Por Elthon Costa e Rafael Ramos
Quando o UFC fez parceria com a Agência Antidoping dos Estados Unidos (USADA) em 2015, após uma série de testes reprovados, a medida foi amplamente elogiada pelos lutadores da promoção. Passados alguns anos, porém, as polêmicas se acumularam.
O ex-campeão meio-pesado Lyoto Machida deixou o UFC em 2018 e assinou com a promoção rival Bellator MMA após episódio questionável com a USADA. No caso dele, o carateca admitiu fazer uso de uma substância proibida, o 7-keto-DHEA.
Em abril de 2016, Machida assumiu ter ingerido a substância proibida em seu período de treinamentos para o UFC Tampa (EUA), onde enfrentaria Dan Henderson. Apesar do fato de Machida ter divulgado voluntariamente o uso, e embora a WADA acredite que o DHEA não tenha efeitos de melhoria de desempenho em atletas do sexo masculino, ele recebeu uma proibição enorme de 18 meses, só retornando a partir de outubro de 2017.
Em sua autobiografia[1], Lyoto narra a forma como lidou com a questão junto à USADA:
O tempo passou e chegou a semana da luta, que aconteceria num sábado. Porém, na quarta-feira, recebi uma notificação da Agência Antidoping dos Estados Unidos me suspendendo da competição. Quando recebi a notícia, fiquei confuso. Sempre fui muito honesto em relação à suplementação que consumia, prezando pelo nome da minha família, pela imagem do meu pai e pela carreira que eu mesmo havia construído. Foi justamente essa honestidade que causou minha suspensão. Em uma visita surpresa da Agência Antidoping à minha casa, eu havia mostrado a eles tudo o que estava consumindo. Entre os suplementos, havia um receitado pelo médico para regular os meus níveis de estresse, o DHEA. No entanto, eu não sabia que esse suplemento havia entrado na lista dos itens vetados pela Agência havia poucos anos. Por se tratar de um produto bastante comum nos Estados Unidos, facilmente adquirido em qualquer farmácia ou supermercado, nem me ocorreu a possibilidade de ele ser proibido pela Agência Antidoping. Uma vez que é tão acessível, a Agência elaborou um protocolo de exames específico para localizar determinadas substâncias em meu sangue. Fizeram entre dois e três exames, mas os resultados foram controversos. Por isso, optaram pela suspensão.
Porém, apesar do teste positivo, a mesma USADA autorizou o campeão Jon Jones a lutar contra Alexander Gustafsson no UFC 232[2] – depois que a promoção transferiu todo o card de Las Vegas para a Califórnia com alguns dias de antecedência para permitir que ele competisse – e concedeu licença em Nevada para lutar contra Thiago Santos na luta principal do UFC 235 em Las Vegas no dia 6 de julho de 2019.
Na época, o UFC 232 estava marcado para acontecer em Las Vegas (EUA), mas, como Jones não conseguiria regularizar sua situação a tempo para lutar no estado de Nevada, todo o card foi alterado às pressas para a cidade de Los Angeles (EUA). Na ocasião, foi dito que as substâncias encontradas na urina de Jones eram restos da dosagem flagrada no último caso envolvendo o então campeão, em 2017, quando o norte-americano foi suspenso por 15 meses.
Vários lutadores e fãs criticaram o UFC, a USADA e as comissões atléticas por permitirem que Jones competisse mesmo quando ele estava tecnicamente falhando nos testes de drogas. O polêmico lutador Colby Covington[3] chegou a acusar a USADA de ter “interesse financeiro” na atuação de Jones no UFC.
Polêmica também foi a forma como a Comissão Atlética de Nevada lidou com o caso de “fuga de exame” do lendário Wanderlei Silva[4]. A comissão, apenas em 2016, reduziu a suspensão de Silva para três anos e apagou a multa de US$ 70.000 aplicada contra ele. Silva havia recebido inicialmente uma suspensão vitalícia e uma multa de US$ 70.000 pela comissão por evitar um teste de drogas aleatório antes de uma luta planejada com Chael Sonnen no UFC 175 em 2014.
Parte do trabalho da USADA é determinar o grau de culpa que um atleta carrega por ter uma substância proibida em seu sistema. A punição padrão para violações pode ser reduzida – às vezes drasticamente – se um lutador for capaz de mostrar que não trapaceou intencionalmente. Os executivos do UFC ainda acreditam que o programa é forte o suficiente para pegar aqueles que estão tentando trapacear. Para aqueles que não são, eles reconhecem[5] que mais concessões precisam ser feitas.
Crédito imagem: UFC
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Elthon Costa é advogado trabalhista e desportivo. É Sócio-Diretor Trabalhista e Desportivo no Todde Advogados e Membro da Diretoria e Pesquisador do Grupo de Estudos e Desporto São Judas (GEDD-SJ) e da Comissão de Direito Desportivo da OAB/DF e da Comissão de Direito Desportivo da OAB/SP Subseção de Osasco. @elthoncosta
REFERÊNCIAS
CRUZ, Jason J. Mixed Martial Arts and the Law: Disputes, Suits and Legal Issues. 1ª. ed. North Carolina, EUA: McFarland & Company, Inc., Publishers, 2020. 212 p. ISBN 978-1-4766-7930-3.
[1] MACHIDA, Lyoto. O código do dragão: Descubra os 7 valores Samurai para conquistar a vitória. 1ª. ed. [S. l.]: Academia, 2020. 176 p. ISBN 978-6555351064. p. 8
[2] CRUZ, Guilherme. Lyoto Machida: USADA lost 'a bit of credibility' after Jon Jones' 'picogram' case. In: MMA FIGHTING, Site, apr 8. 2019. Disponível em: https://www.mmafighting.com/2019/4/8/18297369/lyoto-machida-usada-credibility-jon-jones-picogram. Acesso em 26 mai. 2022.
[3] ORDONEZ, Milan. Covington: Jon Jones and ‘scumbag’ team are trying to pay off UFC and USADA for earlier return. In: BLOODY ELBOW, Site, jul 18. 2018. Disponível em: https://www.bloodyelbow.com/2018/7/18/17584450/ufc-colby-covington-jon-jones-scumbag-team-pay-off-usada-earlier-return-mma-news. Acesso em 26 mai. 2022.
[4] OKAMOTO, Brett. Wanderlei Silva gets three-year ban. In: ESPN, Site, fev 17. 2016. Disponível em: https://www.espn.com/mma/story/_/id/14794755/wanderlei-silva-suspended-three-years-nevada-state-athletic-commission. Acesso em 26 mai. 2022.
[5] OKAMOTO, Brett. UFC: Doping violations to be announced only after case fully resolved. In: ESPN, Site, set 28. 2018. Disponível em: https://www.espn.ph/mma/story/_/id/24825931/ufc-changes-anti-doping-policy-discussing-more. Acesso em 25 mai. 2022.