igualdade de pagamento de prêmios da Copa do Mundo entre as seleções masculina e feminina, abrindo espaço para novos movimentos das federações em busca do desenvolvimento do futebol feminino ao redor do mundo.
Além de todo o envolvimento junto a Associação das Atletas frente ao movimento “Equal Pay” (Pagamentos Iguais), a atleta também defende ativamente causas sociais relativas a igualdade racial e direitos LGBTQIA+, revelando que a luta pelas mulheres no esporte não se dá apenas dentro de campo, mas fora dele também.
Em suas próprias palavras: “Entendemos o que significa não ter de sacrificar quem você é e o que isso significa para seu desempenho em campo. Portanto, estou incrivelmente orgulhosa de tudo o que fizemos em campo. Obviamente, fomos uma geração de jogadoras muito especial, mas acho que diz muito sobre nós o fato de que tudo o que fizemos em campo parece insignificante em comparação com o que conquistamos fora dele”.
Sobre as mudanças que o futebol feminino passou ao longo dos anos desde a sua chegada, Rapinoe enfatizou: “Como trabalhamos para criar mais espaço para nós mesmos e lutar por igualdade para nós mesmos, acho que fizemos isso para outras pessoas também. Ver crianças e famílias vestindo a nossa camiseta é uma coisa maravilhosa. Acho que isso é algo de que todos nós temos muito orgulho. E todos nós sabemos, especialmente em nossa geração, o impacto que causamos e sabemos que é muito diferente de quando começamos.”
De fato o Futebol Feminino tem muito a agradecer a Rapinoe pela dedicação dentro dos gramados e especialmente fora deles, lutando incansavelmente pelos direitos das atletas e por melhores condições de trabalho para as mulheres no esporte.
A camisa 15 da Seleção ainda atuará por seu time OL Reign até a final da temporada antes de pendurar as chuteiras definitivamente.
Megan Rapinoe, que se tornou uma importante ativista, filantropa, ícone da moda e defensora da igualdade dos direitos sociais, se despede da Seleção Feminina dos Estados Unidos como uma das maiores jogadoras da história e deixa um legado extraordinário dentro e fora das quatro linhas.
Crédito imagem: Getty Images
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Gabriela Messetti – Advogada do Clube de Regatas do Flamengo. Mestranda em Direito Desportivo Internacional pelo ISDE Law & Business School. Integrante do Programa de Liderança Feminina da FPF.