O cenário competitivo de League of Legends – LOL – existe desde 2010, data em que o jogo, desenvolvido e publicado pela Riot Games, foi lançado. Trata-se de um arcabouço de ligas e regulamentos editados pela própria Riot, voltados a viabilizar, com regularidade, a competição de alto nível, interpessoal, entre equipes formadas por jogadores habilidosos, remunerados, cada qual ocupando uma posição diferente dentro da partida. Em brevíssima síntese, a estratégia é desenhada e aprimorada a partir de treinamentos teóricos, táticos e práticos, habitualmente ministrados por treinadores qualificados para tal, horas a fio.
Fazem parte do processo evolutivo e da campanha de qualquer equipe de sucesso, ainda, o mapeamento dos adversários (scouting), a análise de desempenho, também prestados por pessoas profundamente conhecedoras do jogo, bem como a adoção de práticas voltadas ao bem-estar físico e psíquico (managers, psicólogos, fisioterapeutas), vez que a rotina de treinos e jogos, durante a competição, costuma ser exaustiva e extremamente exigente em busca do altíssimo rendimento.
Ademais, dentro do sistema organizacional desportivo do LOL, a Riot categoriza em 13 (treze) “nacionalidades desportivas”, propriamente dizendo, 13 (treze) regiões aptas a sediar campeonatos nacionais de primeira categoria no cenário mundial de LOL. Portanto, cada uma dessas 13 (treze) regiões tem seu campeonato nacional próprio, organizado pela Riot Games ou por sua subsidiária direta local. São eles:
- Brasil – CBLOL;
- América Latina Sul – CLS;
- Europa – LCS EU;
- Sudeste Asiático – GPL;
- Coreia – LCK;
- Comunidade dos Estados Independentes – LCL (ex-países da União Soviética);
- Japão – LJL;
- América Latina Norte – LLN;
- Taiwan / Hong Kong / Macau – LMS;
- China – LPL;
- América do Norte – LCS NA;
- Oceania – OPL;
- Turquia – TCL.
Segundo critérios de ranqueamento, os melhores classificados nessas competições – o campeão brasileiro, o campeão europeu e os melhores times coreanos, dentre outros, por exemplo – têm direito de disputar o Mid Season Invitational, em maio, e o Mundial (Worlds) em outubro, ambos organizados pela própria Riot, sendo os dois mais importantes e cobiçados torneios do cenário.
Nessas 13 (treze) competições, os regulamentos são desenhados, ao máximo, para convergir para que o cenário se desenvolva de modo uniforme mundo afora. Assim, numa comparação grosseira, mas didática, desportivamente a Riot Games faz o papel que as Federações Internacionais têm no esporte tradicional. Edita regulamentos, impõe regras de registro e transferência de atletas, estabelece o piso da categoria, organiza e publica o calendário e, até mesmo, aplica as sanções disciplinares pelos descumprimentos regulamentares ou de regras de conduta no jogo.
Mas, uma das políticas que a Riot universalmente adota nos regulamentos dessas 12 (doze) competições, igualmente reproduzida nas superligas mundiais – MSI e Worlds – é bastante peculiar: o antialiciamento de atletas.
Referido em inglês como poaching ou, no CBLOL, como Política Interregional de Antialiciamento[1], o aliciamento de atletas é absolutamente proibido no cenário de primeira categoria do LOL (tier 1).
Via de consequência, quando há uma liga de desenvolvimento (Academy – popularmente referidas como tier 2), atrelada a uma das ligas tier 1, a proibição também é aplicável.
Entende-se por aliciamento a comunicação direta entre membros vinculados a uma equipe do cenário tier 1 ou tier 2 (quando houver), em qualquer liga mundial, com atletas que estejam inscritos por outra equipe em competições tier 1 ou tier 2, fora das janelas de transferências permitidas para tal. As janelas – períodos de registro – são divulgadas anualmente pela Riot em seu site e nos respectivos regulamentos e costumam ser uniformes em todo o mundo.
Elucidando, eis o que dispõe o artigo 10.2.12 do Regulamento do CBLOL:
“Aliciamento
Nenhum membro de equipe ou afiliado de uma equipe pode solicitar, ou fazer uma oferta de emprego a um membro de outra equipe que esteja competindo na Temporada 2022, ou encorajar o membro de uma equipe a terminar seu contrato com sua equipe atual (vide link no Anexo A).”
