O que você pensaria se uma liderança da organização onde trabalha declarasse publicamente que, em geral, reuniões com muitas mulheres levam mais tempo? E que os membros do sexo feminino dos conselhos de administração demonstram dificuldade em concluir suas intervenções, o que, na opinião dessa mesma liderança, seria irritante?
Se esse mesmo chefe concluir dizendo que, fugindo da regra, felizmente, as que trabalham com ele “sabem ficar em seu lugar”, isso te tranquilizaria ou te faria questionar se os caminhos que aquela empresa pretende trilhar incluem você?
Declarações sexistas como as acima expostas foram divulgadas recentemente pelo presidente do Comitê Organizador dos Jogos de Tóquio, Yoshiro Mori, o que gerou uma reação em cadeia em todo o mundo e exigiu uma tomada de decisão do Comitê Organizador dos Jogos de Tóquio que hoje se reúne para discutir tais afirmações.
Embora notas de repúdio estejam na moda, a renúncia do presidente Mori é o que se espera para logo, postura que apontaria um novo caminho, embora permaneçamos em estado de alerta quanto a tudo aquilo que ainda não nos foi dito. Quantos outros dirigentes acreditam que profissões tem gênero?
Como nos ensina Paulo Leminski, “haja hoje para tanto ontem”, mas de fato, ainda em 1996, a Carta Olímpica foi alterada para a inclusão de uma referência explícita ao papel do Comitê Olímpico Internacional quanto ao avanço esperado para as questões de gênero no esporte.
Há 25 anos, portanto, o Comitê Olímpico Internacional (COI) assumiu papel importante na promoção das mulheres no esporte olímpico tendo, mais recentemente estabelecido metas ambiciosas dentro da chamada Agenda 2020.
Não é um favor, é a constatação de que, no difícil contexto em que vivemos, a diversidade é um valor fundamental e que deve ser empregado como estratégia de negócios.
Reconhecer que os comentários recentes do presidente Mori sobre a organização dos Jogos de Tóquio 2020 foram inadequados é pouco se pensarmos que tais declarações são verdadeiras afrontas aos compromissos assumidos pela liderança do Comitê Olímpico Internacional por meio das reformas trazidas a cada ano.
Além de questionar publicamente as declarações machistas do presidente do Comitê de Tóquio, cabe ao COI orientar as organizações que formam o Movimento Olímpico no sentido de que possam alcançar os objetivos já traçados em prol do equilíbrio de gênero nas organizações e seus eventos.
Hoje 37,5% dos membros do COI são mulheres. A representação de mulheres no Conselho Executivo da entidade, atualmente, é de 33,3%. Mulheres representam 53% dos profissionais que atuam na atual administração do COI. Tais dados históricos chegam acompanhados de outras medidas, como o fato de que o COI autorizará e incentivará os 206 Comitês Olímpicos que pretendem participar dos Jogos de Tóquio e da sua Cerimônia de Abertura a terem suas bandeiras carregadas por 2 atletas, 1 homem e 1 mulher.
Na contramão do que imaginava Pierre de Coubertin quanto à participação de mulheres nos Jogos Olímpicos, a estimativa para os Jogos de Tóquio 2020 é de que 49% do total de atletas da competição sejam mulheres, de modo que a edição deste ano se tornaria a primeira com números que mostram caminhos além dos que hoje podemos ver: equilíbrio entre os gêneros como objetivo institucional e garantia de continuidade do negócio.
Profissões não tem gênero. Fica o registro.