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O dia em que o Valencia saiu de campo em protesto contra o racismo

Mais do que palavras, atitudes são decisivas no combate ao preconceito, na vida e no futebol. Da Espanha veio um exemplo. A reação de Vinícius Jr após sofrer injúria racial – jogador mais uma vez se viu agredido em ambiente de trabalho – desencadeou uma série de manifestações contra o preconceito pelo mundo.

Mas, apesar dele, os jogadores Real Madrid perderam a oportunidade de repetir um gesto feito pelos jogadores do…. Valencia em 2021. Isso mesmo, o time cuja torcida cometeu crime de racismo teve um jogador vítima de preconceito.

Revoltados, de maneira corajosa, todos os jogadores do Valência abandonaram  o campo.

Foi no dia 4 de abril de 2021, um domingo.

O árbitro espanhol David Medié Jimenez relatou na súmula do jogo entre Valência e Cádiz que o zagueiro Juan Cala, do Cádiz, teria chamado o também defensor Mouctar Diakhaby, do Valencia, de “negro de m?”.

(Daiakhaby só não estava em campo no jogo em que Vini Jr foi ofendido porque estava suspenso)

Poderia ser mais um triste caso de injúria racial no esporte, mas esse foi diferente. O jogo ficou marcado pelo abandono de campo do jogador francês, que teve a solidariedade de seus colegas de time.

Um protesto forte, significativo e eficiente de combate ao preconceito.

Após 24 minutos, o time voltou a campo, mas sem Diakhaby, que foi substituído.

O Valencia decidiu voltar por medo de ser punido, mesmo com a orientação da FIFA de não punir clubes que sofrerem atos discriminatórios, além de falar também em suspensão do jogo no caso de episódios dessa natureza.

A atitude dos jogadores repercutiu, com vários atletas e clubes de diferentes partes do mundo (como o Vasco) também se posicionando e combatendo o preconceito.

As pessoas têm dificuldade em enxergar preconceito – lógico que aqui me refiro as pessoas que não são atingidas por ele. Por isso existe uma grande tendência das pessoas de diminuir, contemporizar, colocar na conta da “brincadeira’.

Uma lição básica: preconceito existe quando atinge alguém que sofre com um determinado comportamento, que sente – e sofre – com a força de uma postura carregada de preconceito.

Em 2020, duas situações parecidas também chamaram a atenção, mostrando uma nova postura dos atletas no combate ao preconceito.

O jogo entre o Paris Saint Germain e o Istambul pela Champions League foi suspenso devido a um ato racista do quarto árbitro contra o Pierre Webo, membro da comissão técnica da equipe turca.

Antes disso, em um jogo numa liga norte americana, o time do San Diego Loyal abandonou o campo em forma de protesto na partida contra o Phoenix Rising, após um jogador adversário proferir comentários homofóbicos contra o meio-campista Collin Martin.

Essas posturas contrariam um histórico de passividade do esporte.

O futebol até endureceu a política de combate ao preconceito

Estatuto, Código Disciplinar e política de DH da FIFA apresentam o caminho inegociável do esporte. Mas o direito só ganha força quando efetivo.

O futebol não tem dado o exemplo de um combate efetivo ao problema do racismo. São muitos os casos de racismo em gramados pelo mundo, e poucos os exemplos de punição do esporte.

A história mostra que penas financeiras não têm ajudado a diminuir os crimes de injúria racial. É preciso ser mais rigoroso, e punir o clube também esportivamente.

A reação – ação – dos atletas é fundamental para isso.

Movimento esportivo tem papel de destaque na defesa de causas sociais

O apoio à diversidade tem sido uma batalha de vários movimentos ao redor do planeta. Influenciadores, artistas e atletas se manifestaram de diversas maneiras sobre a importância do respeito às diferenças e da necessidade de inclusão.

O movimento de combate ao preconceito racial ganhou força depois do assassinato do negro #GeorgeFloyd, e a mobilização que começou nos Estados Unidos e tomou conta do mundo também repercutiu no esporte. Patrocinadores, coletivos internacionais e atletas se posicionaram de maneira rara, combatendo preconceito e cobrando mudanças.

Esse movimento mostrou a força que os atletas têm, e desconhecem ter. Eles fazem parte da cadeia associativa do esporte. E, por isso, precisam ter voz nas discussões, inclusive sobre regras.

O esporte sempre foi um catalisador de transformações sociais pelo mundo. Ele ajudou na luta contra o racismo, contra a discriminação aos mais pobres, até na abertura democrática brasileira durante os anos da ditadura.

O silêncio compactua com o absurdo.

O exemplo dos jogadores do Valencia lá em 2021, e antes do San Diego Loyal e do PSG, estão aí, inclusive para os companheiros de Vinícius Junior.

A CBF entrou firma na briga contra o preconceito. O slogam é claro: Com Racismo Não tem Jogo.

As leis, as regras e as palavras estão aí, agora é colocar em prática uma efetiva ação de combate ao preconceito.

Crédito imagem: ESPN

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