No mesmo sentido, versam os regulamentos da LCS (Liga Norte Americana) e da LEC (Europa):
- LCS NA
“14.4.9. No Poaching or Tampering. No Team Member or Affiliate of a Team may solicit,
lure, or make an offer of employment to any Team Member, nor encourage any such LCS Coach, LACS Coach or Player to breach or otherwise terminate a contract with said Team. An LCS Coach, LACS Coach or Player may not solicit a Team to violate this rule. An LCS Coach, LACS Coach or Player may express publicly their desire to leave their Team and encourage any and all interested parties to contact their management (i.e. a general statement aimed at the entire marketplace). But, to be clear, the LCS Coach, LACS Coach or Player may not entice a Team directly to reach out to their management or attempt to violate their contractual obligations (i.e. a Player cannot contact or callout a Team and suggest that They inquire about the Player). Violations of this rule shall be subject to penalties at the discretion of League Officials.
To inquire about the status of an LCS Coach, LACS Coach or Player from another Team, managers must contact the management of the Team that the Player and/or Coach is currently contracted with. The inquiring Team must provide visibility to League Officials before being able to discuss the contract with a Player.
Contract information for Players and Coaches can be found on the Global Contract Database.”
- (LEC)
“11.2.11. No Team Manager/Member or Affiliate of a Team may solicit, lure, or make an offer of employment to any official Team Member who is signed to any League Team, nor encourage any such Team Member to breach or otherwise terminate a contract with said League Team. A Team Member may not solicit a Team to violate this rule. A Team Member may express publicly their desire to leave the Team and encourage any and all interested parties to contact their Manager. But the Team Member may not entice a Team directly to reach out to their Team Manager or attempt to violate their contractual obligations. Violations of this rule shall be subject to penalties, at the discretion of League Officials. To inquire about the status of a Team Member from another Team, Team Managers must contact a Team Manager of the Team that the Team Member is currently contracted with.
The inquiring Team must provide visibility to League Officials before being able to discuss the contract with a Player. Contracts for Players can be found in the Global Contract Database.”
O descumprimento sujeita o infrator a penas severas, como a suspensão por tempo (entre 5 e 15 meses de competição)[2], podendo ser acrescida de multa pecuniária[3], aplicadas pelos comissários regionais da Riot Games a depender do caso concreto.
Vale dizer, também, que não importa se o atleta é assistido por agente ou representante particular. A comunicação de uma equipe com atleta de outra é absolutamente vedada, exceto se dentro das janelas de transferências ou se devidamente autorizada pela equipe detentora do vínculo desportivo, isto é, do contrato registrado junto à Riot Games.
Ditas proposições visam, com clareza, trazer estabilidade às competições e, notadamente, preservar a competitividade de seus integrantes. Limitar, de certa forma, o poderio econômico e buscar a oferta ao público consumidor um produto mais sólido e crescente – logo, mais rentável – também pode estar na ratio por trás de aludidas proposições. Interessante seria, de qualquer modo, debater a eventual extensão das regras de antialiciamento – se é que viável assim pensar – ao esporte tradicional.
Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo
[1] Disponível em: https://news-a.akamaihd.net/public/riot-bra/esports/lolesportsbr/agosto-2015/POL%C3%8DTICA%20INTERREGIONAL%20DE%20ANTIALICIAMENTO%20E%20ANTIADULTERA%C3%87%C3%83O.pdf. Acesso em 10 mar 23.
[2] eSports Global Penalty Index – League of Legends – em inglês. Disponível em: <https://esports-assets.s3.amazonaws.com/production/files/rules/Esports_Global_Penalty_Index.pdf>. Acesso em 10 mar 23.
[3] Anexo A – Regulamento CBLOL 2022 – Disponível em: <https://assets.contentstack.io/v3/assets/bltad9188aa9a70543a/bltfd87a2866b93c01f/61b9eee6abe5293e657808f8/CBLOL_2022_-_Lista_de_Penalidades.pdf>. Acesso em 10 mar 23.
